30 Junho 2016
Aos vinte anos de idade, Stephen Hawking teve pela primeira vez a sensação de que estava doente, sem saber do quê. Os médicos não sabiam muito o que fazer. “Nunca me disseram o que eu tinha, embora eu intuísse que era algo muito grave. Disseram que não havia nada a fazer”, contou o físico nesta quarta-feira, em Tenerife (Espanha), diante de uma sala lotada à qual chegou escoltado por seus assistentes médicos e dois policiais, em meio a aplausos intensos.
A reportagem é de Nuño Domínguez, publicada por El País, 29-06-2016.
O ponto de inflexão de sua vida foram os dias em que os médicos não sabiam o que fazer e até mesmo o aconselharam a parar de beber cerveja para não correr o risco de ter quedas, cada vez mais frequentes devido à sua doença neuro-degenerativa. “Eu não sabia se iria viver o suficiente nem mesmo para concluir a minha tese”, confidenciou, com sua voz robótica característica. “Inicialmente, caí em uma depressão profunda”, mas logo ele acelerou a realização de seu trabalho e “cada dia significava um presente; enquanto há tempo, há esperança”, enfatizou.
O cientista fez um jogo de palavras com seu livro mais conhecido para narrar “Uma breve história de minha vida”, título de sua primeira palestra no festival Starmus, que se realiza ao longo destes dias em Tenerife. Este ano, o evento reúne na ilha de Tenerife 12 Prêmios Nobel e sete astronautas de diferentes gerações. Conta com a presença de cerca de 800 participantes de 12 países, com a sua estranha mistura de música, astronomia e palestras de algumas das mentes mais brilhantes do planeta, que, desta vez, se reuniram para homenagear Hawking.
Os buracos negros não são tão negros como pensávamos
O físico britânico contou que sua história pessoal transcorreu paralelamente ao surgimento e à con-solidação da cosmologia como disciplina voltada à compreensão das questões mais essenciais do Universo. Uma das maiores realizações de Hawking foi a sua proposição de que o Universo não tem começo nem fim, o que significa dizer que a questão da criação, a possível necessidade de que haja um Deus para justificá-la, está totalmente descartada. Esse conceito foi desenvolvido em seu livro mais popular, Uma Breve História do Tempo, um dos maiores best-sellers na área científica. “Nunca imaginei que fosse ter tanto sucesso nem sequer que alguém fosse entendê-lo completamente, mas apenas conseguir fazer com que as pessoas entendessem que vivemos em um universo governado por leis racionais e que podem ser descobertas e compreendidas”, afirmou, perante uma plateia silenciosamente devota.
Outra de suas importantes contribuições foi a descoberta de que “os buracos negros não são tão negros como imaginávamos”. Se tudo que cai em um desses monstros do cosmos se perde, como acreditavam muitos cientistas, seria impossível conjugar a relatividade com a mecânica quântica, as leis do “infinitamente pequeno”, como as partículas ao redor de um buraco negro. “Minha solução para este problema foi que a informação não se perde ao cair em um buraco negro, mas sim, ao cair, não retorna em um formato utilizável”, disse. “É como se você queimasse uma enciclopédia. A informação não se perde, mas fica muito difícil lê-la”, brincou.
Uma nova teoria
Aos 74 anos de idade, Hawking continua pesquisando, junto com seus colegas da Universidade de Cambridge, em busca de uma “nova teoria para explicar a mecânica de como a informação retorna dos buracos negros”. Pode ser que em breve ele avance na resolução desses problemas a partir de seu novo escritório no Instituto de Astrofísica das canárias, um dos poucos centros de pesquisa do mundo que tiveram sua proposta de colaboração científica aceita pelo físico. Ele também destacou que projetos científicos, como o Planck e o LISA poderão avançar muito mais nos próximos anos, por exemplo, confirmando a teoria da inflação do universo, que ele defende, ao contrário de seu velho colega Roger Penrose, que estava presente à palestra, sentado na fileira dos convidados especiais.
O cientista fez também uma defesa da exploração espacial, como recurso relacionado á própria sobrevivência da espécie humana. “Não acredito que viveremos mais 1.000 anos sem sermos obrigados a deixar este planeta para procurar algum outro, por isso tento fazer com que as pessoas se interessem mais pelo universo”, afirmou.
“Foi uma época gloriosa para se viver” e “realizamos em grande progresso nos últimos 50 anos na nossa compreensão do universo”, destacou Hawking.
Criança, ele esteve próximo da morte, quando vivia em um bairro próximo de Londres atingido pelos bombardeios alemães. Sobreviveu a uma doença que o deixou sem voz. Sua mente ainda funciona a toda velocidade, mas ele só consegue reunir poucas palavras por minuto, com o computador especial que utiliza. Mas sempre soube superar tudo isso. “Meu conselho é que vocês sempre se lembrem de olhar para cima, para as estrelas, e não para os seus pés”. “Procurem encontrar o sentido daquilo que veem, sejam curiosos. Quaisquer que sejam as dificuldades existentes em suas vidas, há sempre algo em que se pode triunfar. Nunca se rendam”.
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Hawking: “Não acredito que viveremos mais 1.000 anos sem ter que deixar este planeta” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU