Por: Jonas | 02 Fevereiro 2016
Os poderes espirituais são planetários, mas quando esse poder se encarna em um Estado, o Vaticano, e esse Estado faz desse poder uma arma diplomática, então a espiritualidade se torna um ator central dos destinos do mundo. Essa é a demonstração rigorosa e magistral que a ensaísta e vaticanista francesa Constance Colonna-Cesari apresenta em um livro que acaba de ser lançado na França, ‘Dans les secrets de la diplomatie vaticane’ (Nos segredos da diplomacia vaticana), publicado pelo importante Editorial du Seuil. O livro é, a seu modo inédito e global, uma contribuição indispensável para a compreensão e o conhecimento da ação internacional de um dos menores e mais secretos Estados do mundo e, também, um dos mais envolvidos em cada região do planeta.
Fonte:http://goo.gl/8nqrnF |
Escrito com uma brilhante clareza, o ensaio da especialista francesa é uma exploração minuciosa dos meandros de uma diplomacia que, com o papado de Francisco, passou por uma mudança profunda, que deixou para trás os anos nebulosos do papado de João Paulo II, quando quase toda a estrutura diplomática estava a serviço da luta contra o comunismo, sem que importasse a imoralidade dos atos. Com Francisco, a diplomacia vaticana se transfigurou de uma forma sem precedentes na história. O papa argentino mudou o eixo da rotação diplomática deslocando-o do centro dominador, ou seja, do Ocidente, para as periferias do mundo, que hoje estão no coração de sua voz e de suas ações. Longe das aproximações, fantasias, delírios ou especulações que, na maioria das vezes, enchem os livros sobre o Vaticano e, em especial, sobre sua ação diplomática, este ensaio restitui com precisão e estilo a complexidade desse poder temporal que se movimenta e influencia todos os cenários.
Além disso, o livro contém revelações exclusivas sobre a forma como a Santa Sé atuou para conseguir fazer com que Estados Unidos e Cuba reestabelecessem suas relações diplomáticas. Este capítulo do ensaio avança como uma autêntica história policial, de onde emergem situações dignas de uma saga de ação, com um papa como o organizador e garantidor de um pacto que parecia impossível. Desde o pacto implícito entre Barack Obama e Francisco, passando pela posição da Santa Sé na questão do Oriente Médio e no conflito israelense-palestino, nos esforços para esboçar uma paz, na incrível influência de Francisco para evitar que o Ocidente lançasse sua ofensiva militar na Síria, até o exercício de equilibrista que o Sumo Pontífice pratica em sua relação com a Rússia, tendo o conflito da Ucrânia como pano de fundo, ‘Nos segredos da diplomacia vaticana’ deixará o leitor com a sensação de ter visitado os arcanos de um poder espiritual que consegue movimentar as peças da geopolítica mundial em nome de interesses pacíficos. Não vende armas e nem tecnologia, mas é uma figura que pode ser decisiva nas situações mais emaranhadas.
Sem desconsiderar as contradições do papa, nem as internas da Santa Sé, o ensaio de Constance Colonna-Cesari nos apresenta, em toda sua ação, os sentidos e objetivos da diplomacia vaticana, seus segredos, seus métodos, suas “oficinas”, suas redes de influência e os mecanismos com os quais consegue fazer com que, apesar dos interesses dos Estados armados, algo mude no mundo. O ensaio também expõe, em toda sua potência, a forma como, com sua defesa das periferias e seu menosprezo pela Europa, Francisco se tornou a voz do povo e como essa voz se traduz em ação diplomática.
A entrevista é de Eduardo Febbro, publicada por Página/12, 31-01-2016. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
A diplomacia vaticana é sempre objeto de fantasmas delirantes, de especulações sem sentido e terreno fértil para as teorias do complô. No entanto, não é assim. Como você a definiria?
