21 Outubro 2014
Foto: Andriolli Costa
Sociólogo e pesquisador de longa data da área da Saúde e da Medicina, o britânico Nikolas Rose acredita no estabelecimento de um diálogo mais profícuo entre as ciências da vida e as ciências sociais humanas. Sociologia e Biologia, afinal, se estabeleceram como disciplina ao mesmo tempo, em meados do século XIX. No entanto, em pouco tempo a razão empirista e cientificista fez com que uma se distanciasse da outra – e assim permanecessem.
Professor do King’s College de Londres, um dos maiores centros de formação médica da Europa, Rose fala em uma amizade crítica entre elas. “É uma amizade, e não uma parceria, porque eu posso ser seu amigo sem esperar algo em troca”, explica ele. A crítica, no caso, vem de uma postura de mútua colaboração, e não de um entusiasmo ingênuo que leva a uma “virada neurológica das humanidades”, por exemplo, ou da recusa ao progresso científico. Para Rose, é preciso “parar de analisar as regras e tomar parte no jogo”.
Tal amizade é construída a partir da percepção de que não há diferença entre o “lado de dentro e o lado de fora”. O ser humano, tal como é, não é resultado apenas da ação biológica, das ligações cromossômicas, da herança genética. Seu contexto histórico-cultural de inserção, suas experiências de vida, suas relações consigo e com o outro também são fundamentais para definir o que será ativado ou desativado na estrutura genômica (a chamada “epigenética”).
Rose palestrou na última sexta-feira (17) no Auditório Central da Unisinos, durante o XVII Colóquio Filosofia Unisinos: Filosofia e Bioética - Entre o cuidado e administração da vida. Ele afirma: “O fato de o ser humano ser um primata já diz muito sobre o seu modo de se relacionar com o mundo, das associações que fará com outros humanos e assim por diante”, relata ele, destacando um elemento primordial que mostra a ligação entre as duas ciências. Mas não é a única.
No próprio século XIX, a preocupação com a questão das populações também foi uma grande interface entre as ciências da vida e as sociais. O crescimento populacional, a natalidade e a mortalidade, a teoria malthusiana e a eugenia vinculam de imediato preocupações biopolíticas. Mesmo conceitos, como “evolução”, acabam ultrapassando os limites biológicos e ganhando os jargões sociais.
“Eu trabalho há quase uma década com neurocientistas e posso dizer que neste espaço de tempo a ontologia do ser humano mudou, assim como a própria biologia”, defende Rose. Esta não é mais considerada com fatalismo, como determinadora de um destino inexorável para o indivíduo, mas como um horizonte de possibilidades. “Na era da biologia, o que existia era a visão molecular da vida. Não mais mistério, mas mecanismo”. Com a abertura para a o contexto, o cultural, a emoção e o sensível, no entanto, essa redução perde espaço para um neovitalismo. “O vitalismo, para mim, é um lembrete da essencialidade do vivo”, defende.
Quem é Nikolas Rose
Nikolas Rose é professor de Sociologia e diretor do Departamento de Ciências Sociais, Saúde e Medicina do King's College de Londres. Rose é codiretor do Centro de Biologia Sintética e Inovação (CSynBI), uma importante colaboração de pesquisa entre o King's College e o Imperial College de Londres.
Biólogo, psicólogo e sociólogo, Rose cofundou duas influentes revistas radicais nos anos 1970 e 1980, desempenhando um papel fundamental na introdução do pensamento crítico pós-estruturalista francês para o público anglófono e ajudou a desenvolver novas abordagens para a análise e a estratégia políticas.
Publicou amplamente sobre vários campos e disciplinas, e sua obra foi traduzida para 13 idiomas. É ex-editor administrativo e coeditor-chefe da revista interdisciplinar BioSocieties. Seu último livro, escrito com Joelle Abi-Rached, intitula-se Neuro: The New Brain Sciences and the Management of Life (Princeton: University Press, 2013), obra debatida no Evento Abrindo o Livro do IHU, no dia 09-10-2014.
XIV Simpósio Internacional IHU
O professor apresenta a conferência A biopolítica no século XXI: cidadania biológica e ética somática, no dia 22-10-2014, às 9h, no Auditório Central da Unisinos. O evento integra a programação do XIV Simpósio Internacional IHU - Revoluções Tecnocientíficas, Culturas, Indivíduos e Sociedades. A modelagem da vida, do conhecimento e dos processos produtivos na tecnociência contemporânea.
(Por Andriolli Costa)
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Nikolas Rose: Por uma amizade crítica entre as ciências - Instituto Humanitas Unisinos - IHU