29 Novembro 2012
Depois de três dias de jejum propostos para toda a comunidade copta, na catedral de São Marcos, no Cairo, no dia 4 de novembro, a mão de um menino de olhos vendados extraiu aleatoriamente um dos três pergaminhos depositados em uma urna de cristal, em cada uma das quais estava escrito um nome. No pergaminho pego pelas mãos do menino lia-se: Anba Tawadros, arcebispo de Beheira, e ele se tornou o 118° papa de Alexandria, patriarca de São Marcos e chefe da Igreja Copta Ortodoxa do Egito.
A reportagem é de David Gabrielli, publicada na revista Confronti, n. 12, de dezembro de 2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Assim terminou assim a sede vacante que iniciara no dia 17 de março de 2012, com a morte do patriarca Shenouda III. Passado o período de luto, haviam sido iniciados os procedimentos para a escolha do sucessor: uma comissão especial composta por nove bispos e por nove leigos, no início de outubro, de uma lista de 17 candidatos, 10 monges e sete bispos, escolheram-se cinco.
Depois, no dia 29 de outubro, um colégio eleitoral de 2.405 membros – bispos, padres, monges, leigos e leigas – reduziu para três candidatos: Tawadros (que se tornou II, na realidade) e dois monges.
Outras Igrejas do Oriente (como a ortodoxa sérvia) e do Ocidente têm modos semelhantes ou muito diferentes para escolher os seus líderes, mas todas, contudo, com marcantes critérios democráticos. A exceção, e há séculos, é a Igreja Católica Romana. Nos primeiros tempos do cristianismo, na verdade, eram os fiéis, clero e povo, que escolhiam o próprio bispo, em Roma e em outros lugares.
Pouco a pouco, na "cidade eterna", o povo foi removido, e o seu direito foi usurpado por algumas famílias nobres, que, com uma parte membros do clero, decidia sobre a eleição do papa. Daí nasceram abusos, violências simonia: e assim, em 1059, Nicolau II estabeleceu que a eleição do bispo de Roma fosse reservada aos cardeais. O seu número variou ao longo do tempo, de 20 a 70, mas em 1975 Paulo VI elevou para 120 o pleno dos cardeais eleitores.
Desde sempre, permaneceu como direito exclusivo do papa escolher os cardeais, e assim foi, agora, no consistório do dia 24 de novembro, durante o qual Bento XVI criou seis novos purpurados, levando o conjunto dos votantes ao pleno estabelecido.
Essa situação – o papa que ferreamente se reserva o direito de nomear o grupo que deverá eleger o seu sucessor – chama a atenção cada vez mais. No Vaticano II, ninguém ousou proferir uma palavra a respeito. Mas, no pós-Concílio, o cardeal Leo Suenens, arcebispo de Malines-Bruxelas, propôs que, com os cardeais, também os presidentes das conferências episcopais entrassem no conclave. Proposta rejeitada.
Em 1973, Paulo VI hipotetizou que também entrassem no conclave os membros do Conselho da Secretaria do Sínodo dos Bispos (12 eleitos pelos Padres Sinodais, três pelo pontífice), mas depois abandonou a ideia.
Um bispo africano, em 1994, sugeriu que o papa criasse mulheres cardeais; outros propuseram que fosse instituído um Senado da Igreja, composto por 200 ou 300 mulheres e homens eleitos nos vários países, com a tarefa de auxiliar o papa e com o direito de entrar, junto com os cardeais, no conclave.
Os pontífices recentes rejeitaram tais hipóteses afirmando: "A Igreja não é uma democracia". Curiosíssimo pretexto! De fato, nenhuma Igreja pensa que, através de um voto de tipo parlamentar, com maiorias e minorias, se possa variar o que afirmam as Escrituras: mas – uma pergunta – como buscar, ao longo dos caminhos complexos da história, a vontade de Deus? Eis, então, Sínodos e Concílios, onde, com a oração, a reflexão e a escuta recíproca, tenta-se entender o que o Espírito indica a quem quer viver coerentemente o Evangelho.
E, então, se vota, como aconteceu no Vaticano II. Quanto aos ministros e pastores da Igreja, como escolher as pessoas que deverão ser consagradas? A normativa atual – salvo os direitos das Igrejas católicas orientais e as de algumas pouquíssimas dioceses da Europa Central – reserva ao pontífice, em princípio, a nomeação dos bispos na Igreja latina. Um poder enorme, que teoricamente poderia ter sido rediscutido à luz das afirmações da constituição Lumen gentium do Vaticano II sobre o "povo de Deus", mas que de fato permaneceu não implementado.
Mas nenhuma mudança do "modo de exercício" do primado petrino, embora destacado pelos papas Wojtyla e Ratzinger, será real sem restituir para as mãos das Igrejas locais o direito-dever de escolher o seu próprio pastor. Como?
As hipóteses são diversas. A prudência nos procedimentos é uma obrigação. Para as modalidades, a fantasia é desejada. Muito útil é o conhecimento da história. Determinantes serão a corresponsabilidade e o senso de comunhão.
E à espera do conclave... se no Tibre não se sabe como navegar, aconselha-se uma viagem pelo Nilo.
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Democracia na Igreja? Quando um menino escolhe o patriarca - Instituto Humanitas Unisinos - IHU