Por: Jonas | 10 Outubro 2013
A embarcação que naufragou em águas italianas, com centenas de imigrantes africanos, seria de um bando de traficantes líbios. O capitão era tunisiano e já tinha sido apreendido por esse crime.
A reportagem é de Elena Llorente, publicada no jornal Página/12, 09-10-2013. A tradução é do Cepat.
Ao mesmo tempo em que outros 24 corpos foram encontrados sob as águas em torno da ilha mediterrânea de Lampedusa, ontem à tarde – o total de vítimas da embarcação submergida há uma semana chega agora a 274 –, e as autoridades apreendiam o suposto capitão da barcaça, os ministros do Interior da União Europeia (UE) discutiam, em Luxemburgo, um novo plano para enfrentar a emergência dos milhares de refugiados e imigrantes que chegam em busca de paz e trabalho na Europa e, muitas vezes, encontram apenas a morte.
A comissária europeia para os Assuntos Internos, Cecilia Malmstron, disse na reunião de Luxemburgo que era preciso “uma grande operação de segurança e de socorro no Mediterrâneo, do Chipre até a Espanha”. Malmstron disse que uma das primeiras coisas que pediu aos Estados membros é uma contribuição para reforçar o orçamento da Frontex – a entidade europeia responsável por controlar as fronteiras -, reduzido de 118 milhões de euros, em 2011, para 85 milhões, em 2013. Para que isto se concretize é necessário o acordo dos ministros e apesar do fato de que em outros momentos havia um profundo desacordo sobre assuntos como este, nesse momento, Lampedusa parece ter despertado certa sensibilidade em algumas autoridades da UE. A Comissão Europeia anunciou, de sua parte, que organizará uma ampla operação para prevenir tragédias como a de Lampedusa. Malmstron acompanhará o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, em sua visita a Lampedusa, hoje, quarta-feira, onde se encontrarão também com o ministro do Interior italiano, Angelino Alfano. “As leis sobre a imigração, como a italiana, são questões de competência nacional sobre as quais a Comissão nada pode fazer - disse Barroso -. Contudo, sobre os desembarques sim. A Europa deve atuar se assegurando que os países sob pressão recebam a solidariedade de toda a UE”. Estas eram as palavras tranquilizadoras que Alfano esperava escutar, quando dentro da Itália seu partido, o Povo da Liberdade, está sendo surrado por todas as histórias de seu líder, Silvio Berlusconi, e também porque Lampedusa desatou todos os ódios contra uma lei injusta e conservadora, a lei Bossi-Fini contra a imigração clandestina, elaborada por dois aliados de Berlusconi e aprovada em um de seus governos.
Também a Amnesty International fazia eco das reclamações, pedindo à União Europeia (UE) e aos governos dos Estados membros “atuar com determinação para prevenir subsequentes perdas de seres humanos no Mediterrâneo e proteger os direitos humanos dos migrantes e refugiados”. É preciso recordar que, na última primavera europeia, chegaram a 100.000 os pedidos de asilo político da UE, boa parte deles de russos, sírios e kosovares, segundo Eurostat, o departamento estatístico da UE. No segundo trimestre de 2013, os requerentes de asilo aumentaram em 50% em comparação com o ano passado. Itália, Malta, Grécia, Chipre, Bulgária e Espanha são as portas de acesso à UE por parte dos migrantes vindos da África e da Ásia. Em 2012, houve 330.000 pedidos de ingresso, 77.500 deles para ir à Alemanha, seguidos de França (60.600), Suécia (44.000), Reino Unido (28.000) e Bélgica (28.000). A Itália recebeu apenas 15.000 pedidos, segundo Eurostat.
Traficante de seres humanos
Kaled Bensalam, um tunisiano de 35 anos, que aparentemente trabalhava para uma organização de traficantes líbios, foi detido entre os imigrantes alojados nos centros de recepção de Lampedusa. Vários deles, interrogados pela polícia, reconheceram-lhe como o “comandante” do barco que os transportou das costas líbias.
O suposto comandante, que num primeiro momento disse que era um dos imigrantes e que tinha pagado mil euros por viagem, em seguida, reconheceu parte de seu papel. Segundo testemunhas que o acusam e que o chamam de “white man” – o homem branco, dado que todos os que viajavam eram negros de Eritreia e Somália -, ele próprio teria organizado a viagem das pessoas do deserto líbio até Misrata, na costa mediterrânea. Pelo que parece, também teria sido quem incendiou um cobertor para chamar a atenção de um barco pesqueiro que passava perto, mas não pôde controlá-lo e a barcaça acabou pegando fogo integralmente e se afundou. Bensalam já era conhecido na Itália. Em abril passado, segundo a polícia, foi detido pelas autoridades italianas após ter desembarcado 250 pessoas nas costas da península. Contudo, não cumpriu a pena, mas foi deportado para seu país. Agora, é acusado pela Justiça italiana de “homicídio, de favorecer a imigração clandestina e de naufrágio”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Lampedusa. Detiveram o capitão da embarcação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU