05 Outubro 2012
“Quando assisto a um filme, o assisto para ler. Encontro no cinema um lugar de expressão do mistério”. Com essa frase, o teólogo italiano Massimo Pampaloni (foto) propôs à plateia compreender o sentido do mistério através do cinema.
Em sua palestra sobre o tema “Semânticas do Mistério no cinema”, durante o XIII Simpósio Internacional IHU – Igreja, Cultura e Sociedade, o teólogo italiano explicou o cinema como possibilidade de expressão do Mistério. Para isso, é preciso compreender o filme como uma obra de comunicação, porque o filme é feito para comunicar. “Quem assiste a um filme precisa absorver o conteúdo, não está passivo. Muitas vezes assistimos aos filmes e bebemos do veneno por desligarmos o cérebro e não absorvermos o conteúdo”, comenta o teólogo sugerindo a superação do analfabetismo cinematográfico.
“Como o cinema pode provocar conteúdos comunicativos em quem assiste a um filme?”, questiona. Para ele, um filme de verdade é aquele que “proporciona o mistério”. Portanto, devemos entender o mistério, e ele está ligado ao silêncio ou a algo fechado. “É como fechar os olhos para algo, ou seja, o mistério é algo ligado ao escuro, mas com a espera de uma luz, algo que vem e te leva para outro lugar, algo que não pode ser dito”, esclarece. E complementa: “Não posso explicar o mistério, mas posso apresentar algumas coisas que provoquem em você aquilo que eu quero dizer. Posso propiciar algo que depois precisa acontecer dentro de você. E o filme proporciona isso”.
O teólogo diz que uma dimensão espetacular no filme é importante, mas não deve se tornar o objetivo do filme, apenas deve auxiliar o conteúdo. Durante a sua fala, Pampaloni explica que “fazer um filme religioso não significa colocar a imagem de Nossa Senhora”, ou seja, colocar o mistério no filme também o torna religioso. Para fazer e entender um filme não são suficientes os olhos. Um filme fala uma linguagem particular.
O palestrante selecionou dois filmes para demonstrar o mistério no cinema, um deles foi “La double vie de Vêronique”, de Krzysztof Kieślowski, e o outro “La dolce vita”, de Federico Fellini. Ele utilizou estes dois filmes para salientar que “hoje a parte espiritual do homem está doente” e que a maioria das pessoas não compreende os filmes, porque materializam os sentimentos. Segundo ele, as pessoas param para analisar a representação material e não o conteúdo espiritual.
“Ainda que hoje a dimensão transcendente da vida pareça morta, existe um “mistério” que guia o ser humano. É preciso que ele saiba ler os sinais arcanos e misteriosos por meio dos quais este “mistério” o chama para a redescoberta e a consequente integração profunda na sua vida de tal dimensão, a qual, apesar das aparências, não pode morrer”, pontua o teólogo.
Para finalizar sua palestra, Massimo Pampaloni constata que “quem faz um filme deve conhecer o instrumento que consiga provocar conteúdos comunicativos em quem assiste e conhecer a linguagem cinematográfica. Um diretor só pode passar o Mistério se ele está querendo passar o Mistério, ou seja, se tiver a inquietação sobre a temática”.
Confira a entrevista de Massimo Pampaloni à edição 403 da IHU On-Line.
Por Luana Taís Nyland
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Um filme de verdade é aquele que “proporciona o mistério” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU