02 Setembro 2016
Em meio à crise, pesquisa do Dieese comprova algumas máximas sindicais e alerta para sérios riscos de propostas do governo Temer.
Cayres (ao microfone) destaca os efeitos deletérios da Lava Jato. Foto: Roberto Parizotti. Fonte: CUT.
A reportagem é publicada por Isaías Dalle e publicada pelo portal da CUT, 01-09-2016.
A mais nova versão do já tradicional balanço das negociações salariais do primeiro semestre foi anunciada nesta quinta pelo Dieese. Os resultados, como já se podia prever, são piores do que anos anteriores, em função da crise.
Os números ruins confirmam algumas máximas sindicais.
Um dos gráficos mostra que o resultado das negociações é o pior desde 2003. “Isso é reflexo da volta às medidas neoliberais que predominaram até 2002”, analisa João Cayres, secretário-geral da CUT-SP. Ou seja, os números da pesquisa Dieese indicam que corte de investimentos e restrição fiscal sufocam a economia, comprovando que o Estado tem de desempenhar o papel de indutor do desenvolvimento.
Outro dado que chama a atenção é que o único setor de atividade em que todas as negociações salariais ficaram abaixo da inflação é o de processamento de dados, onde predomina a terceirização. “É de fato um setor altamente terceirizado”, concorda José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de Relações Sindicais do Dieese. “Além disso, é um setor onde há muitas empresas pequenas”.
O movimento sindical tem insistido, ao longo dos últimos anos, que os trabalhadores e trabalhadoras terceirizados têm salários, em média, 27% inferiores aos trabalhadores diretos, segundo estudos do próprio Dieese. A maioria do atual Congresso Nacional e o Temer querem a terceirização sem limites.
O balanço apresentado hoje também mostra que a negociação por categoria – a chamada convenção coletiva – obtém salários melhores que as negociações diretas com empresas – os chamados acordos coletivos.
Portanto, confirma-se a tese de que sindicatos fortes que representem todas as profissões que compõem determinado ramo de atividade conseguem resultados mais efetivos. A CUT planeja ampliar essa estratégia, promovendo campanhas unificadas entre diferentes categorias. “Isso serve de estímulo para que a CUT invista cada vez mais nessa ação”, avalia Cayres.
Outra interpretação possível para esses dados aponta para o perigo que a proposta do “negociado sobre o legislado”, defendida por Temer, representa para os trabalhadores e trabalhadoras. Segundo essa proposta, negociações diretas com os patrões teriam mais força do que a legislação trabalhista.
O Dieese analisou 304 campanhas salariais. No primeiro semestre de 2016, apenas 24% obtiveram aumentos acima da inflação. 37% empataram com a inflação e 39% perderam para a inflação do período anterior.
Na média de todas as campanhas, o índice ficou 0,50% abaixo da inflação medida pelo INPC-IBGE.
Das convenções coletivas – campanhas por setor - , 25% delas tiveram aumento real, contra 15,4% dos acordos coletivos – por empresa. A imensa maioria das campanhas salariais analisadas pelo Dieese é fechada por convenção coletiva (291 contra 13).
Cayres alerta que há um fator importante para a queda do emprego e o enfraquecimento das campanhas salariais que vem sendo ignorado pela mídia corporativa. “Mais do que o ajuste fiscal, que nem chegou a ser implementado, a forma como é conduzida a Operação Lava Jato está quebrando empreiteiras, paralisando o setor de construção, gás e petróleo e isso contamina toda a economia”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Dieese: terceirizado ou quem negocia por empresa ganha menos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU