24 Julho 2013
A visita do papa Francisco a Aparecida, no interior de São Paulo, retoma o debate liderado pelo próprio pontífice há seis anos sobre a guinada da Igreja Católica Apostólica Romana em direção aos mais pobres. Foi na cidade paulista, em 2007, que o então cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, defendeu o trabalho pastoral e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) ao comandar a redação do documento da mais recente conferência do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), responsável por dar a linha de ação da igreja aos bispos da América Latina e do Caribe. Os temas, tidos como bandeiras da Teologia da Libertação, geraram conflitos com a Cúria Romana e o texto foi modificado antes da aprovação final do então papa Bento XVI. No foco das mudanças estavam as CEBs.
Na ocasião, o então cardeal Bergoglio já havia explicitado seu apreço pelas comunidades de base. Com forte trabalho pastoral na Argentina, o religioso foi o único cardeal estrangeiro a participar de uma missa para as CEBs, realizada na basílica de Aparecida, durante o encontro do Celam.
A reportagem é de Guilherme Serodio e Cristiane Agostine e publicada pelo jornal Valor, 24-07-2013.
A participação de Bergoglio, lembrada pelo escritor Frei Betto, foi vista como uma forma de reconhecer o trabalho de base da igreja. "Naquele encontro do Celam, a igreja voltou a reconhecer a opção pelos mais pobres", disse Frei Betto. Bergoglio defendia uma igreja que fosse de encontro à população, em uma busca ativa.
A visita do papa Francisco à cidade paulista é um pedido pessoal do pontífice. Devoto de Maria, o papa fará no Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, maior santuário mariano do mundo, um discurso e uma homilia, falando a religiosos e fiéis católicos sobre os rumos da igreja.
Na cidade, Francisco encontrará alguns dos principais expoentes do Celam. Presentes estarão ao menos Dom Raymundo Damasceno, Cardeal de Aparecida, que foi presidente do Celam entre julho de 2007 e 2011, e Dom Dimas Lara Barbosa, de Campo Grande e 2º vice-presidente do Conselho.
"A visita do papa a Aparecida é um retorno ao local, uma reafirmação da caminhada da Igreja da América Latina na direção da opção pelos pobres e de seu compromisso pastoral", disse o teólogo Paulo Fernando Carneiro de Andrade. No centro dessa caminhada está o conceito da opção pelos pobres, segundo o qual é importante pôr a Igreja ao lado dos pobres buscando a libertação integral do homem. Um conceito de fé que diz respeito não só a uma dimensão espiritual, mas que deve ser traduzido também na vida terrena.
O papa Francisco nunca se colocou como teólogo da libertação, mas a centralidade de seu discurso sobre o pobre encontra sintonia com a corrente teológica que floresceu na América Latina e foi combatida por seus dois predecessores, João Paulo II e Bento XVI. Ainda cardeal Ratzinger, o último pontífice presidiu a Congregação para a Doutrina da Fé e guiou o processo que culminou na condenação de Leonardo Boff, um dos principais teólogos da Teologia da Libertação, a um ano de "silêncio obsequioso".
A expectativa da visita de hoje a Aparecida é que o papa Francisco reafirme as ideias mestras do encontro de seis anos atrás e caminhe para concretizar a guinada da Igreja em direção à "opção pelos pobres", afirmou Boff. Um dos eixos da guinada seria o reforço do papel das comunidades eclesiais de base como elemento central da relação entre a Igreja e seus fiéis, como previsto no documento aprovado em 2007.
"O documento originário de Aparecida dava muito destaque às comunidades de base, mas a Cúria Romana fez várias cunhas que colocaram essas comunidades ao lado de outras, quando a perspectiva era ter a Igreja inteira na base, concretizando a opção pelos pobres", disse Boff.
O papa Francisco tem grande apreço pelo documento aprovado na reunião do Celam em 2007 e já o entregou a bispos que o visitam em Roma e até mesmo à presidente Dilma Rousseff.
"Ele tem insistido muito em métodos novos de evangelização, métodos de contato, do diálogo", lembrou Boff. "Como o próprio papa já disse, o pastor tem que ter cheiro de ovelha, não de flores de altar. Seguramente, ele vai reforçar muito fortemente as comunidades".
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Francisco volta ao palco em que defendeu as CEBs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU