29 Janeiro 2016
Análise da água do Rio Doce
A equipe da Fundação SOS Mata Atlântica realizou de 6 a 12 de dezembro de 2015 uma expedição pelos municípios afetados pelo rompimento da barragem na cidade de Mariana (MG), com o objetivo de coletar sedimentos para análises laboratoriais e monitorar a qualidade da água do rio Doce e afluentes impactados pela lama e rejeitos de minérios. Ao todo, foram analisados 18 pontos em campo, percorridos 29 municípios e coletados 29 amostras de lama e água para análise em laboratório. Desses 18 pontos, 16 apresentaram o IQA (Índice de Qualidade da Água) péssimo e 2 obtiveram índice regular.
A reportagem foi publicada por Fundação SOS Mata Atlântica, 27-01-2016.
Acesse aqui o laudo e o relatório na íntegra.
Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, afirma que a expedição constatou que condição ambiental do rio Doce é péssima em 650 km de rios. “Em todo o trecho percorrido e analisado por nossa equipe a água está imprópria para o consumo humano e de animais”, observa.
O estudo aponta que a turbidez e o total de sólidos em suspensão estão em concentrações muito acima do que estabelece a legislação. Ela variou de 5.150 NTU (Nephelometric Turbidity Unit, unidade matemática utilizada na medição da turbidez) na região de Bento Rodrigues e Barra Longa, à 1.220 NTU em Ipatinga (MG), aumentando gradativamente na região da foz, em Regência (ES). “O máximo aceitável deveria ser de 40 NTU”, diz Malu.
Segundo ela, os dados reforçam a gravidade do dano ambiental. “Infelizmente, as chuvas acabam por arrastar mais lama para o leito do rio e a situação tende a ficar ainda mais complicada. A lama e os metais pesados não mascararam ou diminuíram as concentrações de poluentes provenientes de esgoto sem tratamento e de insumos agrícolas”, afirma.
A coordenadora ressalta, ainda, que o rio Doce já apresentava uma condição precária antes do rompimento da barragem de rejeito de minério. “Agora, com base no monitoramento que vem sendo realizado de forma independente pela sociedade e por autoridades, esperamos que seja possível planejar ações de recuperação de médio e longo prazo para a bacia”, conclui.
Trajeto percorrido pela expedição. Imagem: SOS Mata Atlântica/ INPE.
A expedição foi realizada com o apoio da Ypê – Química Amparo, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), da ProMinent Brasil e de outros grupos de especialistas voluntários, como o GIAIA (Grupo Independente de Avaliação de Impacto Ambiental). Contou também com a participação do eco esportista Dan Robson, que navegou trechos com um caiaque especialmente equipado para realizar análises da qualidade da água e da profundidade do leito dos rios e dos reservatórios ao longo do percurso. Além disso, parte dos testes foi realizada em campo com equipamentos especiais para a medição de metais, sondas de medição e espectrofotômetro.
A análise da água foi realizada com base nos parâmetros de referência estabelecidos na legislação vigente no país, a Resolução Conama 357/5, que estabelece a classificação das águas e aponta o IQA. A equipe da Fundação SOS Mata Atlântica utilizou um kit desenvolvido pelo programa Rede das Águas, empregado no projeto Observando os Rios, que reúne voluntários de diversos Estados do país, localizados em áreas de Mata Atlântica, para o monitoramento de qualidade da água em rios, córregos e lagos. O kit segue metodologia para avaliação do IQA a partir de um total de 16 parâmetros, que incluem níveis de oxigênio, demanda bioquímica de oxigênio, nitrato, coliformes, fosfato, pH, temperatura, turbidez, odor cor e presença de peixes, larvas brancas e vermelhas. A classificação da qualidade das águas é feita em cinco níveis de pontuação: péssimo (de 14 a 20 pontos), ruim (de 21 a 26 pontos), regular (de 27 a 35 pontos), bom (de 36 a 40 pontos) e ótimo (acima de 40 pontos).
Metais pesados e bactérias
De acordo com as coletas e análises físico-químicas realizadas, que obedeceram às normas estabelecidas pelo Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, todos os pontos avaliados estão em desacordo com o que é preconizado na legislação vigente.
Confira na tabela abaixo a descrição dos metais pesados encontrados nas amostras:
Os gráficos abaixo indicam os níveis de turbidez, alumínio, magnésio e manganês identificados em cada ponto de coleta:
Já para bactérias, os resultados obtidos das análises físico-químicas são:
Acesse aqui o laudo e o relatório na íntegra.
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Laudo da SOS Mata Atlântica revela que água do Rio Doce continua imprópria para consumo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU