Ascensão do Senhor – Ano C – No seguimento de Jesus voltar para as Galileias da nossa existência

Por: MpvM | 27 Mai 2022

 

A reflexão é de Maria Inês de Castro Millen, doutora em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2003) e professora titular no curso de Teologia do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, atuando principalmente nos seguintes temas: moral fundamental, moral social, moral sexual conjugal e familiar, bioética e antropologia teológica.

 

 


Leituras do dia

 

1ª leitura: At 1, 1-11
2º leitura: Ef 1,17-23
Salmo: 46
Evangelho: Lc 24, 46-53

 

Estamos celebrando hoje a festa da Ascensão do Senhor e também comemorando o Dia das Comunicações Sociais.

 

As leituras propostas nos carregam no colo da esperança: Jesus, aquele que foi maltratado e assassinado, ressuscitou e agora é elevado ao céu e está junto do Pai. O significado desse evento é que o nosso futuro já está garantido. E isso não é pouco. Nossa morada definitiva é o céu, onde estaremos um dia, na comunhão com Deus e com nossos irmãos; uma comunhão de amor que nunca mais terminará.

 

Mas, agora, ainda somos caminhantes na história e essa condição de peregrinas nos é dada para realizarmos, aqui, as mesmas maravilhas que Jesus fez um dia acontecer. Somos, como os discípulos e discípulas enviadas para contar às pessoas, para comunicar a elas, sobretudo com a nossa vida entusiasmada, que Jesus, nosso irmão, um Deus que se fez humano como nós, já se encontra junto ao Pai, preparando para nós uma morada feliz.

 

Vou retomar as leituras deste domingo a partir de 3 pontos: A promessa do Espírito, a Ascensão do Senhor e a Esperança que nos sustenta.

 

A promessa do Espírito

 

Jesus sobe aos céus depois de uma vida de doação e entrega e o Evangelho relembra para nós suas palavras aos discípulos: “Vós sereis testemunhas de tudo isso. Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu.”

 

Nos Atos dos Apóstolos temos também as palavras de Jesus, na mesma direção: “Recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós para serdes minhas testemunhas até os confins da Terra.”

 

O Espírito prometido é aquele que sustentará os apóstolos na missão que lhes é dada. Eles que eram fracos, medrosos e não suportaram a aparente derrota de Jesus, necessitam da força do alto para que possam seguir com confiança e alegria.

 

Na verdade, é o Espírito Paráclito, aquele que nos tira do fundo do poço, nos coloca em pé e em condições de caminhar, de seguir corajosamente.

 

Paulo, na carta aos Efésios, reza a Deus pedindo para seus irmãos de Éfeso, o Espírito Santo: “O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer. Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos e que imenso poder ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com sua ação e força onipotente.”

 

A Ascensão

 

O livro dos Atos dos Apóstolos nos diz que Jesus foi levado ao céu à vista dos apóstolos. “Uma nuvem o encobriu de modo que seus olhos não podiam mais vê-lo. E os apóstolos, atônitos, continuavam olhando para o céu [...]. Apareceram então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: 'Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus, que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu' ." O Evangelho de hoje, narrado pela comunidade de Lucas, nos diz que os apóstolos ficaram em Jerusalém, à espera do Espírito. Mas a narrativa da comunidade de Marcos traz essas palavras de Jesus: "Depois que eu ressuscitar, irei à vossa frente para a Galileia”. Na narrativa de Mateus, também no contexto da ressurreição, quando no domingo as mulheres vão ao túmulo e elas o encontram vazio, vêm um jovem que lhes diz: "Vocês estão procurando Jesus, o nazareno, aquele que foi crucificado? Ele ressuscitou, não está mais aqui. Voltem e digam a seus discípulos e a Pedro: Ele vai à vossa frente para a Galileia. Lá o vereis, como ele mesmo vos disse.” Esse “lá o vereis", é fundamental. É na Galileia, no lugar periférico dos abandonados, dos pobres, dos de má fama que Jesus estará após sua Ressurreição/Ascensão. Sua instrução é a de que não fiquemos olhando para o céu. O céu é nosso futuro que já está garantido. Nesse momento em que ainda estamos na história precisamos nos voltar para as Galileias da nossa existência para que, no seguimento de Jesus, possamos anunciar o Reino que precisa se mostrar aqui, no já da vida de muitos.

 

A esperança que nos sustenta

 

O Espírito que pode abrir nossos corações à sua luz, para que nós possamos saber qual a esperança que seu chamamento nos traz, nos convoca. E essa esperança não é qualquer uma. É aquela que não nos permite a paralisia, o cansaço, o medo, a espera passiva. Ela nos encoraja, nos traz a ousadia que vem da confiança e da alegria que a Ascensão de Jesus provoca em nós.

 

Assim, com os olhos fixos em Jesus, nas Galileias da história, cumpramos nossa missão de discípulas e discípulos, comunicando às pessoas, especialmente aos mais vulneráveis e sofridos, a Boa-nova do Reino de Deus. Amém!

 

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