''Estamos sob ataque, 70 igrejas incendiadas'': os cristãos coptas no terror

Mais Lidos

  • "A ideologia da vergonha e o clero do Brasil": uma conversa com William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • O “non expedit” de Francisco: a prisão do “mito” e a vingança da história. Artigo de Thiago Gama

    LER MAIS
  • A luta por território, principal bandeira dos povos indígenas na COP30, é a estratégia mais eficaz para a mitigação da crise ambiental, afirma o entrevistado

    COP30. Dois projetos em disputa: o da floresta que sustenta ou do capital que devora. Entrevista especial com Milton Felipe Pinheiro

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

22 Agosto 2013

Nos dias em que o Exército desocupa as praças e as mesquitas do Cairo ocupadas pela Irmandade Muçulmana, em Fayoun, Suez, Gizé, Minya e na própria capital, outros coirmãos queimam as igrejas coptas, agridem bispos e monges, sequestram os fiéis depois de destruir suas casas.

A reportagem é de Pietro Del Re, publicada no jornal La Repubblica, 21-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Essa onda de violência, que os islâmicos justificam pelo fato de que a Igreja copta apoia os protagonistas do golpe de Estado do dia 30 de junho, aterroriza a minoria cristã do Egito (10% de uma população de cerca de 84 milhões), já provada pelas vexações sofridas durante a presidência de Mohammed Morsi.

"Estamos sob ataque. A cada hora recebemos notícias de um convento, de uma igreja ou de uma casa pertencente a um cristão em chamas", explica o sacerdote copta Bola Morkos, que encontramos na Igreja de Santa Maria do Cairo. "Até hoje, as igrejas atacadas, católicas, ortodoxas ou evangélicas, são mais de 70".

O bispo de Giza, Antonius Aziz Muna, aponta o dedo contra a Irmandade, que diz estar ligada à Al-Qaeda e ao Hamas. "O seu objetivo? Propagar as desordens em todo o país". Enquanto isso, o bispo copta católico de Luxor, Dom Youhannes Zakaria, vive há dias segregado em casa porque está sitiado pelos islamitas: "Os manifestantes pró-Morsi chegaram ao bispado gritando 'Morte aos cristãos'. Fomos salvos pela polícia, e agora o exército patrulha o edifício com dois veículos blindados".

Mas soldados e policiais não conseguiram impedir que as chamas destruíssem muitas outras igrejas, incluindo as de São Jorge, em Arish, de Santa Maria, em El Naziah, de Santa Damiana, em Fayoum, de Santo Antônio, em Gizé.

A raiva islâmica não poupou os bens dos cristãos, porque, nestas horas, também foram destruídas e saqueadas 85 lojas, 58 casas, 16 farmácias e três hotéis. Segundo o balanço fornecido pela Asia News, contam-se entre os cristãos sete mortos e centenas de feridos. A região mais atingida é a do Alto Egito, onde, com medo de novas violências, os coptas se entrincheiraram em suas casas.

Como explica Viviane Fouad, ativista pelos direitos humanos e muito próxima do papa copta, o patriarca de Alexandria, Teodoro II, nos últimos dias, os islamitas sequestraram vários comerciantes cristãos na esperança de obter um resgate.

"Durante a presidência Morsi, tínhamos perdido a nossa identidade: não só não éramos representados por nenhum político, mas também a Irmandade tinha tentado até nos impedir de celebrar o Natal e a Páscoa. Vivemos a revolução do dia 30 de junho passado como uma libertação do opressor", acrescenta Fouad.

Talvez seja por isso que, no dia 3 de julho passado, depois da destituição de Morsi, Teodoro II apareceu na TV ao lado do general Abdel Fattah Al-Sisi, o novo rais do Cairo. "E seria essa a nossa culpa? Seria esse o motivo de tanto ódio contra nós?", exalta-se o sacerdote de Santa Maria. "Não, o rancor que a Irmandade Muçulmana alimenta por nós é mais antigo, tem raízes mais profundas. São pessoas sanguinárias, intolerantes, que amam a violência".

São tão violentos a ponto de merecer a sanguinária repressão do exército?, perguntamos. "Sim, porque são terroristas", responde o sacerdote Bola Morkos. "Quando saem às ruas, duas em cada dez pessoas estão armadas. Mas as outras oito as protegem, as escondem, se preciso, as ajudam a fugir quando a polícia chega".

Recém-eleito presidente, Morsi havia se declarado o defensor dos coptas, mas, pouco depois, aprovou uma Constituição que, embora defendendo a liberdade de culto, estabelecia que o Islã era a religião de Estado. Para eles, que se consideram os primeiros egípcios – porque a palavra "copta" vem do grego aigyptios (que se tornou primeiro gipt e depois qibt) e cujas origens remontam à pregação de São Marcos no ano 42 d.C. –, é um banho de água fria.

Para a maior comunidade cristã do Oriente Médio, o presidente depois deposto se tornou um inimigo. Foi assim que os coptas decidiram apoiar o exército do general Al-Sisi, que os retribui como pode, mas não o suficiente. A não ser instrumentalizando as violências contra os coptas para justificar o tacão de ferro debaixo do qual está esmagando os "terroristas".