A diplomacia do Vaticano não tem nada de poder mágico. Trata-se de um poder temporal muito particular, porque faz parte das armas de um Estado cuja natureza é em si mesma particular. A diplomacia do Vaticano integra a especificidade espiritual da Igreja Católica. Seus objetivos são três: a paz, a justiça e o desenvolvimento, o que corresponde à doutrina da Igreja Católica, a sua palavra no mundo, a seus desejos de introduzir um poder mais justo, um mundo melhor. A diplomacia do Vaticano não precisa defender interesses materiais ou econômicos, o que a torna absolutamente única. No entanto, a proteção de seu 1,2 bilhão de fiéis no mundo é o coração de sua ação. Esta diplomacia deve se adaptar ao mundo e a suas ameaças e evolui de um papa para outro.
Houve uma mudança profunda de João Paulo II ao papa Francisco. Bento XVI foi quase invisível no terreno diplomático, ao contrário, João Paulo II e Francisco não. O que muda entre ambos?
Bento XVI não deixou nenhuma marca diplomática, não era sua prioridade, carecia de visão e de leitura do mundo. Bento XVI cometeu erros diplomáticos importantes, tanto com o mundo árabe muçulmano, com Israel, como na América Latina, quando, em Aparecida, disse que os indígenas da América, ainda que não soubessem, estavam aguardando Cristo para se purificar. Evidentemente, as metas dos papas não são as mesmas. Toda a política exterior de João Paulo II era animada por sua obsessão pela luta contra o comunismo. Já sabemos que essa política conduziu o papa polonês para muito longe, inclusive a pactuar com pessoas nebulosas e a utilizar o banco do Vaticano para lavar dinheiro destinado a sua luta contra o bloco comunista e a Teologia da Libertação, que era percebida como uma emanação do marxismo que cercava a própria Igreja. Essa foi toda a geopolítica de João Paulo II.
Francisco, ao contrário, mostra-se onipresente no terreno temporal, ocupa o cenário com uma visão das relações internacionais muito menos guerreira, muito menos inscrita na visão europeia, dominadora. Francisco conseguiu impor seu papado como um novo contrapoder graças à gestão política da Igreja, à reforma da Cúria e do banco do Vaticano. Francisco entendeu instintivamente que é preciso um mundo mais justo. Por isso, a seu modo, incorpora o mundo inteiro. Atua com as mãos livres e aí reside sua força. Também é necessário reconhecer que a diplomacia do Vaticano pode parecer muito mais corajosa que todas as demais. Há homens da Igreja em todos os conflitos. A França, por exemplo, encerrou suas representações diplomáticas na Síria, mas o Vaticano continua presente em Damasco e Alepo, com pessoas que dão suas vidas todos os dias. É, então, uma diplomacia que não abandona as situações por mais difíceis que sejam.
Hoje, é mais do que evidente que Francisco faz tudo o que é possível para ignorar a Europa. De alguma forma, manifesta certo menosprezo pelo Velho Continente.
Sim, a Europa lhe interessa muito pouco. Evita viajar pela Europa ou pela União Europeia. Sua visão de Europa é acusadora. Francisco quer colocar a Europa diante de suas responsabilidades e, para ele, a primeira responsabilidade é a crise dos migrantes. Hoje, seu discurso de Lampedusa, em julho de 2013, é quase como uma profecia, pois se adiantou em dois anos em relação à exploração do drama dos migrantes. Francisco tratou a Europa como “avó estéril”. É um continente que lhe interessa muito menos do que as demais periferias do mundo porque ele, o papa latino-americano, contribui para colocar essas periferias no centro. É uma diplomacia que inverte completamente a dos papas europeus. É a mudança mais importante deste pontificado.
Francisco colocou no centro as igrejas das periferias, os episcopados do sul, os mesmos que eram vistos com desprezo pelos episcopados europeus. É uma mudança que incide na visão do mundo e a diplomacia do Vaticano se une a ele. A encíclica Laudato Si’ cita constantemente os episcopados do sul, com suas contribuições a respeito dos temas sociais e ecológicos. Este papa quer forçar o mundo a escutar essas igrejas do sul, quer integrar as vozes da periferia. O mundo muda de centro e a diplomacia vaticana muda de coração: deixou de ser europeia para se encarnar em outros continentes: América Latina, África, Oceania. Quando o Papa foi à República Centro-Africana, abriu a porta santa da catedral de Bangui (!) e proclamou Bangui como a capital espiritual do mundo (!). Trata-se de um gesto fora do comum, que mostra muito bem que o centro já deixou de ser Roma para se deslocar a todas essas periferias esquecidas pelos papas precedentes.
