02 Novembro 2013
No dia em que a Rádio Vaticano comemora o 20º aniversário da morte de Federico Fellini, recordando as discordâncias de 1960, quando diversas personalidades do mundo católico criticaram a estreia do "escabroso" La Dolce Vita, o Vaticano parece refazer os mesmos passos, surpreendentemente.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 01-11-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Desta vez é Dario Fo, segundo o que o próprio prêmio Nobel declara em uma carta aberta, que está sendo censurado. "A Santa Sé não nos autoriza a prosseguir com o texto de Franca [Rame]", diz.
Revelando dessa forma a recusa do Vaticano de conceder a autorização para o seu espetáculo comemorativo sobre Rame e sobre o livro In fuga dal Senato, previsto para o próximo 18 de janeiro no palco do Auditorium della Conciliazione, em Roma, de propriedade da Santa Sé.
O espetáculo retoma as reflexões póstumas de Rame impressas pela editora Chiarelettere. A atriz contou nelas a sua experiência como senadora, entre abril de 2006 até a renúncia em janeiro de 2008, e as batalhas travadas ao longo da sua vida.
Quem exatamente rejeitou o espetáculo no Vaticano? O proprietário do Auditório é a Apsa, a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica, liderada pelo cardeal Domenico Calcagno. O dicastério deixou até 2017 a concessão exclusiva dos espaços à I Borghi, a sociedade do número dois da UDC, Lorenzo Cesa, que normalmente não tem mais nada a fazer do que pedir um consentimento "pro forma" para a Apsa para a exibição dos espetáculos.
No passado, a Apsa deu o seu consentimento para Fo, "por exemplo – explica o Nobel – quando recitamos Mistero Buffo". Por que, então, hoje a rejeição? Diz Fo: "Explicitamente, eles declararam: 'Nada de palco para Dario Fo e Franca Rame'". E ainda: "Não me deixar ir ao palco no seu teatro é um gol contra aterrorizante. Eles me deram um grande presente, talvez me querem bem, porque só estão fazendo publicidade para mim".
Para Fo o bloqueio equivale a um gol contra: "Agora, muitos teatros em Roma vão querer ainda mais esse espetáculo. Como aconteceu também quando nos expulsaram da Rai. Nós nos tornamos uma das companhias que faziam as maiores arrecadações na Itália", acrescenta o prêmio Nobel. "Curiosamente, justamente hoje, me chegou também a notícia da terceira edição do livro de Franca".
E ainda: "Exultamus! Todos gritamos de alegria pela aparição do Papa Francisco. O fato é que a sua eleição é algo realmente extraordinário, porque esse papa é o símbolo excepcional da renovação da Igreja".
Mas, "embora agora haja um papa como Francisco, que vai ao encontro das pessoas, sofre a indigência dos outros e sente a necessidade de trazer uma renovação, interrompendo por exemplo as ritualidades pomposas, evidentemente, em seu interior, a Igreja ainda não muda".
E finalmente: "Eles não entenderam em que mundo eles vivem hoje. Não se deram conta de que o vento não é mais aquele".
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Vaticano censura espetáculo de Dario Fo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU