09 Novembro 2012
Religião e política foram as palavras chaves para a mesa redonda promovida pelo IV Encontro Nacional do GT História das Religiões e Religiosidades ontem (8). O evento, que ocorreu na sala Ignacio Ellacuría, na Unisinos, trouxe os professores Oneide Bobsin (EST), Ricardo Mariano (PUCRS) e Aldino Segala (UNISINOS), que apresentaram aspectos diferentes da união político-religiosa.
Oneide Bobsin, professor e reitor das Faculdades EST, iniciou a reflexão falando do estudo de caso da relação da Igreja com a ditadura militar nos anos 70 e 80. Bobsin, que foi aluno de teologia na época do período ditatorial no Brasil, diz que os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 avivam lembranças do ano de 1970. “Lembro do campeonato daquele ano, que, enquanto alguns comemoravam os jogos, outros gritavam de dor por causa da ditadura. Isso é o que a gente pode chamar de ideologia do esquecimento”.
A ditadura não foi ignorada pela Igreja. Tanto é que a Igreja de Confissão Luterana do Brasil – IECLB elaborou em 1970 o “Manifesto de Curitiba”. O documento aprovado no VII Concílio Geral da IECLB apresentou a posição contrária à ditadura e à violação dos direitos humanos, levando em conta que a “mensagem da Igreja em relação ao que acontece no mundo não pode divergir de seu testemunho público”.
Dessa forma, Bobsin comenta que a Igreja se sente chamada para cooperar com as ações do país que não sejam de caráter puramente técnicos. Como exemplo, em 1978, a IECLB criou o documento “Nossa responsabilidade social”, destinado às comunidades. “O documento faz uma análise da situação social do Brasil e vai motivar as comunidades a olhar e agir sob uma perspectiva diferente”, afirma o professor.
A religião no governo
Outro aspecto desse casamento entre política e religião foi abordado por Ricardo Mariano, professor da PUCRS. Mariano analisou um fenômeno que foi explícito nas últimas eleições municipais, especificamente percebido na cidade de São Paulo com o candidato Celso Russomanno: a ocupação religiosa na esfera pública e política. O destaque vai para os pentecostais que, antigamente, não se envolviam no assunto. “Os pentecostais eram vistos como apolíticos, pertencentes do segmento alienado e alienante. Depois isso mudou. Muitos dirigentes resolveram abandonar a aversão à política partidária e adotaram o lema de que ‘irmão vota em irmão’”, comenta Mariano. A partir de 1986, os pentecostais assumiram protagonismo entre os evangélicos brasileiros. Segundo o professor, a denominação protestante, em geral, não lança e apoia candidatos, como uma forma de resistir a essa transformação do "rebanho" em currais eleitorais.
A bancada da Igreja Universal vem diminuindo devido à participação em escândalos de governo, entretanto tem uma boa aliança com os governos Lula e Dilma, principalmente em virtude do aumento da população evangélica no Brasil. “Hoje, quase ¼ da população brasileira é composta por evangélicos”, afirma Mariano. Lula, em sua campanha há 10 anos, buscou o apoio dessa parcela significativa e obteve êxito. A parceria continua com Dilma que, nesse ano, nomeou Marcelo Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, ao cargo de ministro da Aquicultura e Pesca.
Outro aspecto apresentado por Mariano é a “dobradinha evangélica e católica”, que começou nos últimos anos no Congresso Nacional. Segundo o professor, isso acontece porque o tradicionalismo moral vigora em ambas denominações. “Isso ficou muito claro nas eleições de 2010, em que fizeram com que questões de moral religiosas fossem tema principal da época eleitoral. Todo o protagonismo foi conservador”, sublinha e completa: “O ativismo pentecostal na política veio para ficar. Para o bem ou para o mal”.
O ensino religioso no Brasil
Aldino Segala, professor da Unisinos, completou a mesa redonda abordando o ensino religioso e sua relação com a legislação brasileira. Ele comenta que o começo desse ensino no Brasil se deu com a chegada dos jesuítas nos anos 1500, quando houve uma união entre estado e religião muito forte. Depois, entre os anos 1890 e 1930, a fase do período republicano foi marcada pela separação plena dos dois elementos. Só em 1931, com Getúlio Vargas, isso se modificou, tornando-se, então uma separação atenuada do Estado e da Religião. Vargas reintroduziu o ensino religioso nas escolas públicas como caráter facultativo.
O segundo momento dessa época acontece a partir e na Constituição de 1988. Ela aponta o ensino religioso como uma área específica de conhecimento no Ensino Fundamental e aplica isso nas escolas públicas. Segundo Segala, o fato de a Constituição apenas citar as escolas públicas dá liberdade às escolas particulares para formar seu plano curricular sobre o assunto.
Os motivos que tornam o ensino religioso uma área de conhecimento são o conhecimento, a formulação de uma reflexão existencial, a influência da religião na cultura, os preceitos morais que vêm da religião e o intuito de assegurar a diversidade religiosa, que é tão rica no Brasil. Porém, o jeito que o assunto é abordado ainda não é ideal. “Segundo o Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso – Fonaper, o país ainda carece de regras mais claras sobre essa disciplina, visto a sua importância”, finaliza Segala.
Texto e fotos de Natália Scholz
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Mesa redonda aborda relação entre religião e política - Instituto Humanitas Unisinos - IHU