Em termos de ação concreta, essa diplomacia de Francisco conheceu um êxito enorme com a mediação que conduziu ao restabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos. Seu livro revela informações surpreendentes sobre o papel do Papa e de seus emissários na queda do Muro do Caribe.
O primeiro passo real nesta direção ocorreu na audiência entre Barack Obama e o papa Francisco, no Vaticano, no dia 27 de março de 2014. Antes, já havia ocorrido uma série de diálogos entre Havana e Washington no Canadá, mas sem êxito. Fontes muito próximas à negociação, por exemplo, o arcebispo de Havana, cardeal Jaime Ortega, que é um ator central do acordo, revelaram o que Papa disse a Obama, reservadamente. Francisco se dirigiu ao presidente norte-americano dizendo que não era o papa quem lhe falava, mas, sim, um latino-americano, e que, como latino-americano, era preciso acabar com o embargo e a ruptura das relações com Cuba, que tudo isso fragilizava a política norte-americana, que isolavam a eles próprios ao invés de isolar Cuba, que essa política não produzia frutos. Obama se mostrou de acordo e se começou a elaborar parte de um plano que foi colocado em andamento, a partir de então, e no qual a Igreja era a terceira parte que oferecia confiança aos cubanos.
Em abril de 2014, Francisco convocou o cardeal Jaime Ortega a Roma e lhe entregou duas cartas, uma para Raúl Castro, a outra para o presidente norte-americano. Ortega foi a mão direita do Papa nesta aproximação. O cardeal entregou a Raúl Castro a carta do Papa. Quando a leu, Castro disse ao cardeal: “Diga a Obama que concordo”. A carta continha os pontos do plano acordado, em março, entre o Papa e Obama. Entre esses pontos estava a libertação dos cinco agentes cubanos condenados nos Estados Unidos e a liberação de Alan Gross, membro da USAID, preso em Cuba. Após o acordo oral transmitido por Raúl Castro, restava, então, entregar a carta a Barack Obama - pessoalmente, é claro -. Para isso, Jaime Ortega contou com a ajuda dos cardeais norte-americanos, o arcebispo de Boston, cardeal O’Malley, e o arcebispo emérito de Washington, cardeal McCarrick. Graças a um plano totalmente secreto, o arcebispo de Havana pôde entregar a carta a Obama. Os dois arcebispos norte-americanos organizaram uma suposta conferência que ocorreu na Universidade de Georgetown, um lugar muito próximo ao poder político norte-americano. Georgetown é, além disso, uma universidade jesuíta. E Fidel e Raúl Castro foram formados pelos jesuítas. Como destacou o ex-embaixador argentino ante o Vaticano, Eduardo Valdés, essa fibra jesuíta desempenhou um papel em toda esta mediação.
Em suma, no dia 18 de agosto de 2014, o arcebispo de Havana foi à Universidade de Georgetown para dar uma conferência que não figura em nenhum lugar. Ali, ocorre um episódio digno de Hollywood: Ortega foi levado à Casa Branca, em uma limusine de vidros escuros e no mais absoluto sigilo, para se encontrar com Barack Obama e lhe entregar a carta do Papa na presença de todo o staff que participou das nove reuniões de negociação. Graças ao papa Francisco, graças a sua ação e ao seu apoio, graças à confiança que os dois atores depositaram nele, no dia 17 de dezembro de 2014, Barack Obama e Raúl Castro anunciaram ao mundo que não havia mais obstáculos para a retomada das relações diplomáticas, e isso apesar do embargo ainda não poder ser levantado. Ambos tiveram confiança em um papa latino-americano que não podia trair sua palavra.
No entanto, nem tudo são flores nesta diplomacia de Deus. Há limites severos e contradições, começando pelo conflito ou os conflitos no Oriente Médio. O que o papa Francisco pôde e o que não pôde fazer no Oriente Médio?
