15 Janeiro 2011
Os líderes árabes que se assustaram ao ver que os protestos de jovens tunisianos forçaram o envelhecido déspota do país a realizar concessões abrangentes estão tentando ponderar se será necessário mudar suas fórmulas estabelecidas de repressão política.
O comentário é de Tom Pfeiffer, da Reuters, e publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, 16-01-2011.
Parece pouco provável que a violência vista na Tunísia se espalhe e derrube governos autocráticos de Rabat a Riad, em parte porque os movimentos de oposição nesses países são fracos e estão desmoralizados.
Ninguém considera que Túnis seja a Gdansk do mundo árabe, e que os acontecimentos transcorridos lá venham a prenunciar uma sucessão de abalos como os que varreram a Europa Oriental em 1989.
Mas há quem imagine até quando os impopulares governantes da região de monarcas absolutos a revolucionários envelhecidos que continuam aferrados ao poder serão capazes de confiar nos métodos do passado para se manterem no domínio.
Os tumultos sem precedentes que abalaram a Tunísia foram acompanhados com atenção por meio dos canais regionais de TV via satélite e da internet, em todo o Oriente Médio.
Na região, o desemprego alto, a preponderância de jovens na população, a inflação e a crescente disparidade entre ricos e pobres são preocupações graves.
Embora nas últimas décadas a democracia tenha suplantado o despotismo em regiões que no passado eram dominadas por ditaduras, os governos do mundo árabe são quase que uniformemente autocráticos, e os países pesadamente policiados.
BARREIRA PSICOLÓGICA
Mas há quem acredite que o fator medo, que por muito tempo serviu para manter o descontentamento sob controle, foi atenuado.
"Talvez todos os governos árabes estejam monitorando de olhos abertos aquilo que está acontecendo na Argélia e Tunísia", escreveu o colunista Abdelrahman al Rashed no jornal egípcio "Asharq al Awsat". "Muito do que serve para impedir protestos e desobediência civil consiste simplesmente de uma barreira psicológica."
"O ditador da Tunísia prometeu tudo o que podia para deter as manifestações, e a Argélia reverteu suas decisões quanto a preços, mas a barreira psicológica foi removida mesmo assim."
ORÇAMENTOS
A resposta padronizada aos protestos de rua, no Oriente Médio e na África do Norte, onde entre metade e dois terços da população têm menos de 25 anos de idade, é oferecer empregos e alimentos baratos.
Os tumultos em diversas cidades argelinas se aquietaram no final de semana passado depois que o governo prometeu que faria todo o necessário a fim de proteger os cidadãos contra a alta no custo de vida.
Líbia, Marrocos e Jordânia também anunciaram planos para reduzir os preços dos produtos básicos.
Mas os orçamentos desses países estão oscilando ao peso dos alimentos e do combustível importado, e isso reduz, especialmente em nações que não têm reservas de energia, a capacidade das autoridades para debelar o ressentimento popular.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou que a região precisaria criar cerca de 100 milhões de empregos novos até 2020.
"Existe perigo em aceitar de modo passivo demais o argumento de que os governos árabes sempre darão um jeito", afirmou Stephen Cook, do Conselho de Relações Exteriores americano, em seu blog, nesta semana.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Tunísia. Protestos podem influenciar autocracias de países árabes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU