Por: André | 15 Setembro 2014
Um estudo da Organização Meteorológica Mundial revela que a destruição do escudo natural da Terra está diminuindo e que ajudaria sua situação se as restrições aos produtos que o destroem continuarem a ser aplicadas.
A reportagem está publicada no jornal espanhol Público, 12-09-2014. A tradução é de André Langer.
A destruição da camada de ozônio está diminuindo e os cientistas consideram que este escudo natural da Terra poderia recuperar-se em meados do século se as restrições aos produtos que a destroem continuarem a ser aplicadas. É o que diz um estudo elaborado por 300 cientistas – e que inclui brasileiros – de renome que participaram da elaboração de uma avaliação sobre o esgotamento da camada de ozônio.
Esta é a primeira avaliação exaustiva realizada durante os últimos quatro anos e já está avalizada pela Organização Mundial da Meteorologia e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). A camada de ozônio estratosférico é um escudo gasoso frágil que protege a Terra da danosa radiação ultravioleta procedente do sol.
A principal conclusão do relatório é que graças às medidas adotadas na aplicação do Protocolo de Montreal relativo às Substâncias que Esgotam a Camada de Ozônio, está retornando aos níveis de referência de 1980. O Protocolo de Montreal é um tratado internacional que entrou em vigor em 1989 e que foi pensado para proteger a camada de ozônio ao reduzir a produção e o consumo de numerosas substâncias que são responsáveis por sua diminuição.
As substâncias mais nocivas são os gases CFC (clorofluorcarbonos), que eram usados em produtos como refrigerantes, atomizadores, espumas de isolamento e equipamentos de extintores de incêndio. Em 1987, as substâncias que destroem a camada de ozônio produziram cerca de 10 gigatoneladas de emissões de dióxido de carbono equivalente. Houve reduções gerais da camada nas décadas de 1980 e 1990, estancou-se nos anos 2000 e, atualmente, dá sinais de recuperação.
O objetivo é que a camada retorne para os níveis de 1980, quando ainda não havia começado a se esgotar de forma considerável. Não obstante esta tendência generalizada, o buraco na camada de ozônio da Antártida continuar a se formar a cada primavera e prevê-se que essa tendência prossiga durante a maior parte deste século, dada a persistência na atmosfera de substâncias que a destroem, embora já não sejam mais emitidas.
O esgotamento do ozônio na Antártida contribuiu para o esfriamento da estratosfera inferior, o que é, com toda a probabilidade, a principal causa das mudanças registradas nos verões do Hemisfério Sul nas últimas décadas, com os consequentes efeitos na temperatura da superfície, nas precipitações e nos oceanos, especifica o relatório sem dar mais detalhes a este respeito. No Hemisfério Norte, onde o esgotamento do ozônio é menor, não existe nenhuma relação estreita entre o esgotamento do ozônio estratosférico e o clima troposférico.
O estudo declara que não fosse o Protocolo de Montreal, os níveis de concentração atmosférica das substâncias que diminuem a camada de ozônio poderiam ter-se multiplicado por 10 antes de 2050. Mas, como tudo parece indicar que o processo se reverteu, a boa notícia é que se o padrão não mudar e a camada continuar a dar sinais de recuperação, os eventuais efeitos nocivos serão consideravelmente limitados.
De fato, segundo os cálculos do Pnuma, em 2030 a aplicação do protocolo terá evitado dois milhões de casos anuais de câncer de pele, além de impedir lesões oculares e danos ao sistema imunológico humano e de proteger a fauna e a flora silvestres e a agricultura. Além disso, a eliminação das substâncias que destroem a camada de ozônio teve efeitos secundários benéficos para o clima mundial, já que muitas dessas substâncias são também gases com um potente efeito estufa.
Pois bem, no relatório de avaliação adverte-se que com o rápido aumento de certos substitutos, que também são gases de potente efeito estufa, poder-se-á perder o terreno ganho. De fato, o alerta de que a sorte da camada de ozônio na segunda metade do século XXI dependerá, sobretudo, das concentrações de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, os três principais gases de efeito estufa de longa permanência na atmosfera.
Está previsto que o Grupo de Avaliação Científica apresente as principais conclusões do novo relatório na Reunião Anual das Partes do Protocolo de Montreal, que será realizada em Paris em novembro de 2014.