19 Abril 2011
O jornal dos bispos italianos pede aos católicos para não irem ao cinema para assistir ao filme de Nanni Moretti sobre o Papa.
A reportagem é de Lucia Magi e está publicada no jornal El País, 19-04-2011. A tradução é do Cepat.
"Habemus Papam? Sim, já temos". O título já deixa claro. A carta do vaticanista Salvatore Izzo, publicada nesta segunda-feira no jornal L’Avvenire, da Conferência dos Bispos da Itália, convida o público católico a boicotar o novo filme de Nanni Moretti, centrado na crise existencial de um cardeal eleito inesperadamente pontífice.
A obra do diretor italiano, que estreou na sexta-feira passada, começa num conclave: na Capela Sistina (reconstruída nos estúdios da Cinecittà porque o Vaticano não autorizou as filmagens na igreja original) respira-se tensão. Os cardeais devem escolher o novo Papa, mas ninguém quer arcar com a responsabilidade de guiar o rebanho de Deus. As mãos se esfregam nervosas, as apostas são frenéticas. Finalmente, os votos recaem sobre um cardeal descartado em todas as previsões. Para não sucumbir ao pânico, o aterrado Michel Piccoli deve sair para tomar um ar fresco pelas relas de Roma, longe das salas purpúreas do Vaticano. O novo pontífice também não encontra alívio no diálogo com um psicanalista vaticano – o próprio Moretti, que como sempre se reserva um dos papéis principais.
Ver representadas tão de perto as suas fraquezas, desde as fofocas até os entretenimentos infantis (à espera de que o Papa reapareça, os cardeais jogam bola), feriu a sensibilidade da Igreja. Ou melhor, de seus bispos. Porque do Vaticano não chegou nenhuma censura do longa-metragem. Bento XVI devia ter considerado a questão irrelevante. Em compensação, seus ministros se incomodaram. "Boicotemos na bilheteria. Por que temos que financiar a quem ofende a nossa religião? O fato de que devemos conhecer antes de julgar não vem ao caso: não preciso me jogar do sexto andar para entender que poderia me matar", escreveu Izzo no L’Avvenire.
Contudo, o filme não fala do Vaticano: apenas está ambientado ali. "Habemus Papam não trata de bispos", disse Moretti, "mas da dificuldade de estar à altura das expectativas". É a parábola de uma pessoa ultrapassada pela responsabilidade, que foge para se salvar. Uma obra que fala do poder através dos olhos aterrorizados de alguém que não o quer. Em um país onde muitos se aferram ao seu posto a qualquer custo, talvez o trabalho de Moretti deveria tocar outras sensibilidades.
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Jornal dos bispos italianos sugere boicotar o filme "Habemus Papam", de Moretti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU