Misericórdia, virtude civil e laica

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14 Janeiro 2016

"A misericórdia, virtude civil e laica" é o título do encontro diocesano que vai ser realizado na Catedral de Crema, Itália, no sábado, 16 de janeiro, com a intervenção do filósofo Roberto Mancini, dentro de um percurso ao Jubileu.

Publicamos aqui a fala que será apresentada durante o evento pelo teólogo leigo italiano Christian Albini, coordenador do Centro de Espiritualidade da diocese de Crema, na Itália, e sócio-fundador da Associação Viandanti.

O artigo foi publicado no seu blog Sperare per Tutti, 13-01-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Há uma dimensão nem sempre clara sobre o discurso sobre a misericórdia que o Jubileu Extraordinário convocado pelo Papa Francisco iniciou na Igreja Católica, atraindo também uma atenção externa.

Fazer experiência de misericórdia e "fazer misericórdia" nas nossas vivências e nas relações humanas são só uma experiência pessoal, individual, ou também têm um valor social e político? A misericórdia é um valor só religioso ou também pode ser um valor civil e laico?

Não são interrogações de pouca importância, porque dizem respeito à relação entre a Igreja e a sociedade, dizem respeito ao compromisso dos cristãos como cidadãos, dizem respeito à busca de novas vias para ir além das crises que avassalam o nosso tempo: crise econômica, crise antropológica dos valores humanos, crise política de conflitos e tensões internacionais que parecem ingovernáveis, crise ambiental. São todas passagens problemáticas que estão intimamente ligadas entre si.

Ou a misericórdia tem algo a dizer e pode fazer a diferença, apresentando-se como terreno de encontro entre pessoas que se reconhecem em visões de mundo diferentes, ou é um fato espiritualista e devocional que permanece dentro do privado e das fronteiras eclesiais.

Um nó particularmente delicado, neste momento, é o da violência que assume muitas faces. A violência contra as mulheres, que apareceu de forma macroscópica em Colônia, evidenciando que a integração não é fácil e óbvia, mas também está presente em formas microscópicas, difusas e subavaliadas na nossa sociedade.

A violência do terrorismo que atinge pessoas de todas as nacionalidades e religiões. A violência xenófoba, como a daqueles que organizaram uma verdadeira caçada humana na Alemanha. A violência das guerras e das pobrezas que provocam fugas e migrações dos mais fracos, vítimas dos criminosos e da indiferença de tantos governos. Toda violência deve ser reconhecida e rejeitada.

Mas como? E como pode ser eficaz a não violência da fé e da misericórdia? Reflitamos juntos com o filósofo Roberto Mancini, que se distingue pelas suas reflexões, que releem categorias e problemas da política e da economia no exercício de um pensamento crente e aberto, conjugado com um olhar espiritual, como se capta também no seu último livro: A não violência da fé. Humanidade do cristianismo e misericórdia de Deus.