18 Junho 2014
Rowan Williams reacendeu o debate sobre os bancos de alimentos na Inglaterra, alegando que uma geração de crianças está crescendo com "ansiedade e privação".
A reportagem é de Andrew Levy, publicada no sítio do jornal inglês Daily Mail, 14-06-2014. A tradução é de Cláudia Sbardelotto.
O ex-arcebispo de Canterbury atacou a política de benefícios do governo dizendo que o apoio às pessoas carentes foi "desmantelado".
E rejeitou os benefícios da recuperação econômica, dizendo que eles não estão fazendo nada para impedir as "dificuldades do dia a dia".
Lord Williams falou depois que o Banco de Alimentos de Cambridge, do qual ele é um dos benfeitores, divulgou que o número de pessoas alimentadas por seus cinco centros dobrou em um ano, passando para mais de 4.600 pessoas.
Ele disse: "A realidade é indiscutível. Não importa o que é dito sobre a recuperação econômica em nível nacional, as dificuldades do dia a dia vividas por tantas pessoas neste país não estão diminuindo e não vão diminuir no futuro próximo."
"As estruturas de apoio foram desmanteladas, os recursos para lidar com as pessoas em situações de crise foram reduzidos. E, enquanto isso, uma geração está crescendo em condições de ansiedade e privação. Os efeitos práticos, bem como psicológicos, são de longo prazo para aqueles que são crianças agora. Mais uma vez, temos que desafiar aqueles que se negam a vir e ver por si mesmos."
O Dr. Williams é a mais recente figura religiosa a atacar o governo sobre a pobreza.
Seu sucessor, Justin Welby, usou sua mensagem de Páscoa para lamentar a situação das famílias que estão com dificuldades e que "ficaram quebradas e desconsoladas" pela fome e pela dívida.
Uma carta assinada por 600 líderes religiosos, incluindo 36 bispos anglicanos, no início deste ano, apelou ao governo para lidar com o que foi descrito como uma "crise nacional" de miséria e de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza.
Mas suas preocupações contradizem os resultados da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento, cujos números mostram que a pobreza alimentar na Grã-Bretanha reduziu drasticamente.
Apenas 8,1% relataram dificuldades para comprar comida em 2012 - de 9,8% em 2007, antes da crise econômica.
Os críticos, incluindo o ex-ministro do gabinete, Lord Tebbit, também têm apontado que há uma "demanda quase infinita" de comida gratuita e alertou para a facilidade que as pessoas têm para solicitar pacotes de alimentos sem fornecer evidências de dificuldades financeiras.
Em abril, o Trussell Trust - uma instituição de caridade dirigida por Chris Mould, membro do Partido Trabalhista, que tem mais de 400 bancos de alimentos, incluindo os de Cambridge - foi acusado de ter agido de forma "enganosa e emocionalmente manipuladora" depois de afirmar que mais de 913 mil pessoas receberam ajuda alimentar de emergência por três dias no ano passado - um aumento de quase três vezes nos 12 meses anteriores.
As campanhas publicitárias têm tido ampla aceitação e estão permitindo um maior conhecimento do serviço.
O número de beneficiários também têm aumentado, em razão do governo de coalizão ter derrubado uma proibição de centros de emprego a aconselhar as pessoas sobre os bancos de alimentos.
O parlamentar britânico Stewart Jackson, cristão praticante, disse que ficou "chocado" com o ataque partidário de Williams e defendeu o sistema de benefícios como "um dos mais generosos do mundo".
"É interessante que Rowan Williams não se importou com o governo trabalhista, quando este aboliu a taxa de imposto de renda [conhecida como "10p"] para os trabalhadores mais pobres e foi responsável por um enorme aumento da desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres. Não havia muita indignação moral dele, então", disse Jackson.
"Ele está minando completamente sua credibilidade com esse ataque partidário."
Cerca de 4.684 pessoas, incluindo 1.650 crianças, foram registradas como usuárias dos bancos de alimentos de Cambridge no ano passado.
Isso incluiu 1.405 pessoas por causa de "baixa renda", 682 "devido a alterações nos benefícios", 364 por motivo de dívida, e 139 pessoas cuja razão foi listada como "outro".
O Trussell Trust admite que não controla a capacidade do beneficiário para receber os pacotes de comida. Em vez disso, ele se baseia em referências de "profissionais de linha de frente", como assistentes sociais que preenchem um formulário.
Um porta-voz disse que "os profissionais de linha de frente avaliam se a pessoa realmente está em crise e fazem perguntas para verificar se o individuo precisa ser encaminhado a um banco de alimentos".
Já o porta-voz da Secretaria do Trabalho e Pensões disse que as reformas do governo estão "melhorando as vidas de algumas das pessoas mais pobres de nossas comunidades".
Ele acrescentou: "A verdade é que a oferta de emprego está aumentando, os benefícios estão sendo pagos aos demandantes mais rapidamente, e peritos independentes dizem-nos que há menos pessoas que lutam com suas contas de supermercado em comparação com alguns anos atrás. O Trussell Trust e outros bancos de alimentos concordam que o aumento do conhecimento tem ajudado a explicar o seu crescimento recente".
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''Os pobres precisam de comida gratuita'', afirma Rowan Williams. O ex-arcebispo de Canterbury ataca a política de benefícios do governo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU