Por: Jonas | 02 Novembro 2013
São conhecidos como “nem nem” – nem estudam, nem trabalham – e estão se tornando um freio para o crescimento com inclusão na região. Rafael Rofman, especialista em Proteção Social do Banco Mundial, faz uma radiografia da geração dos “nem e nem” na América Latina, onde, na sua avaliação, o abandono escolar no ensino médio tem um preço alto e a demanda por trabalho qualificado deixa os jovens fora do sistema.
A entrevista é de María Victoria Ojea, publicada por El País, 31-10-2013. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
No momento, há mais jovens desocupados do que antes?
Na América Latina, o fenômeno não é novo. Os “nem e nem” são os jovens que abandonaram o sistema escolar, e que em geral não terminaram o ensino médio e não conseguiram se inserir no mercado de trabalho. Há 10 anos, as taxas de desocupação de todas as idades eram muito altas. Graças a melhoras econômicas, baixou o nível de desocupação dos adultos e ficou visível neste grupo que não se integra. A desocupação dos jovens agora é de 14%, mas continua sendo alta em comparação com a dos adultos que é de 6%.
Este é um fenômeno exclusivo dos países mais pobres?
Pelo contrário. Em grande medida corresponde a países de renda média ou média alta. Todos esses países possuem problemas sérios para que os jovens terminem o ensino médio. Nas últimas décadas, houve melhoras em torno da assistência escolar, mas está demorando muito para que 100% dos jovens concluam o ensino médio. E nos países que estão economicamente melhor, é cada vez mais alta a demanda por trabalho qualificado. Por exemplo, no Brasil, Argentina ou México é solicitado o ensino médio completo e experiência para um posto de vendedor de telefones celulares. Pedem porque sabem que terão maior capacidade de venda. E os que não cumprem com este requisito ficam fora do sistema. Então, o preço por não terminar o ensino médio é cada vez mais alto, especialmente nos países mais desenvolvidos.
De quantas pessoas estamos falando?
Em toda a América Latina, há quase 22 milhões de jovens (21,7 milhões) que não conseguem um emprego formal, nem estão no sistema escolar. No México, são oito milhões de pessoas – ou a quarta parte da população em idade de finalizar o ensino médio, ir à universidade ou buscar seu primeiro emprego. Ao passo que no Uruguai quase quatro em cada dez jovens não estudam, nem trabalham e não procuram emprego ativamente.
Que medidas podem ser tomadas para resolver o problema?
A mais importante de todas é frear o fluxo de novos “nem e nem”. Conseguir que os jovens terminem o ensino médio e reduzir o abandono. É necessário um forte trabalho do sistema educativo. Que não expulse jovens, que os detenha e que os entenda.
E o que se pode fazer a partir do mercado de trabalho?
Em paralelo, é preciso trabalhar com a oferta e demanda de trabalho. Do lado da oferta, começar conseguindo corrigir as debilidades com as quais esta geração chega ao mercado de trabalho. Oferecer capacitação específica, como cursos de torneiro, de pedreiro ou de programador informático. E garantir que no mercado haja demanda por esse trabalho. O Estado também precisa intermediar, tem que encontrar empregadores e potenciais trabalhadores. Do lado da demanda, os empregadores, por razões equivocadas, mas compreensíveis, exigem em suas buscas que a pessoa tenha o ensino médio completo ou boa presença. Coisas que nem para o trabalho, nem para o empregador significam muito, mas servem para selecionar o universo de possíveis candidatos. O Estado pode impedir isto legalmente, estabelecendo normas de antidiscriminação e dando incentivo às empresas para contratar estes jovens.
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Os "nem nem". “O preço por não terminar o ensino médio é cada vez mais alto”, afirma especialista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU