13 Fevereiro 2012
A proibição do uso das sacolas plásticas tornará as estradas e os oceanos mais limpos? Ou isso simplesmente irritará os consumidores e, prejudicará as fábricas que utilizam sacolas recicladas para fazer coisas como estacas de cercas?
A reportagem é de Kate Galbraith, publicada pelo International Herald Tribune e reproduzida pelo Portal Uol, 13-02-2012.
Essas são algumas das questões que foram furiosamente discutidas em uma reunião pública aqui, na capital do Estado do Texas, na semana passada, em um momento no qual Austin cogita impor uma ampla gama de restrições ao uso de sacolas plásticas.
Ronnie Volkening, presidente da Associação de Comerciantes do Texas, chamou a proposta de proibição de draconiana e advertiu que isso poderia “provocar caos e confusão para os clientes”.
Mas Robin Schneider, diretor executivo da Campanha pelo Meio Ambiente do Texas, respondeu a Volkening dizendo que as sacolas plásticas têm o mau hábito de voar para todos os lugares e acabar sendo comidas por animais, de forma que a proibição ajudaria o meio ambiente.
Discussões como essa são cada vez mais comuns em todo o mundo, e as comunidades deparam-se com questões relativas à regulamentação das sacolas plástica distribuídas nos caixas dos estabelecimentos comerciais. Países como a China e a Irlanda e municipalidades como a Cidade do México já adotaram proibições e impostos relativos às sacolas plásticas. Na última terça-feira (7), autoridades municipais de São Francisco votaram pela renovação de uma proibição das sacolas de plástico que está em vigor e pela exigência de que cada comprador pague dez centavos por sacolas de papel.
A questão chamou a atenção da Comissão Europeia, que deverá baixar uma regulamentação referente ao lixo plástico na próxima primavera da Europa. Uma pesquisa feita pela comissão, publicada em novembro do ano passado, revelou que cerca de 78% dos mais de 15 mil entrevistados apoia as iniciativas no sentido de reduzir o uso de sacolas de plástico no âmbito da União Europeia, e a maioria deles é favorável a uma proibição. Janez Potocnik, a eslovena que é a comissária europeia para o Meio Ambiente, manifestou preocupações quanto à “sopa plástica” presente nos oceanos – o acúmulo de volumes enormes de minúsculos nódulos plásticos.
Vários países europeus já adotam algum tipo de imposto sobre o uso de sacolas de plásticos, ou outras políticas que têm por objetivo reduzir o uso desses produtos. Mas há uma variação substancial quanto a isso de acordo com o país e o tipo de loja. E isso pode gerar confusão para os viajantes.
“Nós não devemos esperar que legislações nacionais sejam impostas em um Estado de cada vez, porque demoraria anos para que cada país instituísse as medidas de desincentivo corretas”, argumenta Chris Carroll, um dos representantes do grupo ambiental Seas at Risk, com sede em Bruxelas, que deseja ver ações no âmbito da União Europeia para combater o uso das sacolas de plástico. O europeu médio ainda usa até 500 sacolas plásticas por ano, diz ele. A maioria dessas sacolas só é utilizada uma única vez.
A indústria de produtos plásticos opõe-se a uma proibição das sacolas ou à instituição de impostos sobre o uso delas no nível da União Europeia. Segundo Thomas Bauwens, porta-voz do grupo comercial PlasticsEurope, as sacolas plásticas são uma forma sustentável e de baixo consumo energético para transportar compras. Segundo ele, o problema real é “a inserção irresponsável das sacolas plásticas no lixo e a ignorância sobre o valor delas”.
De acordo com Bauwens, uma solução melhor do que a aplicação de impostos seria “a criação de um preço comercial para as sacolas plásticas, conforme já se faz em vários países europeus”, ou a concessão aos consumidores de bonificações em cartões de lealdade do freguês quando estes se recusarem a utilizar as sacolas.
Para os lugares que estão cogitando a proibição das sacolas plásticas ou a aplicação de taxas sobre elas, uma questão importante é determinar que efeito elas tiveram em relação ao meio ambiente, o comportamento do consumidor e os grupos que dizem que serão prejudicados caso sejam aplicada políticas restritivas.
É surpreendentemente difícil encontrar pesquisas acadêmicas rigorosas sobre isso. No entanto, um estudo altamente citado, de 2007, revelou que a imposição de uma taxa de 15 centavos de euro (US$ 0,20) sobre o uso das sacolas teve um efeito drástico na Irlanda. O estudo, publicado no periódico “Environmental and Resource Economics”, mencionou uma redução de 94% do uso de sacolas plásticas.
O estudo revelou também que os vendedores assumiram geralmente uma postura “neutra ou positiva” em relação à proibição, já que os custos da implementação foram contrabalançados pela economia resultante do fato de eles terem de comprar menos sacolas. Os compradores também ficaram, de maneira geral, satisfeitos com essa política, conforme revelou uma pesquisa por telefone com moradores de Dublin.
Mas as políticas variam tremendamente de um lugar para outro, e as evidências informais de sucesso também variam de forma correspondente.
Em 2008, pouco antes das Olimpíadas de Pequim, a China resolveu tomar uma providência quanto a esse problema e proibiu a utilização de sacolas plásticas extremante finas, segundo Tom Wang, diretor de comunicação do escritório do Leste da Ásia do grupo ambiental Greenpeace. O país também proibiu que os supermercados e férias ao lar livre fornecessem sacolas de plástico gratuitamente.
Segundo Wang, a política surtiu resultados já que mais pessoas estão levando as suas próprias sacolas para os estabelecimentos comerciais, especialmente nas grandes cidades. No entanto, ele acrescenta que as inspeções necessárias para impor essas políticas são “fracas e, até certo ponto, inexistentes”. Ele diz que o resultado disso foi que “em muitos mercados locais, especialmente nas feiras onde se vende carne, peixe e legumes, as sacolas de plástico ultrafinas continuam sendo utilizadas e as sacolas plásticas de outros tipos ainda são fornecidas gratuitamente”.
Talvez um dos aspectos mais surpreendentes da proibição do uso de sacolas plásticas seja a diversidade geográfica dos locais em que essa medida foi imposta. As políticas de proibição do uso de sacolas foram instituídas em locais que estão muito além de lugares de mentalidade tradicionalmente ecológica como a Califórnia e a Europa. No Texas, um Estado que se orgulha das suas enormes picapes e da exploração de petróleo, três comunidades impuseram a proibição, em graus variáveis, das sacolas plásticas no ano passado.
Uma delas é South Padre Island, uma comunidade praiana muito frequentada pelos turistas, que começou a impor uma política de redução do uso de sacolas plásticas em janeiro passado.
Perto de South Padre, uma outra política de proibição de sacolas plásticas vigora na cidade fronteiriça de Brownsville, uma das mais pobres cidades grandes do Texas.
Fort Stockton, uma terceira comunidade que adotou uma medida contra as sacolas, fica em uma área de exploração de petróleo e de fazendas de gado na região remota do oeste do Texas. As sacolas plásticas, levadas pelo vento, ficavam presas a cercas de arame farpado, a cactos e às árvores da região conhecidas como mesquites, segundo Darren Hodges, um dos vereadores que defenderam a proibição.
Segundo Hodges, desde que a medida entrou em vigor no outono norte-americano do ano passado, os moradores estão se acostumado cada vez mais a levar sacolas reutilizáveis para as compras. E ele diz que o problema do lixo está melhorando, e que há menos sacolas plásticas presas a cerca e aos cactos.
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Sacolas plásticas: proibir ou deixar tudo como está? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU