Panikkar, ponte entre dois mundos

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30 Agosto 2010

 
Panikkar não gostava das definições. Toda vez que se tentava capturá-lo, escapava sempre, tanto no plano teórico quanto no plano existencial. Filho de mãe catalã católica e pai indiano hinduísta, tinha o sangue fortemente empapado de pluralismo. Gostava das pontes e odiava os muros. Imaginava o mundo como uma rede de estradas que se entrecortam e entrecruzam. Tinha cultura vastíssima. Era laureado em química, filosofia e teologia. Conhecia sete línguas. Gostava de cavoucar para chegar às origens das palavras, porque para ele a palavra não era somente um instrumento comunicativo, mas um universo emotivo.

Era desvinculado de leituras dogmáticas ou ideológicas. Falava de um “Cristo desconhecido do hinduísmo”, de uma realidade “cosmoteândrica” como conexão indissolúvel das três dimensões da realidade, a cósmica, a divina e a humana. Defendia sempre que, para conhecer as outras religiões, seria necessário um ato de “conversão”, pois de outro modo não é possível entender a fonte divina que flui sobre as estradas de outros caminhos espirituais. Numa expressão famosa Panikkar disse de si: “Nasci cristão, me descobri hindu e retorno budista, sem jamais ter perdido de vista minha matriz originária”. Como dizer que a fé não pode ser uma dimensão fechada da experiência vital, mas deve situar-se necessariamente como elemento de abertura aos outros fins, a ponto de admitir a conversão para colocar-se no horizonte da alteridade. Gostava de repetir fazendo ecoar o evangelho: “Quem tem medo de perder a fé, perdê-la-á...”

Também no plano do progresso e do desenvolvimento, Panikkar era fortemente crítico: “O sistema econômico atual é o último baluarte do colonialismo. Somente 25 por cento goza do privilégio do progresso, mas os 75 por cento carregam seu peso. Se todo o mundo utilizasse tanto papel quanto consome o norte já não haveria mais árvores sobre a terra. O complexo tecnocrático invadiu hoje o resto do mundo com muito mais eficácia e incidência relativamente ao império político e religioso”.
 
(Cf. notícia do dia 30.08.2010,desta pág)