Por: Caroline | 17 Junho 2014
“(...) a nova cifra do PIB indicará, como está ordenado, o impacto econômico das drogas, do narcotráfico, do contrabando e da prostituição, um dos maiores e mais crescentes setores lucrativos da economia europeia”, é o que aponta Salvador López Amaral, em artigo publicado por Rebelión, 14-06-2014. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
A realidade e o desejo. O desejo já é real: afinal o PIB espanhol disparou! E como! Foram 4,5%, o que nunca havia sido visto antes! E, além disso, como se por si só ainda fosse pouco, de uma forma que exemplifique melhor, além do fenômeno, tendo os números, a coisa em si, as características essenciais do modelo econômico espanhol, europeu e mundial:
O PIB, um indicador mais que discutido e que explica, segundo alguns, o tamanho e a evolução econômica de um país, um indicador que traduz em termos monetários a soma de serviços e produtos de uma determinada comunidade, dará um grande salto no próximo outono na Espanha: em até 4,5%! Uma injeção de, prepare-se, cerca de 46 bilhões ao PIB! De forma que não está, realmente, nada mal!
Desenvolvimento sustentável? Mais empregos dignos? Retificação do capitalismo selvagem ao qual estamos submetidos? Humanismo produtivo? Subida do cooperativismo? Correção do eco-suicídio? Combate real, desta vez, contra a mudança climática? Real abandono do disparate atômico? Maior produtividade por uma maior disposição trabalhista frente às novas coordenadas das novas e mais humanas relações de trabalho? Os trabalhadores e trabalhadoras estão passando a ser considerados algo a mais do que uma mão de obra (mal) contratada, usada, explorada, (mal) paga, simples e “recursos humanos” baratos?
Está muito frio, nada disso: uma simples mudança estatística. A matemática é a rainha das ciências e dos milagres! Que mudança? A seguinte: a nova cifra do PIB indicará, como está ordenado, o impacto econômico das drogas, do narcotráfico, do contrabando e da prostituição, um dos maiores e mais crescentes setores lucrativos da economia europeia. O Instituto Nacional de Estatística (INE) está recalculando o valor para atender o regulamento da tão humana e mais que compassiva Comissão Europeia e para satisfazer as recomendações asséptico-técnicas do Escritório Estatístico das Comunidades Europeias (Eurostat). São profissionais e com isso, tudo já está dito!
Os efeitos do cômputo são dignos de um livro: menor déficit, obviamente, e menor quantidade percentual da dívida pública. A Alice neoliberal na Europa criativa das armadilhas maravilhosas! Nem Carroll poderia ter pensado em um mundo de tal modo virado de cabeça para baixo!
Não entro agora nas formas e fontes para o cálculo. Não é este o ponto. Deixemos as drogas e o narcotráfico para outra ocasião. Centremo-nos na prostituição, uma atividade considerada ilegal que agora, de alguma maneira, foi legalizada ao ser considerada como uma atividade econômica e mais, como um serviço que merecer ser computado e registrado.
Se for assim, assim será em breve, se todos nós nos alegrarmos com o aumento do PIB através da prostituição, incluindo os maus-tratos, os sequestros, as violações, os enganos, a correntes migratórias de mulheres do leste europeu, por que não mudamos o chip em profundidade, sem medo, com coragem, sem “olhares estúpidos”, como se falássemos, por exemplo – e por que não? – de privatizar outra necessidade humana, como respirar, por exemplo?
Se a prostituição é um serviço produtivo que deve ser contabilizado na riqueza de um país, trabalhemos sobre as consequências. Por que não disponibilizamos ciclos formativos de grau médio e superior – isso sim, a partir dos 18 anos, e não antes -, para nossos e nossas jovens, de acordo com suas práticas correspondentes não remuneradas? Práticas de prostituição para aprender a “fazê-lo melhor”! E alguma engenharia de prostituição associada a estes ciclos? Em que Politécnicas? Já devemos pensar no corpo docente adequado.
E por que não? Por medo? Não esta entre nós, não a vemos por todas as partes, não a registramos? Pois sigamos em sempre, sempre à frente! Sejamos eficazes! Como qualquer outra formação, como qualquer outra carreira. É uma atividade econômica a mais!
Será um escândalo como gritava e cantava o cantor preferido de dona Carmem Polo? Vejamos, vejamos. As ajudas públicas comprometidas com os bancos espanhóis totalizaram mais de 10 bilhões, em 10% do PIB (de acordo com o levantamento anterior é claro). O Estado, que dizer, os cidadãos, já injetaram diretamente 61.495 milhões em capital, dos quais foram recuperados 1.760 milhões, menos de 3%, mais precisamente 2,86%. E a quantidade restante? The answer, my friend, is in the wind. In the wind!
Alguém se escandaliza por isso? Olham a De Guindos ou dom Mas-Colell comentando, protestando, assinalando que não pode ser, que o papel de um governo democrático não é o de apontar as contas e os negócios dos ricos, dos poderosos e descriadores do mundo e seus habitantes? Não os veem? ... Pois tomemos nota.
Se não nos escandalizamos por um robô social e econômico destas dimensões enquanto mais de 20% dos cidadãos abaixo da linha de pobreza, por que vamos arrancar os cabelos por uma atividade produtiva, ou melhor, profissional, com tantos retornos econômicos que podem ser ensinados em condições adequadas em nossas escolas e formação? Qual é o problema?
Tudo pelo PIB e pela eficiência em nossos serviços!Não é este o tema central?
Não se deve tomar o dinheiro e fugir a toda a velocidade, de qualquer forma, à custa de ninguém!
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Na Europa: o cálculo do PIB, as novas estatísticas e a prostituição - Instituto Humanitas Unisinos - IHU