03 Novembro 2015
Publicamos aqui a carta do historiador italiano Massimo Faggioli enviada ao diretor do jornal italiano Il Foglio, depois que o jornal noticiou a carta enviada por alguns renomados teólogos dos EUA, dentre eles Faggioli, criticando um colunista do jornal The New York Times.
Faggioli é professor de história do cristianismo e diretor do Institute for Catholicism and Citizenship, na University of St. Thomas, nos EUA. A carta foi publicado no jornal Il Foglio, 30-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Ao Diretor,
O jornal Il Foglio é, na Itália, uma das poucas janelas abertas para o público não especializado sobre o mundo religioso norte-americano, e, portanto, os seus leitores merecem saber algumas coisas em relação aos dois artigos publicados nos últimos dois dias, nos quais eu sou posto em causa.
1) A carta que eu assinei (veja abaixo) e, depois, publiquei através das mídias sociais no dia 26 de outubro é fruto de um trabalho coletivo e, portanto, tem óbvias fraquezas formais, mas, de modo algum, pretende ou expressa o desejo de reduzir ao silêncio uma voz como a de Ross Douthat no jornal The New York Times.
A carta, ao contrário, pretende informar os leitores do The New York Times, um dos modelos de correção no panorama da informação mundial, que um renomado comentarista dele, que escreve como conservador e como católico, tem conhecimentos muito escassos sobre o que é a tradição católica que ele diz defender como católico (conhecimentos que não derivam necessariamente do fato de ser acadêmico ou não: veja-se o verbete "elitismo do antielitismo").
Vê-se isso a partir da desenvoltura com que Douthat lança acusações de heresia: muito mais grave quando a fórmula contra o papa do que contra mim (ubi maior). No entanto, acusar de heresia um teólogo católico leigo nos EUA é mais grave do que fazer isso na Itália, dadas as ações de polícia doutrinal contra os teólogos a que assistimos nas últimas décadas (antes de Francisco) aqui nos EUA.
2) A acusação de heresia faz parte do modus operandi da cultura católica de que Douthat é expressão, certamente não a minha. Os paladinos da liberdade de expressão de Douthat são os mesmos que, há anos, já elaboram verdadeiras listas de proscrição contra teólogos católicos norte-americanos. A tentativa é de empurrar os bispos a pressionar as universidades católicas, a fim de obter a demissão e o silêncio desses teólogos (testemunho disso é a pequena caça às bruxas em andamento através da internet contra alguns dos signatários da carta).
Esses paladinos são os mesmos que, nos últimos anos, elogiavam os expurgos de teólogos católicos que, ao contrário de Douthat, tinham passado a sua vida inteira estudando e ensinando teologia e, especialmente, servindo a Igreja.
Leia a íntegra da carta, no original em inglês (a lista de signatários já é muito mais ampla):
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Teologia, heresia e opinião pública católica. Artigo de Massimo Faggioli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU