05 Fevereiro 2016
O Brasil mobilizou para a rua neste Carnaval 522 mil pessoas para operações de fumigação de insecticida para tentar acabar com o mosquito que transmite o vírus Zika, quando se avolumam os motivos de preocupação: o vírus pode transmitir-se em transfusões de sangue de pessoas infectadas, confirmou o Departamento de Saúde de Campinas, uma cidade nos arredores de São Paulo.
A reportagem é de Clara Barata, publicada por Público, 04-02-2016.
Depois da confirmação de que o vírus se pode transmitir por via sexual – como aconteceu no Texas, em que uma pessoa que esteve na Venezuela transmitiu a doença ao seu parceiro sexual –, chega agora a confirmação de outra suspeita. Um homem que recebeu várias transfusões sanguíneas em Abril de 2015 por ter ferimentos de bala foi infectado com Zika, revelou o secretário municipal de Saúde, Carmino de Souza.
Mas a falta de um teste específico para o Zika não permitiu descobrir logo a infecção. O dador não tinha sintomas da doença normalmente transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti, e, quando os teve, pensou que tinha dengue. Só se percebeu que havia algo de muito errado com o doente que estava internado na unidade de cuidados intensivos quando as análises revelaram uma diminuição das plaquetas, explica O Globo. O doente acabou por morrer devido aos seus ferimentos e não por causa do Zika.
A primeira análise específica para o Zika só foi criada a 28 de Janeiro deste ano, explica a Reuters.
Perante estes novos dados, o Ministério da Saúde brasileiro reforça a indicação de que os bancos de sangue não recebam doações de pessoas que tenham estado infectadas com Zika até 30 dias depois de terem recuperado da fase activa da infecção. A Cruz Vermelha Americana já esta semana tinha pedido a potenciais dadores de sangue que tivessem visitado zonas onde a doença está que esperassem 28 dias até fazerem a dádiva – e, se desenvolverem sintomas até 14 dias depois de terem dado sangue, que alertem os serviços onde o fizeram, para que seja posto em quarentena.
Vários outros países estão a impor restrições deste género – o Canadá foi o último a anunciá-las, esta quinta-feira. Viajantes canadianos que regressem das zonas mais em risco devem esperar 21 dias, após o regresso, para poderem dar sangue, para evitar o risco de transmissão do Zika.
Os festejos de Carnaval serão um momento de grande risco de transmissão do vírus pelo mosquito, que ao contrário de outros gosta de viver junto dos seres humanos e tem-nos como vítimas preferidas da sua picada. Só no Rio de Janeiro são esperados 100 mil foliões, diz O Globo. Sérgio Cimerman, presidente da Sociedade Brasileira de Doenças Infecciosas, afirmou ao jornal britânico The Independent que o Carnaval pode vir a ser “um cocktail explosivo” para o alastrar do vírus, não só no Brasil como por todo o planeta.
“Vai haver grandes concentrações de pessoas com pouca roupa, que se vão esquecer de pôr repelente de insectos, o que facilita a picada dos mosquitos. E é provável que chova, o que, combinado com a acumulação de lixo nas ruas, facilita a reprodução dos mosquitos Aedes. O Carnaval pode tornar-se o cocktail ambiental explosivo que acelera a dispersão do vírus Zika”, disse o virologista ao jornal britânico.
A confirmarem-se as previsões mais pessimistas do especialista em doenças infecciosas, os piores prognósticos são para as mulheres grávidas – cujos filhos podem nascer com malformações cerebrais severas. Os casos de microcefalia no Brasil dispararam de 150 em 2014 para mais de 4000 nos últimos três meses.
Outra sequela do vírus é a síndrome de Guillain-Barré, que se caracteriza por uma fraqueza muscular que começa nas pernas e vai subindo pelos braços, e que é de intensidade variável, explica a Fundação Oswaldo Cruz num site dedicado ao Zika: tanto pode caracterizar-se por uma leve incapacidade de movimentos, como pela completa e total paralisia dos membros, da face, da musculatura da deglutição, da voz e dos músculos respiratórios. Em 10% a 30% dos casos haverá paralisia respiratória e o paciente precisará de ventilação artificial.
Há muito que não se sabe sobre o vírus Zika e os males que provoca no corpo humano. Por ora, o mais seguro mesmo é tentar evitar ser picado.
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Carnaval pode vir a ser “um cocktail explosivo” para o alastrar do vírus Zika - Instituto Humanitas Unisinos - IHU