O que fez, é evidente, foi o reconhecimento do Estado palestino mediante um acordo que surgiu em junho passado. Trata-se de um grande apoio ao Estado palestino e a sua posição em favor da paz israelense-palestina, paz na qual o Vaticano é uma das partes com uma posição sempre pró-palestina e não pró-israelense. Sua posição consistiu sempre em apoiar uma solução política através do diálogo entre os dois Estados, mas pedindo a Israel que faça um esforço de compreensão. Nesta diplomacia, também se esboça o cálculo da religião, ou seja, o da quantidade de cristãos que vivem na Terra Santa. A diplomacia vaticana tem isto em seu DNA. O Vaticano julga Israel de forma muito severa por causa de sua política, que contribui para impedir o funcionamento das instituições cristãs, uma espécie de apartheid, segundo afirmam algumas fontes, que tem como consequência o aceleramento do êxodo dessas comunidades. Para a Santa Sé, seria um drama se não existissem mais cristãos nos lugares santos das terras de Jesus.
Aqui, no entanto, Francisco também marcou profundas diferenças.
Sim, a ação de Francisco é nova, inédita. Existe, por exemplo, esse sonho romântico que é a diplomacia da oração, essa espécie de utopia com a qual quer dar o exemplo e demonstrar que é possível pacificar as religiões. Francisco quer provar que o poder religioso, ao contrário do que pretendem os islamistas fanáticos do Estado Islâmico, é um exercício muito potente desconectado da noção de poder político. Nisto se enraíza todo o sentido de sua diplomacia da oração, da prece. Nela se baseia o convite para rezar nos jardins do Vaticano, endereçada ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e ao israelense Shimon Peres. Em junho de 2014, os dois participaram, no Vaticano, da oração pela paz. Muitos a haviam considerado inútil porque uma semana depois começavam as espantosas intervenções militares em Gaza. No entanto, aconteceu e essa oração com o Papa, Abbas e Peres nunca havia ocorrido antes. Esse gesto cria um exemplo espiritual.
Em um terreno mais concreto, qual é a leitura que Francisco faz da problemática do Oriente Médio?
O Papa se apoia em uma leitura de todos os conflitos do Oriente Médio, seja o israelense-palestino ou, hoje, o da Síria, para decretar que, por exemplo, na Síria, não se deve intervir, precipitar uma guerra, nem deixar o país nas mãos da comunidade internacional. Francisco reafirmou esta posição por meio de iniciativas originais. Em setembro de 2013, organizou uma jornada de orações pela paz na Síria e com isso contribuiu para evitar a intervenção militar que os Estados Unidos e França estavam prestes a lançar. A amplitude dessa oração, o peso de Francisco no cenário internacional, a oposição das opiniões públicas, levaram os Estados Unidos e os países europeus a retroceder.
No entanto, o Vaticano falou de “guerra justa” quando se tratou do conflito iraquiano.
Sim, mas, neste caso, tratou-se do Estado Islâmico, que é uma ameaça aterrorizadora e muito mais nova, pois não se trata de um Estado. O Vaticano pode modificar sua linha de fundo porque o Estado Islâmico não é um Estado reconhecido pela comunidade internacional. O Vaticano deu uma guinada no momento em que o êxodo dos cristãos se intensificava. Após a queda de Mossul, em uma só noite, durante o verão de 2014, houve um êxodo de 130.000 cristãos, segundo revelou o patriarca caldeu da Babilônia. Porém, com efeito, foi uma mudança profunda da linha pacífica e de não intervenção que conduzia a diplomacia vaticana no Oriente Médio. A leitura vaticana vai além da tática sobre a presença dos cristãos no Oriente Médio. Para a Santa Sé, essas comunidades cristãs são uma ponte com as comunidades muçulmanas. Se os cristãos, os caldeus, fogem do Iraque, a guerra será ainda pior e as comunidades se tornarão ainda mais reféns de seus agressores. Além disso, é preciso acrescentar que Francisco está animado por um autêntico ecumenismo, por uma visão real do diálogo inter-religioso no Oriente Médio. No Vaticano se fala de “tridiálogo” entre o islã, o judaísmo e o cristianismo. Francisco tem uma sincera visão ecumênica e inter-religiosa.
