16 Dezembro 2011
A decisão do Supremo Tribunal Federal, anteontem, de devolver o cargo de senador a Jader Barbalho (PMDB-PA) "gera um sentimento de frustração na sociedade e deixa a lição de que lutar não vale a pena", adverte o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV-SP. Muitos dos milhares de cidadãos que participaram da campanha pela Ficha Limpa, diz ele, "vão concluir que o mundo político vive fora da realidade e não aceitarão mais entrar em ações como essa no futuro".
A entrevista é de Gabriel Manzano e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 16-12-2011.
Eis a entrevista.
Qual o impacto, a seu ver, das decisões do STF validando os cargos dos fichas-sujas?
Essa vitória dos fichas-sujas, pois aí se inclui a confirmação dos cargos de João Capiberibe (PSB-AP) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), traz um sentimento de frustração geral na sociedade. A Lei de Ficha Limpa nasceu dela, foi debatida com entusiasmo. Pretendia enquadrar os partidos, que só se interessam pelos tais puxadores de votos. A decisão deixa tudo em suspenso.
Para muitos o Supremo fica como vilão da história. É justo?
Aí há vários aspectos. O Congresso tinha obrigação de tomar cuidado, não deixar criar tantas expectativas. Lá tem 40% de advogados, que sabiam bem dos desafios que a lei tinha pela frente. Mas o Judiciário, que no caso se limitou a aplicar a lei, piorou as coisas com sua habitual lentidão. Deixou outros dois políticos assumirem, votarem as leis, para acabar decidindo, no final, que eles não tinham legitimidade para isso.
O sr. acredita que o episódio já passou e agora a lei vai valer?
Não se pode garantir, a história não acabou. O Supremo espera a posse da ministra Rosa Weber, depois vêm as férias, Há a questão, que alguns vão forçar, do trânsito em julgado de decisões, A sentença definitiva pode sair lá pelo meio do primeiro semestre, a poucos meses das eleições de 2012. E com o risco de não valer também desta vez.
A que o sr. atribui tanta dificuldade numa questão que devia ser clara e simples?
Se há de fato um vilão nessa história, são os partidos. Se nossas lideranças partidárias se preocupassem com a qualidade no recrutamento de candidatos, o País nem precisaria de uma lei de Ficha Limpa. Mas a saída seria mexer na lei dos partidos, coisa que os políticos não querem fazer de jeito nenhum..
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'Vitória dos fichas-sujas traz uma frustração geral' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU