12 Dezembro 2017
Este terceiro domingo do Advento, “domingo da alegria”, me trouxe à mente uma afirmação do educador Rubem Alves: “A alegria está muito próxima. Mora no momento. Não mora no futuro, mas só no agora. Ela está perto, modesta e fiel, no espaço da casa, no espaço da rua”. Em seguida, o autor discorre sobre nossa expectativa na espera dessa alegria, que pensamos vir no futuro, num evento fantástico que mude radicalmente a nossa vida. Investimos esforços nessa ilusão, inclusive, enquanto nos escapa a oportunidade de vivermos a mesma hoje, no aqui e agora.
O comentário da leitura correspondente ao 3º Domingo de Advento - Ano B é de Sandra Maira Pires, religiosa da Congregação das Irmãs da Divina Providência IDPs, possui graduação em teologia pela Escola Superior de Teolodia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF, de Porto Alegre/RS, e especialização em espiritualidade pelas Faculdade Vicentina - FAVI, de Curitiba/PR. Atualmente atua como orientadora de espiritualidade e como formadora no Noviciado Latino-americano das IDPs.
Se a alegria plena viesse desses sonhos materiais realizados ou de momentos especiais como um cargo importante, um reconhecimento ou um título de doutorado, por exemplo, o índice de insatisfação, de consumismo, de doenças emocionais e outras mazelas humanas, seria zero. Não quero dizer, com isso, que não tenhamos de correr atrás de nossos sonhos e lutar por eles. Mas, a alegria perene, aquela que nos faz viver de e com sentido, está em outro lugar, precisamente numa pessoa e seu projeto: Jesus e o Reino de Deus. E, com Ele, a certeza de sermos filhas e filhos amados por Deus, pelo que somos e não pelo que possuímos; muito mais pela nossa miséria e fragilidade do que pelas nossas ambições, propósitos e bandeiras de luta.
Este domingo do advento e a liturgia de hoje, especialmente, nos oferecem algumas pistas de como encontrar e viver a partir dessa e nessa verdadeira alegria.
O profeta Isaías anuncia a mensagem de consolação que recebeu de Deus. Sua mensagem consiste na promessa de que o próprio Deus olhará para os pequenos e esquecidos, será uma boa nova aos pobres, curará suas feridas, libertará os presos, anunciará um ano de graça e realizará sua justiça sobre os opressores. (Lembremos que Jesus, em Nazaré, utiliza parte desse texto para explicar sua missão). E o profeta transborda de alegria, de uma alegria centrada na confiança da promessa de que Deus agirá em favor de seu povo.
O Evangelho de João nos apresenta o Batista, sem preocupação em dizer muita coisa sobre ele, até porque ele não era nenhum profeta em destaque, na época. Mas, faz questão de deixar evidente sua estreita ligação com Jesus. João Batista tem claro que quem precisa aparecer não é ele próprio, mas Jesus. Este é o maior de todos, e dá testemunho Dele. E, como enviado de Deus, o evangelho faz questão de afirmar isso, seu testemunho é verdadeiro. Ele não era a luz, mas conhecia e testemunhava a luz. Ele testemunha, na sua realidade marcada por injustiças, desigualdades, trevas e desertos. Anuncia a presença e a ação misericordiosa de Deus, em Jesus.
Testemunhar Jesus fazia de João Batista um homem que não vivia no futuro, mas enraizado no seu presente conflituoso e violento. Ele é o convite para “endireitar os caminhos”, a fim de que todos pudessem ter acesso e reconhecessem, em Jesus, a presença de um Deus que ama e age em favor dos seus, em quaisquer circunstâncias. O Batista vem nos dizer que a razão da verdadeira alegria consiste em testemunhar Jesus e seu Reino a todas as pessoas. Testemunhar é também colocar a mão na massa para que o Reino de Deus aconteça.
Já Paulo desafia a comunidade tessalônica a se afastar da maldade, a discernir e a escolher o que é bom. Ele lembra à comunidade que Deus é fiel e é quem age na história, em todos os tempos. Por isso, exulta de alegria.
Maria, em seu Magnificat, canta a ação de Deus em sua vida e na vida do seu povo. Acredita que quem passa fome comida terá, que quem tem demais experimentará o vazio. Reconhece Deus agindo e socorrendo seu povo com misericórdia e generosidade. Percebe Deus se fazendo “Emanuel” – “Deus-Conosco”, nela, através dela. Só podia exultar: “minha alma engrandece o Senhor, meu espírito exulta em Deus, meu Salvador”. Sua alegria, sua exultação, apontam para a ação amorosa de Deus em favor do povo.
Creio, profundamente, que a razão da nossa alegria está no Evangelho e ao alcance de nossas mãos. Porque está na capacidade de realizarmos pequenos gestos de amor e de solidariedade, dentro da nossa casa, na rua; está nos diferentes grupos de pessoas, movimentos, religiões e culturas, que, em prol da vida e sua dignidade, testemunham e apontam para Aquele que é a razão do Natal.
Este domingo da alegria é um convite para nos alegrarmos e nos deixarmos, sempre de novo, amar por Deus; é um apelo para testemunharmos, lá onde estamos e vivemos, que Ele se mantém voltado e próximo de nós, em Jesus, a alegria do Evangelho, a Boa Notícia de Deus encarnada no mundo; e, por fim, é uma chamada a crermos que em seu Espírito e pelo seu Espírito, Deus nos faz reconhecer e realizar pequenas alegrias e gestos de amor, no cotidiano, em favor de nossa irmã e irmão. Gestos que são a mais pura manifestação da Providência e bondade Divina, no aqui e agora, da nossa existência e da realidade de nossa gente. Afinal, a verdadeira alegria “está muito próxima, modesta e fiel, no espaço da casa, no espaço da rua”. Basta acolhê-la.
Um feliz domingo da alegria para você!
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3º Domingo do Advento – Ano B – “Ficai sempre alegres!” (1Tes 5,16) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU