23 Outubro 2014
Não existe somente o destino comum de “beatos” – apenas proclamado o primeiro, próximo de o ser o segundo – unindo Paulo VI e Oscar Arnulfo Romero. Como sublinhou o jornal salvadorenho El Faro, sua ligação foi também e sobretudo uma relação humana de longa data que remonta aos anos quarenta – quando Romero estudava em Roma – e que duraria até a morte do Papa Montini.
A reportagem é de Andrea Bonzo, publicada por Vatican Insider, 22-10-2014. A tradução é de Benno Dischinger.
Há quem sustenta que Paulo VI fosse desconfiado ante o sacerdote latino-americano: demasiado próximo à Teologia da Libertação, de qualquer modo demasiado incômodo. Mas, não deve ter sido precisamente assim, caso se considere que foi precisamente Montini que nomeou Romero arcebispo de El Salvador, em 1977.
Eles se viram pela última vez aos 21 de junho de 1978, um mês e meio antes da morte do Papa. Dom Oscar Romero, em seu diário, recordou aquele encontro com particular afeto. O Papa foi com ele “cordial, generoso, a emoção daquele momento não me permite recordar palavra por palavra”. Montini lhe disse: “Compreendo o seu difícil trabalho. É um trabalho que pode não ser compreendido, necessita de muita força e paciência. Também sei que nem todos pensam como você no seu País; proceda com coragem, com paciência, com força, com esperança”. Prometeu, além disso, de rezar pela causa de Romero: “Me prometeu que rezará por mim e pela minha diocese. E me pediu que faça todo esforço pela unidade”.
No ano seguinte Romero voltou a Roma. Naquela vez teve uma áspera disputa com o novo Papa, João Paulo II. Visitou a basílica e rezou diante da tumba de Montini. “Ele me impressionou, mais do que todos os outros, pela sua simplicidade”, escreveu em seu diário. “Senti uma emoção especial ao rezar junto à tumba de Paulo VI, de quem andei recordando tantas coisas dos seus diálogos comigo, durante as visitas que realizei e tendo a sorte de ser admitido privadamente em sua presença”.
Uma admiração da qual se tem testemunho ainda hoje. Na casinha na qual Romero passou os últimos anos de sua vida, hoje transformada num museu, existe ainda, sobre a mesinha de cabeceira, um pequeno retrato do Papa Paulo VI, do modo como Romero a havia deixado.
Foto: Roberto Valencia
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Paulo VI na mesinha de cabeceira de Romero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU