14 Agosto 2014
Região conhecida nacionalmente como terra do bode e referência em todo Semiárido brasileiro pelo trabalho de beneficiamento de frutas da Caatinga, especialmente o umbu, Uauá, no sertão da Bahia, é um dos municípios contemplados pelo Projeto Mais Água, da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza da Bahia – Sedes, que nesta região é executado pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – Irpaa.
A reportagem é publicada pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA e reproduzida pelo portal EcoDebate, 13-08-2014.
Ao longo do Projeto, cerca de 180 comunidades do município serão contempladas com um total de 173 implementações, em sua maioria em comunidades de Fundo de Pasto. D. Marlene, D. Adriana e S. João Bosco estão entre as/os beneficiários/as do projeto que já estão usando a água armazenada na cisterna de enxurrada com as últimas chuvas para cultivar alimentos.
Trabalho em família
Marlene Silva de Aquino Almeida, de 30 anos, vive com a filha e o esposo na comunidade de Volta do Rabelo, a 12 km da sede de Uauá. Beneficiária do Mais Água, ela mostra com satisfação os primeiros resultados do projeto, destacando que a chegada da cisterna animou algumas pessoas da sua família a se unirem para cultivar a horta e o pomar ao lado da tecnologia de captação e armazenamento de água da chuva. As chuvas que caíram no mês de dezembro encheu a cisterna e a água vem sendo usada para manter o cultivo de coentro, cebolinha, alface, pimentão, quiabo, mandioca, além de plantas medicinais e fruteiras como mamão, pinha, acerola, maracujá e goiaba.
O cunhado de Marlene, S. Rogério de Almeida, relata que “quando um não pode molhar, o outro molha, a gente tem união pra plantar né, cuidar e cada um ter seu canteiro”. Marlene completa dizendo que não basta apenas a vontade de plantar, mas “tem que saber também cuidar”, diz tomando como base o esforço coletivo que membros das famílias estão tendo para confirmar a eficácia da tecnologia implantada na propriedade. Para Marlene, só o fato de não comprar mais os produtos que agora tem ao lado de casa e todos sem agrotóxicos, já é uma grande contribuição do projeto. À espera da segunda filha, os planos da agricultora são de “futuramente poder vender, poder ajudar a comunidade também, não pensar só na gente”.
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Segurança Alimentar e complemento à renda
Na Fazenda São Bento, a cisterna também já está contribuindo para algumas mudanças na família de D. Adriana Cardoso Varjão. Além do consumo de hortaliças como couve e coentro na alimentação cotidiana, tudo produzido de forma orgânica nos canteiros construídos também pelo projeto, a venda do excedente desses produtos na Feira da cidade já é uma realidade.
D. Adriana, que também é criadora de abelhas e preside a Associação de Apicultores da Fazenda São Bento, conta que a família sempre fez plantios de chuva, mas agora experimenta cultivos permanentes a serem irrigados com a água armazenada na cisterna de enxurrada. Junto com o esposo, S. José Carlos Santana, ela vem cuidando da produção e está sempre em busca de mudas, principalmente de fruteiras.
Na área de Fundo de Pasto onde o casal mora com os filhos, além da criação de caprinos e ovinos e da apicultura, a família agora passará também a ter para o sustento, podendo até vender, alimentos como abobrinha, pinha, manga, seriguela, acerola, umbuzeiro, além de ervas bastante usadas na medicina alternativa como capim santo e hortelã.
O adubo utilizado vem dos animais da propriedade e a cisterna possibilita cultivar também alimento para o rebanho, conta D. Adriana, que está apostando também no plantio de forragem como capim e sorgo.
Complementação de tecnologias
Na comunidade de Ouriciu, região de vasta Caatinga, as famílias estão apostando na preservação. A caprinovinocultura, no modo de criação em área coletiva (Fundo de Pasto), ainda é uma das principais fontes de renda. Para complementar esta prática e garantir o armazenamento da água da chuva, S. José Bosco Pedro Mariano conta que está ansioso para cultivar a partir da cisterna de enxurrada que recebeu do governo, através do Irpaa, no Projeto Mais Água.
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Os 52 mil litros de água hoje guardados na cisterna serão utilizados para manter cultivos de raízes como mandioca, beterraba, cenoura, planeja S. João Bosco. Uma grande vantagem é que sua propriedade fica ao lado de outra cisterna de enxurrada, a do seu vizinho Antônio Ferreira Matos, também contemplado com o projeto, e ambos compartilham uma área de captação de uma barragem subterrânea, construída pela Articulação do Semiárido (Asa). A barragem, que fica situada entre as duas cisternas, está na terra de S. Antônio, mas o cultivo pode ser feito nas duas propriedades.
Assim, o uso da água da cisterna certamente será menor, permitindo uma economia na irrigação e aumentando a possibilidade de cultivos. Atualmente, nas áreas já estão sendo colhidos legumes como feijão de corda, maxixe, frutas a exemplo de melancia, além de hortaliças. Os agricultores estão vendo se desenvolver também sorgo, banana, limão, acerola, tomate, mamão e até abacaxi.
Saiba mais sobre o Projeto Mais Água
O Projeto Mais água executado pelo Irpaa vai instalar um total de 651 tecnologias de captação e armazenamento de água de chuva e realizar atividades voltadas para a Convivência com o Semiárido em cinco municípios dos Territórios do Sertão do São Francisco, Norte de Itapicuru e Itaparica, na Bahia. Trata-se de um total de 885 famílias dos municípios de Abaré, Curaçá, Uauá, Jaguarari e Andorinhas que além de receber as tecnologias, estão participando de cursos, visitas e intercâmbios.
Em Uauá estão sendo implementados: 77 cisternas de produção; 01 barragem subterrânea; 60 barreiros trincheiras familiares; 05 barreiros trincheiras comunitários; 10 limpezas de aguadas; 20 quintais produtivos.