19 Dezembro 2012
Ivan Illich, de quem ocorre nestes dias os 20 anos de seu falecimento, foi um intelectual que praticou o Evangelho como um manual de libertação ignorando o seu lado consolador. Ele havia sido sacerdote. Chegou até o cargo de monsenhor. Depois, se afastou da hierarquia da Igreja. Pertenceu àquela categoria de pessoas que não contornava as dúvidas e as complicações que a modernidade desencadeava.
A reportagem é de Antonio Gnoli, publicada no jornal La Repubblica, 16-12-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mais do que um desprezo pelo progresso, notava-se entre as linhas dos seus livros um certo sarcasmo. Tenho em mente aquelas conversas que tomaram como título Pervertimento del cristianesimo [Perversão do cristianismo] (que apareceram há alguns anos pela editora Quodlibet), sobre cujo rastro, tempos depois, Slavoj Zizek escreveria Il cuore perverso del cristianesimo [O coração perverso do cristianismo].
Se Jesus havia declarado que o seu reino não era deste mundo, a Igreja achou por bem desmentir o seu profeta. As estruturas onipotentes que o catolicismo havia criado foram vividas por Illich profundo mal-estar. A Igreja ou era dos pobres, ou o poder a corromperia e abalaria. Ele se interessou por medicina e escola. Ou seja, por corpos e educação. Os primeiros, desencarnados pelas práticas médicas; a segunda, conformisticamente fadada ao fracasso.
Illich creu na possibilidade de dar vida a uma "sociedade convivial", cujas premissas estavam na parábola do Bom Samaritano. Ele repensou a ideia de "próximo", uma experiência tão inatual a ponto de nos parecer revolucionária. Suportou a dor física (martirizado durante anos por um tumor na bochecha direita), não criminalizou o pecado.
Em um tratado imaginário sobre a ciência da luz, ele ocuparia um lugar de destaque total. O seu saber, devedor de Romano Guardini e Dietrich Bonhoeffer, iluminou as zonas mais temíveis da religião cristã.
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Assim Ivan Illich iluminava o lado escuro da religião - Instituto Humanitas Unisinos - IHU