15 Janeiro 2016
"A Grande Aposta pode ser só um filme, mas tem a vontade de abrir os olhos dos seus espectadores sobre algo que afeta a todos", escreve Mariane Morisawa, em análise sobre o filme "A Grande Aposta", publicada por O Estado de S. Paulo, 15-01-2016.
Eis a análise.
Quase ninguém entende o que aconteceu exatamente na quebra do mercado imobiliário americano em 2008, que contribuiu fundamentalmente para a crise econômica da qual o mundo ainda tenta se recuperar. Pois o cineasta Adam McKay se propõe a explicar o árido assunto em A Grande Aposta, que concorreu a quatro Globos de Ouro e estreia nesta quinta, 14, no Brasil. McKay, diretor de comédias escrachadas como O Âncora – A Lenda de Ron Burgundy, é uma escolha inusitada da Plan B, a produtora de Brad Pitt e Dede Gardner, para adaptar o livro A Jogada do Século – The Big Short, do jornalista Michael Lewis (autor de Moneyball – O Homem Que Mudou o Jogo, estrelado pelo próprio Pitt). Mas, assistindo ao filme, faz todo o sentido: o tom é educativo, sim, mas não pesado. Pelo contrário, trata-se de uma comédia. McKay recorre a Selena Gomez e Margot Robbie para explicar termos complicados em divertidas participações. Nem todo mundo vai sair um expert em “CDOs sintéticas”, mas pelo menos vai ter uma ideia do que aconteceu.
A produção foca em algumas das poucas pessoas que sabiam que a quebra estava para acontecer. Steve Carell é Mark Baum, diretor da empresa FrontPoint, subsidiária da gigante Morgan Stanley. “Eu conversei com ele, que ainda carrega a tragédia”, disse o ator, em entrevista ao Estado em Nova York. “Mark ficou dividido entre o dinheiro que ia ganhar por saber o que sabia e sua vontade de ir atrás dos bancos responsáveis. Há um dilema moral, porque seu sucesso é o fracasso de todo o mundo.”
De peruca e bronzeado artificial, Ryan Gosling interpreta o oportunista Jared Vennett, do Deutsche Bank, que vê na bolha imobiliária prestes a explodir uma chance de bons negócios. “Não queríamos que esse mundo e esses personagens fossem sexy”, explicou Gosling sobre seu visual. “E, sim, que fosse mais humano, com pouco daquela Wall Street impenetrável e sem rosto. São pessoas com vidas, tentando tomar decisões num segundo, deixando-se levar pelas tendências do momento.”
Christian Bale vive o dr. Michael Burry, um neurologista que virou agente financeiro, Brad Pitt é Ben Rickert, que tinha abandonado a profissão de banqueiro até ser procurado pelos jovens Charlie Geller (John Magaro) e Jamie Shipley (Finn Wittrock). Jeremy Strong, que faz Vinnie Daniel, um dos analistas da empresa de Mark Baum, acha que os personagens reais que estão no filme ficaram abalados pelo que aconteceu. “Todos acreditavam em mercados livres e responsáveis. Quando começaram a ver a extensão do comportamento pernicioso e irresponsável, ficaram desiludidos primeiro e depois tristes. Os pilares de seu mundo estavam desmoronando. Eles ganharam dinheiro, mas perderam algo mais fundamental.” Para o ator, é hora de os americanos pararem de se distrair com outras coisas, como a cultura pop e o culto às celebridades. “Enquanto isso, coisas sérias estão acontecendo sob nossos narizes.”
Steve Carell torce para que A Grande Aposta tenha algum efeito. “Espero que, ao fim, as pessoas conversem sobre o tema. Que inicie uma discussão sobre o que aconteceu e potencialmente pode se repetir”, afirmou. “Sou só um ator, não tenho ideia do que pode acontecer. Mas Michael Lewis disse que é uma questão de comportamento. E que, desde que isso aconteceu, o comportamento não mudou.”
A Grande Aposta pode ser só um filme, mas tem a vontade de abrir os olhos dos seus espectadores sobre algo que afeta a todos.
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Filme 'A Grande Aposta' faz alerta a público - Instituto Humanitas Unisinos - IHU