06 Dezembro 2016
Em sua fala no Fórum Social promovido pela Fortune e pela Time no sábado, o Papa Francisco convocou os diretores executivos a reunir esforços para construir uma economia mais justa: "deem voz àqueles que vocês procuram ajudar, ouçam suas histórias, aprendam com as suas experiências e compreendam suas necessidades".
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 03-12-2016. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
O Papa Francisco fez um pedido aos empresários mais poderosos do mundo para que trabalhassem em prol de um modelo econômico mais inclusivo e justo, não apenas para os pobres, mas com eles, personificando os mais necessitados.
"Rezo para que vocês reúnam esforços e deem voz àqueles que vocês procuram ajudar, ouçam suas histórias, aprendam com as suas experiências e compreendam as suas necessidades", disse Francisco, no sábado.
"Vejam neles irmãos e irmãs, filhos e filhas, mães e pais. Em meio aos desafios atuais, enxergam a humanidade de quem vocês procuram ajudar".
O Papa falou aos participantes do Fórum Social Fortune-Time, que ocorreu em Roma nos dias 2 e 3 de dezembro. A lista VIP de participantes, representando as organizações sem fins lucrativos e corporações, inclui Ginni Rometty, da IBM; Darren Walker, da Ford; Yang Yuanqing, da Lenovo; Richard Branson, do grupo Virgin; Cathy Engelbert, da Deloitte; Hugh Grant, da Monsanto e Fisk Johnson, da SC Johnson & Son.
Embora o fórum tenha sido em um hotel de Roma, Francisco recebeu o grupo no Palácio Apostólico do Vaticano no sábado pela manhã, onde agradeceu por promoverem a "centralidade e a dignidade da pessoa humana" dentro de suas instituições e de seus modelos econômicos, e por atentarem "para a situação dos pobres e refugiados, tantas vezes esquecidos pela sociedade".
Quando as vozes de tanta gente são ignoradas, disse o Papa, não somente os "direitos e valores dados a eles por Deus" são negados, como também "sua sabedoria é rejeitada, e seus talentos, tradições e culturas são impedidos de serem oferecidos ao mundo".
Impedir os pobres e marginalizados de fazerem parte da solução causa-lhes ainda mais sofrimento, segundo o Papa, de forma que os que podem ajudá-los ficam empobrecidos, "não só materialmente, mas moral e espiritualmente".
Em seguida, Francisco disse que, em um mundo marcado por "tanta turbulência", onde as desigualdades só aumentam, muitas comunidades são afetadas pela guerra, pela pobreza, pela migração e por deslocamentos. Contudo, "as pessoas querem ser ouvidas e querem expressar suas preocupações e angústias".
Os marginalizados, argumentou o pontífice, "querem contribuir devidamente com suas comunidades locais e com a sociedade em geral, além de também usufruir dos recursos e do desenvolvimento que muitas vezes ficam reservados para alguns poucos afortunados".
No entanto, de acordo com o Papa, o estado atual de "turbulência" também é um momento de esperança: "quando finalmente reconhecermos o mal, podemos providenciar a cura através do remédio certo. Sua presença aqui hoje é um sinal dessa esperança, pois demonstra um reconhecimento dos problemas que estamos enfrentando e da necessidade de agir de maneira decisiva."
O Papa também disse que a conversão institucional e pessoal é necessária, promovendo "uma mudança de atitude", priorizando a humanidade, as culturas, as crenças religiosas e as tradições.
Esta renovação, ele acrescentou, não implica apenas em mudar economias de mercado e melhorar infraestrutura.
"Não, estamos falando do bem comum da humanidade, do direito de todos de desfrutar dos recursos deste mundo e de oportunidades iguais para explorar o seu potencial, baseado, fundamentalmente, na dignidade dos filhos de Deus, criados à sua imagem e semelhança."
Após sua fala, o Papa Francisco cumprimentou cada um dos participantes.
Não é a primeira vez que Francisco demanda o empoderamento dos marginalizados como forma de combate à desigualdade social. Em reuniões de movimentos populares promovidas pelo Vaticano, os discursos do Papa, que ficaram famosos, muitas vezes recorreram aos movimentos sociais para lutar por uma distribuição da riqueza mais igualitária.
Em um desses encontros, em 2015, durante a sua visita à Bolívia em um tour pela América Latina, Francisco declarou que a justa distribuição de renda não é praticar "mera filantropia", mas dar aos pobres "o que lhes é de direito".
Ele também declarou-se contrário aos programas de distribuição de renda, considerando-os "respostas temporárias" para situações de emergência, mas que jamais substituiriam uma verdadeira inclusão.
Entre os participantes do fórum estava o cardeal Peter Turkson, prefeito do novo dicastério do Vaticano para o Desenvolvimento Humano Integral.
Turkson, um cardeal de Gana, tem sido o braço direito de Francisco em questões de igualdade econômica. Ele participou, por exemplo, de uma conferência sobre investimento responsável, organizada por seu Conselho e pela Catholic Relief Services em junho passado.
Sua apresentação no fórum, considerada um "chamado à ação", foi uma conversa com Charlie Rose, apresentador de um programa de entrevistas. Nesse programa, levantou-se a questão de que enquanto o liberalismo trouxe prosperidade e liberdade econômica para bilhões de pessoas, outros milhões foram deixados de lado.
Quando Rose comentou que um bilhão de pessoas saíram da pobreza extrema nos últimos anos, Turkson respondeu que, por mais que seja verdade, a desigualdade também aumentou.
Seu desafio era de que os quase cem diretores executivos presentes no fórum elaborassem formas criativas de fazer negócios para que a saída de pessoas da pobreza não significasse um aumento da desigualdade.
Em sua fala no fórum, nessa sexta-feira, Turkson também pediu que os líderes empresariais se reconhecessem como "cocriadores e parceiros de Deus".
"Deus criou uma árvore", disse Turkson. "Ele não criou móveis. É isso que nós [da Igreja] acreditamos que as corporações representam: parceiras de Deus na criação".
Ele apelou aos empresários por uma "visão mais holística do negócio e suas atividades", colocando o bem-estar da pessoa humana, e não os lucros, no centro de suas estratégias.
O vídeo da entrevista de Turkson está disponível na íntegra no site da Fortune.
Adam Lashinsky, editor da revista Fortune, escreveu que Francisco foi quem convocou o encontro: "O Papa pediu que convidássemos um grupo de líderes empresariais para ajudá-lo em uma de suas principais missões: amenizar a pobreza global".
Lashinky considerou "controversa" sua tarefa de reunir um grupo de altos executivos cujo foco é geralmente ganhar dinheiro para sugerir de que maneira quem tem pouco pode ter "um pouco mais".
No entanto, como a pessoa que liderou, na conferência, um grupo sobre tecnologia e inovação como estímulos ao emprego disse: "mais do que nunca, neste momento de turbulência política global, é fato que as empresas não têm como progredir se os consumidores, atuais e futuros, não estão progredindo também".
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Papa diz aos empresários: se querem ajudar os pobres, empoderem-nos! - Instituto Humanitas Unisinos - IHU