12 Julho 2013
O Papa Francisco está a anos luz da política italiana. Provavelmente, ele sabe pouco ou nada do antigo vício italiano de puxar os papas pelo casaco, uma vez para a direita, uma vez para a esquerda, dependendo do gosto dos pronunciamentos. Um vício que se acentuou nos 20 anos do bipolarismo muscular.
A reportagem é de Maria Galluzzo, publicada no jornal La Stampa, 10-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
E talvez nessa terça-feira, quando, ao término da visita a Lampedusa, o porta-voz vaticano, padre Federico Lombardi, sublinhava o êxito positivo em nível internacional, ele tinha incluído na conta que alguns não teriam percebido a mosca no nariz. De fato, ele acrescentou: "Espero que se entenda a mensagem desse gesto, o de chorar por aqueles que morreram no caminho para a Europa e de expressar solidariedade com aqueles que sofrem e de encorajamento para aqueles que se comprometem com a acolhida".
Em suma, era imaginável que uma missão pastoral que queria colocar o dedo na ferida do drama dos migrantes poderia irritar alguns.
Não se trata apenas das óbvias reações de marca leghista [da Liga Norte]. Basta percorrer as primeiras páginas dos jornais de direita para entender que o abalo do Papa Francisco confundiu muitos.
Começando pela mente mais refinada entre as dos observadores das coisas papais, o diretor do jornal Il Foglio, Giuliano Ferrara, que vestiu o capacete das ideias e tentou desmontar a citação clou da visita: a globalização da indiferença. O gesto de Francisco, escreve Ferrara, na forma de carta e referindo-se informalmente ao pontífice, é "maravilhoso", mas há um erro de fundo: "A globalização está na raiz da esperança", "a força impessoal de um sistema de livre circulação de bens e pessoas se afirmou ao longo das últimas décadas com efeitos surpreendentes de redução da taxa de pobreza no universo inteiro".
Palavras santas, dir-se-ia, se o aparato defensivo daquela parte da "bolha de sabão", bonita, mas "ilusão do fútil e do provisório", do qual o papa falou em Lampedusa, não fosse desencadeado para evidenciar os "equívocos" aos quais a viagem se presta. E assim, com os comentários de primeira página, respectivamente de Maria Giovanna Maglie no jornal Libero ("Viva o Papa Francisco, mas não os clandestinos") e de Giordano Bruno Guerri no Il Giornale ("Está certo rezar. Mas as leis devem ser respeitadas"), tenta-se passar a tese de que seria equivocado fazer de Francisco um "fã dos clandestinos".
O barco dos papistas teocons ondula diante de um binômio considerado inseparável: imigrantes-clandestinos. Parece perder a bússola diante de um timoneiro que colocou novamente os pobres e os últimos no centro da ação Igreja e fala da compaixão e ternura.
Tanto que Fabrizio Cicchitto, nessa terça-feira, reforçado por Maurizio Gasparri e Daniela Santanchè, considerou oportuno lembrar que, em face de um fenômeno tão complexo como a imigração, "uma coisa é rezar, outra é governar". Um modo para desclassificar como simples pregação um gesto exemplar, que, entre os objetivos, tinha justamente o de chamar todos ao senso de responsabilidade e, portanto, também à ação concreta.
Mudam as coordenadas, e a rota missionária do pontífice que veio "quase do fim do mundo" – o que, segundo alguns, parece não pôr de lado as questões da bioética – agrada pouco a direita. Cócegas para um pastor, que tem outras coisas para pensar.
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A rota do Papa Francisco irrita os teocons - Instituto Humanitas Unisinos - IHU