08 Outubro 2012
"Para os moradores das imediações da futura avenida (Avenida Tronco, em Porto Alegre) e que que terão que forçosamente se mudar, há motivos de sobra para não compartilhar da euforia futebolística", escreve Caio Venâncio, 19, é morador de Porto Alegre, em artigo publicado pela BBC Brasil e reproduzido pelo Portal Uol, 07-10-2012.
Eis o texto.
1,4 mil famílias, 3,9 mil pessoas, 1,1 mil edificações. Os números poderiam muito bem se referir a uma cidade interiorana, mas, nesse caso, tratam das remoções de moradores que serão realizadas para a duplicação da avenida Tronco, na zona sul de Porto Alegre.
O projeto prevê duas pistas em cada direção, corredor de ônibus e ciclovia ao longo de toda a sua extensão, desde o Hipódromo do Cristal até a Terceira Perimetral, tudo para descongestionar o acesso à parte sul do município. A obra é uma das adequações da cidade para a Copa de 2014, que será disputada no estádio Beira-Rio, situado a alguns quilômetros do local ( ).
Mas para os moradores das imediações da futura avenida e que que terão que forçosamente se mudar, há motivos de sobra para não compartilhar da euforia futebolística.
Em meio às roupas e brinquedos simples do Brechó da Nice, a proprietária, Erenice dos Reis, uma das tantas que deverá deixar a avenida Moab Caldas, parte da futura avenida Tronco, reclama do processo de remoção das famílias.
''Não estou feliz. Sabemos que os terrenos existem, mas as obras dos condomínios que a Prefeitura nos prometeu ainda não foram iniciadas'', diz. Ela comenta que ainda não sabe exatamente para onde irá.
Indefinição
Segundo a Prefeitura, 43 áreas no entorno da futura avenida ampliada, em bairros como Cristal, Glória e Morro Santa Tereza, foram adquiridas ao custo de R$ 22 milhões, e uma convocação pública está sendo realizada através do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.
Mesmo assim, para ela, as famílias só começarão a sair da região após as eleições. ''Daí o governo vai tirar o pessoal daqui rapidinho. Agora, eles não querem se incomodar'', acredita.
O eletricista Marcelo Figueira critica as reuniões promovidas pela Prefeitura com a comunidade para tratar das remoções.
''Eles (os representantes da Prefeitura) fingiam que nos ouviam. Quando adotavam uma sugestão nossa, ela vinha daqueles que estão com eles'', comenta.
Marcelo afirma que entre os que optaram por receber o bônus moradia de R$ 52.340 oferecido pelo governo municipal, a situação é ainda pior.
''Essas pessoas não conseguem achar casas aqui na região por esse valor. Acabam sendo forçados a mudar para bairros mais distantes'', relata.
Ele acrescenta: ''É ainda pior, as avaliações dos imóveis não costumam atingir esse valor de mais ou menos R$ 52 mil , que é o máximo. Com uma quantia menor, a tarefa de arranjar um lugar para morar aqui na região se torna quase impossível''.
A duplicação da avenida Tronco (cuja extensão total é de 5,3 km) tem previsão de conclusão para novembro de 2013. Através do site é possível acessar informações sobre a remoção das 1,4 mil famílias das vilas Silva Paes, dos Comerciários, Cristal, Cruzeiro do Sul, Tronco, Gastão Mazeron e Maria, comunidades onde a maioria é de moradores de baixa.
Na região, um escritório, denominado Nova Tronco, foi instalado pela Prefeitura para que os moradores pudessem tirar suas dúvidas.
Por enquanto, ninguém teve de deixar seus lares, e o governo municipal já repassou 57 bônus-moradia, totalizando R$3.035.953,48.
Ainda não há data para as primeiras remoções. A reportagem entrou em contato com a assessoria da, mas foi informada de que o secretário Urbano Schmitt não falaria sobre o assunto a poucos dias da eleição, pois a questão estaria superada.
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Moradores de Porto Alegre criticam remoções forçadas para obras da Copa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU