10 Abril 2012
A ideia se tornou concreta durante uma caminhada no interior, há um mês, e um bate-papo entre a historiadora Lucetta Scaraffia, Ritanna Armeni e o diretor do L'Osservatore Romano, Giovanni Maria Vian. O prólogo, em certo sentido, havia sido encenado antes do Natal, no dia 19 de dezembro, no Palazzo Borromeo, sede da embaixada italiana junto à Santa Sé. Era apresentado Uno sguardo cattolico [Um olhar católico], livro que reúne 100 editoriais publicados entre 2007 e 2011 pelo jornal da Santa Sé. E Ritanna Armeni, mulher de esquerda que foi porta-voz de Bertinotti, observou com um toque de sarcasmo: "Para mim, mas não só para mim, é importante ver as assinaturas de tantos editorialistas, de tantas mulheres no L'Osservatore. Há muitas mais do que se poderia supor. Certamente, mais do que os de muitos grandes jornais que se dizem seculares e progressistas, que lutam pela dignidade das mulheres e depois as confiam, em grande parte, às páginas de notícias e de moda".
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 07-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
E assim, da reviravolta "rosa" do L'Osservatore – nascida com a direção de Vian e propiciada por Bento XVI – até a ideia de uma inserção de feminino, o passo foi curto. Pelo menos no início terá quatro páginas e periodicidade mensal, e o título de trabalho é "Mulheres, Igreja, Mundo", mesmo que tudo ainda esteja na fase inicial: está se começando a trabalhar no número zero, a esperança é de estrear no final de maio.
Seculares e católicas, conservadoras e liberais, crentes e não crentes ou crentes de outras religiões: "Não é o Pravda", brincava o diretor. E certamente será uma passagem histórica para o Vaticano se considerarmos que a primeira mulher que pôde entrar nos Sagrados Palácios foi, nos anos 1920, Teodolinda Banfi, governanta de Pio XI.
Enquanto isso, muita água, também no Vaticano, passou debaixo da ponte. Há mulheres em posições de responsabilidade nas universidades e nos dicastérios vaticanos. Em 2008, Silvia Guidi foi a primeira jornalista a ser contratada pelo jornal. Giulia Galeotti se somou à editoria de Cultura. A edição semanal em inglês do L'Osservatore é toda feminina: duas inglesas, suas norte-americanas e uma australiana.
Além disso, as páginas coordenadas por Scaraffia, Armeni e Galeotti serão uma inserção ao feminino, e não uma "inserção feminina" na acepção corrente. A ideia é criar uma publicação mundial sobre as notícias e as questões que se referem às mulheres, e não só na Igreja. Uma entrevista em todos os números, é claro, será dedicada a uma figura feminina da Igreja. Mas notícias, cultura, investigações irão variar sobre tudo o que diz respeito às mulheres.
O L'Osservatore se dirige ao planeta, e a inserção tem a mesma ambição. Já se pensa em uma versão inglesa no site. De todo o mundo, portanto, virão as contribuições, "um recorte mundial tanto nas colaborações quanto nas notícias", começando por editorialistas e assinaturas do jornal. Dentre outras, além das "coordenadoras", a historiadora Anna Foa e Laura Palazzani, Sylvie Barnay, Marta Lago, Marguerite Peeters, Isabella Ducrot, Cristiana Dobner, Sandra Isetta.
Uma abertura elogiada pelo próprio Bento XVI na mensagem pelo 150º aniversário do jornal: "Neste tempo, o jornal da Santa Sé se apresenta como um 'jornal de ideias', um órgão de formação e não só de informação. Por isso, deve saber manter fielmente a tarefa desenvolvida neste século e meio, com atenção também para o Oriente cristão, ao irreversível compromisso ecumênico das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais, à busca constante de amizade e de colaboração com o Judaísmo e com outras religiões, ao debate e ao intercâmbio cultural, à voz das mulheres, às questões bioéticas. Continuando a abertura a novas assinaturas – entre as quais as de um número crescente de colaboradoras...".
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As mulheres do L'Osservatore Romano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU