Por: André | 09 Novembro 2015
O Papa “não perdeu a paz”. Aqueles que o viram nestes dias dizem que está sereno e determinado a prosseguir nas reformas. E o primeiro passo será justamente a gestão do patrimônio imobiliário e dos aluguéis. Francisco disse duas palavras secas e inequívocas a um interlocutor que lhe perguntou sobre o escândalo das casas: “Haverá mudanças”.
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada por Vatican Insider, 06-11-2015. A tradução é de André Langer.
O Pontífice está profundamente amargurado com a traição e a infidelidade dos dois indagados no segundo Vatileaks: o prelado espanhol Lucio Ángel Vallejo Balda e a leiga Francesca Immacolata Chaouqui. Mas não está preocupado com o conteúdo dos documentos que foram vazados, fruto de uma profunda investigação interna que ele mesmo pediu a fim de reunir elementos para as reformas. E entre as reformas que parece determinado a introduzir imediatamente está a reforma da administração do patrimônio imobiliário da Santa Sé, as casas e os apartamentos, cuja gestão está a cargo da Apsa e da Propaganda Fide.
“Francisco não perdeu a paz, nem nestes dias, nem depois de ter aprovado a prisão dos dois membros da Cosea que cederam os documentos que foram parar nos livros publicados nestes dias”, confiou à imprensa uma das pessoas mais próximas ao Pontífice. E acrescentou: “O Santo Padre está amargurado com a traição dos colaboradores infiéis, mas não está preocupado com o conteúdo dos documentos divulgados”.
O Papa Bergoglio encontra-se nestes dias em constante contato com os colaboradores, que o atualizam sobre as investigações em andamento. Mas o panorama que emerge ao se ler os livros dos jornalistas Emiliano Fittipaldi e Gianluigi Nuzzi já era perfeitamente conhecido há tempo. “Uma investigação cuidadosa e profunda – recorda um monsenhor próximo ao Papa – desejada pelo próprio Vaticano”.
Considerando o que aconteceu, Francisco “não acredita na existência de nenhum complô”. Tratou-se, e o repete a quem se encontra com ele nestas horas, de “uma traição e de uma infidelidade” por parte de duas pessoas que obtiveram sua absoluta confiança. Uma delas, Francesca Chaouqui, agora está procurando envolver meio mundo. Bergoglio não parece nenhum pouco arrependido por ter nomeado a comissão de estudo e análise sobre os bens vaticanos, assim como também não com o fato de ter criado a Secretaria da Economia, encomendada ao cardeal George Pell.
Ele recordou em várias ocasiões que nas primeiras semanas do Pontificado os 15 cardeais encarregados de avaliar a situação econômica da Santa Sé indicaram a necessidade de envolver especialistas, fazer um monitoramento e chegar a um dicastério unificado que se ocupará da racionalização dos gastos e da administração dos recursos. “A Cosea foi o primeiro instrumento para realizar este trabalho inicial”.
Um dos temas mais criticados que aparece nos livros de Fittipaldi e Nuzzi é a administração do Óbulo de São Pedro, a ajuda econômica que os fiéis de todo o mundo “oferecem ao Santo Padre como sinal de adesão à preocupação do Sucessor de Pedro com as múltiplas necessidades da Igreja universal e com as obras de caridade a favor dos mais necessitados”. Em 2012 (este é o dado que ambos os livros publicaram), mais da metade destas esmolas milionárias foi utilizada para equilibrar os balanços da Santa Sé e para manter 180 missões diplomáticas vaticanas no mundo.
“Francisco sabe que é normal – explica um dos seus colaboradores –, porque isso é um apoio para o Papa e há momentos de crise econômica e financeira que exigem o emprego de parte daqueles fundos para ajustar os balanços”. Isso já aconteceu no passado, e com uma entidade muito maior: em 1995, o cardeal Edmund Szoka, então presidente do Governadorado, anunciou que pela primeira vez depois de 23 anos, tinha havido um “surplus” e que o Óbulo de São Pedro não teria sido utilizado para cobrir o déficit da Santa Sé. Ou seja, foi utilizado durante muito tempo.
Também não surpreenderam a Francisco as notícias sobre as “resistências” que a Cosea encontrou ao desempenhar seu trabalho. Para ilustrar a situação com um exemplo, Francisco recorda muitas vezes que em um dicastério vaticano foi encontrado uma notável soma de dinheiro em espécie dentro de um armário. Também recorda o exemplo do funeral de um cardeal, que faleceu há muito tempo. A empresa de serviços funerários que sempre trabalhou com o Vaticano pediu honorários no valor de 9 mil euros. O cerimoniário pediu outros orçamentos e outras empresas lhe enviaram propostas pela metade desta quantia; a antiga funerária diminuiu imediatamente o custo. “Agora, graças ao trabalho da reforma que se fez, é necessário pedir três orçamentos”.
O Papa Bergoglio sabe que está a meio caminho. Conhece as resistências que seguem existindo e as dificuldades que encontrou a Secretaria da Economia. Também está por dentro da situação dos imóveis que pertencem ao Vaticano ou a organismos e fundações vinculados à Santa Sé. “O Papa me disse recentemente – revelou seu colaborador: ‘Há riquezas do Vaticano que são riquezas da humanidade, e nós apenas cuidamos delas’. E depois há também muitos imóveis. Com o aluguel, mantém-se o funcionamento da cúria romana e também o trabalho das missões, muitas obras sociais, hospitais e escolas”. Mas a gestão destes imóveis e destes aluguéis é um dos próximos passos da reforma: “Haverá mudanças”, garante Francisco.
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O Papa: agora vamos mudar a questão dos imóveis do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU