01 Setembro 2014
Os legionários de Cristo pediram desculpas por uma reflexão presente num material promocional que comparava o fundador da ordem e abusador em série com Maria Madalena.
“Eu pessoal e sinceramente peço desculpas pelas minhas reflexões presentes no folheto intitulado ‘Magdala: Deus realmente ama as mulheres’, publicado este ano pelo Centro Magdala, em Jerusalém, da Legião de Cristo”, disse o padre legionário Juan Solana, diretor do Centro Magdala, em nota nesta quinta-feira.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada pelo National Catholic Reporter, 28-08-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Na terça-feira, o National Catholic Reporter informou que o folheto promovendo o novo centro de 100 milhões de dólares incluía uma reflexão escrita por Solana sobre o Pe. Marcial Maciel Degollado, destituído do ministério em 2006 pelo Vaticano depois que descobriram que ele abusara sexualmente de seminaristas e que tinha dois filhos. Na reflexão, o padre comparava o fundador da Legião de Cristo a Maria Madalena, a discípula de Jesus que esteve presente na cruz onde Jesus foi crucificado e no túmulo após a sua ressurreição.
“As iniciais de Marcial Maciel” – escreveu Solana no material – “também são MM, exatamente como Maria Madalena. Ela teve um passado problemático antes de sua libertação, portanto há um paralelo. O nosso mundo tem dois pesos quando se trata de moral. Algumas pessoas têm uma exibição formal e pública, mas na vida real elas vivem por debaixo dos panos".
“Porém, quando acusamos alguém e logo nos colocamos a apedrejá-lo, devemos antes nos lembrar de que todos temos problemas e defeitos. Com os modernos meios de comunicação tão fora de controle, é fácil acabar com a reputação do sujeito sem mesmo investigar. Deveríamos fazer mais silêncio e condenar menos”.
Quando o padre legionário John Connor, diretor territorial norte-americano, viu a passagem num artigo do National Catholic Reporter, entrou em contato com Solana e disse que ela era ofensiva, acrescentando a preocupação de que outras pessoas poderiam partilhar desta mesma opinião, segundo Jim Fair, diretor territorial de comunicações com sede em Chicago, que disse que Solana percebeu e mesmo concordou em escrever um pedido de desculpas.
Numa declaração incluída numa carta de Connor aos companheiros legionários e aos seus membros consagrados e leigos da ordem, Solana afirma: “As passagens em questão insinuam uma comparação entre Maria Madalena e o fundador da Legião de Cristo, Marcial Maciel, o que é claramente inadequado e as palavras foram mal escolhidas.
“Eu estava tentando comparar a compaixão com o perdão à luz da história da Legião, mas percebo agora que as minhas palavras não foram apropriadas e dão a entender uma referência ao nosso fundador que nós, claramente, rejeitamos. De novo, me desculpem por qualquer mágoa que aquilo que falei possa ter causado”, escreveu.
Solana acrescentou que a Legião vai parar de distribuir o folheto que contém a reflexão.
Jim Fair, membro do grupo de leigos da Legião de Cristo chamado Regnum Christi, contou ao National Catholic Reporter não saber se o material já impresso será recolhido e que as pessoas no território não tinham conhecimento prévio do material, visto que se tratava de um projeto local.
Embora ele não tivesse condições de falar se os legionários de outros lugares partilhavam do sentimento que Solana expressou, Fair disse que a reação à brochura “foi a mesma entre todos nós aqui, que foi a de que se tratava de uma declaração inadequada e uma analogia realmente horrível”.
Na carta, Connor observou que “os últimos cinco anos têm sido de desafios e mudanças” para a Legião e o Regnum Christi. Apesar do empenho para realizar as reformas na ordem religiosa, disse que a declaração de Solana “pode ser entendida como um desvio de nosso caminho. Mas não o é. Quero lhe garantir que nós estamos, realmente, determinados a permanecer em curso”.
Em julho, o Vaticano nomeou um assessor especial para a Legião de Cristo no intuito de ajudá-la em sua reforma em andamento depois que o Papa Bento XVI ordenou, em 2009, uma visitação [intervenção] apostólica na ordem e em seus grupos de leigos e nomeou um delegado papal para supervisionar as reformas a serem feitas. Um ano depois, o Vaticano afirmou que Maciel, morto em 2008, era culpado de um “comportamento séria e objetivamente imoral” e que a sua vida era “desprovida de escrúpulos e de sentido religioso genuíno”.
No seu primeiro Capítulo Geral em 10, a ordem religiosa elegeu, em fevereiro, uma nova administração e aprovou os textos das novas constituições. O Papa Francisco não deu ainda a sua aprovação.
Perguntado como um incidente como a reflexão de Solana afeta os esforços para a reforma, Fair disse: “Este incidente serve para lembrar que este é um projeto de longo prazo, e que aquela confiança deve ser reconstruída aos poucos, na aplicação, no projeto, no apostolado, um de cada vez. E iremos continuar fazendo assim, aos poucos.
“Portanto, quando algo desse tipo acontece, num mundo cheio de seres humanos, é frustrante, mas não vai nos tirar do no nosso caminho de servir à Igreja”, falou.
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Legionários de Cristo pedem desculpas pelo paralelo Maciel-Madalena - Instituto Humanitas Unisinos - IHU