Um ponto menos elogioso da diplomacia do Vaticano é a Rússia. Neste terreno, Francisco parece que sacrificou seus princípios.
É paradoxal porque se tem a impressão de que a Rússia e a Ucrânia são o terreno onde a personalidade de Francisco se coloca atrás das linhas da diplomacia vaticana. O sonho de reconquistar essa terceira Roma que é Moscou nunca cessou. Porém, diferente de toda a diplomacia ofensiva de Francisco no restante do mundo, com a Rússia se aplica a realpolitik. Sacrificou-se a Igreja Greco-Católica da Ucrânia, que é mais próxima do Papa, porque é uma Igreja muito singular que se encontra na metade do caminho entre os ortodoxos e o catolicismo e que, desde o século XVI, obedece a Roma. Essa Igreja greco-católica é pró-europeia, defendeu a reivindicação da Ucrânia de adesão à União Europeia e apoiou a revolução de Maïdan. O papa Francisco parece ter sacrificado os interesses dessa Igreja no altar da realpolitik frente à Rússia. O Papa pediu a seu clero que não se envolvesse com a política ou a guerra, quando na realidade já havia sido arrastado nela. Francisco quer ir a Moscou e também reparar os erros diplomáticos e religiosos do pontificado de João Paulo II, cuja política, ou seja, sua nova evangelização da Rússia, após a derrocada da União Soviética, despertou a hostilidade dos ortodoxos. Francisco não condenou, por exemplo, a anexação da Crimeia, nem se pronunciou com veemência a respeito da agressão russa ao Leste da Ucrânia. Francisco lamentou a guerra entre cristãos no seio da Europa, mas nada mais. A guerra na Ucrânia complica as relações internas do mundo ortodoxo e coloca o papa Francisco em uma posição muito desagradável.
Talvez estejamos no limiar de um fato fora do comum: um encontro capital e inédito entre o papa Francisco e o patriarca ortodoxo de Moscou, Krill, durante a viagem de Francisco ao México. É tido quase como certo, sem que se saiba se ocorrerá no México ou em Cuba, onde Krill estará.
Posso me equivocar, mas estou convencida de que isto acontecerá. Não é por acaso se suas respectivas agendas foram organizadas para que os dois estejam presentes na região, ao mesmo tempo. Foi um vaticanista muito sério, Sandro Magister, quem adiantou a informação. Os ortodoxos russos desmentiram a informação, mas não o Vaticano. E a Comunidade de Santo Egídio, que é um braço não oficial da diplomacia vaticana, continua muito ativa na Rússia. A ideia de um encontro em terreno neutro, nem em Roma e nem em Moscou, é muito oportuna. Jamais um papa se encontrou com um patriarca. Se o encontro vier a acontecer, isto prefiguraria a possibilidade, para Francisco, de proximamente ir a Moscou. É um fato considerável. Os três ganhariam: a Igreja Ortodoxa, o Vaticano, que poderia contar com um êxito grandioso para sua diplomacia, e também seria muito benéfico para Vladimir Putin, que deixaria de aparecer como um agressor para ser um parceiro regularizado. O Vaticano necessita dele na Síria e na China. As alianças de Moscou são muito úteis para a Santa Sé.
Se fosse possível sintetizar os segredos da diplomacia vaticana de Francisco, você diria que sintetizou o mundo de hoje ou se adiantou a ele?
Francisco tem uma fibra política inata, diz exatamente o que o mundo quer e necessita ouvir, por exemplo, contra as injustiças apavorantes do capitalismo. Francisco se impôs desde sua primeira frase, quando pronunciou a palavra “povo” na Praça São Pedro e se colocou como um papa que representa o povo e que fala pelo povo. É a voz do povo no mundo. Sua aura extrapola o 1,2 bilhão de fiéis de sua Igreja. Francisco conseguiu se apresentar como um líder mundial que vai além de tudo o que, antes dele, um papa representava. Francisco teve a inteligência política de se impor ali onde nenhuma outra palavra política no mundo havia se colocado.
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Diplomacia vaticana. Francisco e a centralidade das periferias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU