Queimadas no Brasil podem afetar oceanos

Mais Lidos

  • Eles se esqueceram de Jesus: o clericalismo como veneno moral

    LER MAIS
  • Estereótipos como conservador ou progressista “ocultam a heterogeneidade das trajetórias, marcadas por classe, raça, gênero, religião e território” das juventudes, afirma a psicóloga

    Jovens ativistas das direitas radicais apostam no antagonismo e se compreendem como contracultura. Entrevista especial com Beatriz Besen

    LER MAIS
  • Ecocídio no Congresso Nacional. Artigo de Carlos Bocuhy

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

17 Agosto 2012

Uma nova pesquisa revela que restos de plantas carbonizadas na Mata Atlântica - uma consequência das queimadas na agricultura - estão vazando do solo para rios, chegando até o oceano. A entrada desse resíduo (chamado de carbono negro) no ecossistema marinho pode prejudicar espécies animais e vegetais - mais testes são necessários para confirmar essa hipótese.

A notícia é publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 18-08-2012.

A equipe de cientistas liderada pelo biogeoquímico especializado em sistemas aquáticos Carlos Eduardo de Rezende, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, no Rio, e pelo geoquímico Thorsten Dittmar, do Instituto Max Planck de Microbiologia Marinha em Bremen, na Alemanha, descobriu altos níveis de carbono negro no Rio Paraíba do Sul (que banha São Paulo, Minas e é o principal do Rio de Janeiro) e no solo da região.

No Vale do Paraíba, ainda há queimadas da cana-de-açúcar todos os anos, mas, segundo os pesquisadores revelaram no site da Nature Geoscience, apenas essa prática não poderia ser responsável pela quantidade de carbono negro que eles identificaram.

Para determinar quanto carbono negro a floresta queimada produziu originalmente, Rezende e seus colegas buscaram pistas em outro bioma brasileiro, a Amazônia. Como outros estudos calcularam a taxa de carbono negro produzida por incêndios na floresta amazônica, os cientistas combinaram esses números aos índices históricos de queimadas na Mata Atlântica.

O resultado dessa conta mostrou que foram emitidos de 200 milhões a 500 milhões de toneladas de carbono negro na Mata Atlântica. Para que apenas metade dessa quantidade seja expelida do solo, levariam de 630 a 2.200 anos, de acordo com os especialistas.

O carbono negro geralmente escapa do solo quando a água da chuva carrega o material até os rios, que por sua vez despejam os resíduos no Atlântico.

Amostras. Para calcular quanto de carbono pode estar sendo adicionado ao mar, os cientistas coletaram amostras do Paraíba do Sul a cada 15 dias, entre os anos de 1997 e 2008. Eles descobriram que o carbono negro dissolvido continua a ser expelido pelo solo todos os anos, em níveis aproximadamente constantes, durante a estação mais chuvosa.

De acordo com eles, apenas o Paraíba do Sul é responsável pela entrada anual de mais de 2,7 mil toneladas dos restos da antiga mata no oceano. Com base nesses dados, Rezende e seus colegas estimaram que toda a área devastada da floresta despeja de 50 mil a 70 mil toneladas de carbono negro dissolvido no ambiente marinho.

O que acontece com esse carbono negro após sua entrada no oceano ainda é um mistério. Uma pesquisa anterior descobriu carbono negro em áreas profundas e remotas nos arredores da Antártida.

Para Dittmar, a maior parte desses resíduos acaba sendo depositadas no fundo dos oceanos, em todo o planeta. Mas apenas novas pesquisas poderão revelar o quanto desse carbono negro que sai dos rios chega às profundezas oceânicas e como ele pode afetar a vida marinha - em especial as comunidades de micróbios que vivem e se alimentam de pequenas partículas orgânicas.