31 Julho 2015
Irmão Alois, prior da Comunidade de Taizé, afirma: "Para que seja autêntica e à altura dos tempos, a nossa resposta aos novos desafios da nossa época deve estar profundamente ancorada na fé da Igreja". E ainda: "Os jovens parecem felizes de vir aqui. Muitos nos visitam porque estão habitados por uma sede espiritual real". Este ano, o irmão Roger, o fundador, completaria 100 anos, e, no dia 16 de agosto, será o 10º aniversário da sua morte
A reportagem é de Maria Chiara Biagioni, publicada pelo sítio Servizio Informazione Religiosa (SIR), 29-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Taizé: uma história de 75 anos. No início, foi uma novidade avassaladora, tanto para a Europa, quanto para a Igreja. Um sonho de reconciliação possível em um continente dilacerado pela Segunda Guerra Mundial e em uma Igreja em busca da unidade.
Hoje, Taizé é uma realidade. Estimada pelos líderes das Igrejas cristãs e pelos responsáveis da União Europeia. Apreciada sobretudo pelos jovens que fazem dela uma das suas metas preferidas de viagens e peregrinações. O ano de 2015 é, para a Comunidade de Taizé, um ano de celebrações com três aniversários importantes: dia 12 de maio, o irmão Roger, o fundador, completaria 100 anos e, no dia 16 de agosto, será o 10º aniversário da sua morte.
Além disso, este ano também se celebra o 75º aniversário da fundação da comunidade e, para a ocasião, de 9 a 16 agosto, milhares de jovens do mundo inteiro participarão de um "Encontro para uma nova solidariedade". Desde a morte do irmão Roger, a comunidade é guiada pelo irmão Alois, que entrevistamos.
Eis a entrevista.
Qual é a contribuição mais preciosa que o carisma do irmão Roger deu à Europa, aos jovens e à Igreja?
Neste ano de aniversário para a nossa comunidade, nós damos graças pela vida do irmão Roger, o nosso fundador. Não se trata de voltar o olhar para o passado, mas sim de se alegrar juntos pelos frutos que a sua vida continua trazendo. Depois da Segunda Guerra Mundial, a urgência era de viver a reconciliação entre povos divididos. A unidade da família humana foi a ideia-chave da vida do irmão Roger, que contribuiu para o processo da construção europeia justamente por causa da ênfase que sempre deu à necessidade da reconciliação. Em relação aos jovens, a contribuição do irmão Roger se fundamenta em uma intuição fundamental: não há contradição entre a vida interior e a solidariedade humana, ao contrário, há um vínculo profundo entre as duas dimensões.
Como afirmava o teólogo ortodoxo Olivier Clément, os jovens podem fazer em Taizé uma descoberta surpreendente: nada é mais responsável do que a oração. Oração e compromisso são, para o irmão Roger, os lados de uma mesma fé. Por fim, no que diz respeito à Igreja, a sua contribuição mais importante continua sendo a incansável busca da unidade. Desde o início, o irmão Roger pôs a busca da unidade no coração da vida da comunidade. Ainda hoje, os irmãos, tendo crescido em Igrejas diferentes, vivem "debaixo do mesmo teto", antecipando a unidade que virá.
A intuição carismática do irmão Roger não foi imediatamente entendida pela Igreja. Como irrompem na Igreja as "novidades" do Espírito Santo?
O Concílio Vaticano II, que foi um momento essencial para o irmão Roger e para toda a nossa comunidade, evidenciou a busca dos "sinais dos tempos". Certamente, não se trata de se adequar por força a todas as evoluções das nossas sociedades, que muitas vezes são preocupantes, mas sim de estar atentos ao mundo deste tempo para discernir nele os "impulsos do espírito", como as chamava o Pe. Henri de Lubac. O primeiro critério de discernimento deve ser a fidelidade ao coração do Evangelho.
Nesse sentido, parece-me uma intuição certa a decisão do Papa Francisco de colocar a misericórdia no centro da mensagem da Igreja. A misericórdia não implica um "Evangelho barato". Ao contrário: é, para nós, o coração da mensagem de Cristo expressada nas Bem-aventuranças, com um tríptico caro ao irmão Roger: alegria, simplicidade, misericórdia. Para que, portanto, seja autêntica e à altura dos tempos, a nossa resposta aos desafios novos da nossa época deve estar profundamente ancorada na fé da Igreja. As mulheres e os homens deste tempo não precisam de cristãos mornos que adoçam a radicalidade evangélica para acomodá-la às contradições do tempo, mas, ao contrário, de fiéis que saibam ir às fontes da fé e ajudam a descobrir o essencial.
Qual é hoje o "segredo" do sucesso de Taizé, especialmente entre os jovens?
Eu não falaria de sucesso, mas do mistério de um encontro que ainda surpreende. O que os jovens vivem entre nós é exigente com as orações comuns três vezes por dia, as introduções bíblicas diárias, as partilhas em pequenos grupos. No entanto, os jovens parecem felizes por vir. Parece-me que eu posso dizer que muitos nos visitam porque são habitados por uma sede espiritual real. Fazem perguntas essenciais. E, por trás do caráter alegre dos encontros, muitas vezes nós recolhemos o seu sofrimento, a falta de uma orientação. Os jovens precisam de pessoas que os escutem. Se se sentirem acolhidos como eles são, então os seus ouvidos e os seus corações podem se abrir ao Evangelho.
Como Taizé responde ao convite do Papa Francisco para ser uma "Igreja em saída"?
Esse apelo constante do Papa Francisco para superar os limites visíveis da Igreja para se pôr a caminho rumo a todos aqueles que dela fazem parte nos dá alegria. Ele pede para nos renovarmos constantemente em uma espécie de descentramento. Pondo-me à escuta dos jovens, cada vez mais me dou conta de que é preciso pôr em ato novas formas de solidariedade para enfrentar novas formas de pobreza que estão ligadas hoje ao deslocamento forçado das populações, às catástrofes ecológicas, às desigualdades, ao desemprego em massa, às violências de todos os tipos.
Outra periferia invisível presente nas nossas sociedades é a solidão. Evocaremos todos esses desafios no nosso encontro de meados de agosto, com milhares de jovens do mundo inteiro. Durante essa semana particular, os irmãos que vivem na África, Ásia e América Latina vão se encontrar todos em Taizé. O irmão Roger tinha exortado os irmãos a partirem para todos os continentes e a viverem entre os pobres, nas "periferias''.
Que desejo e esperança o irmão Alois tem hoje para Taizé?
Que permaneçamos fiéis. O nosso testemunho em Taizé não reside em uma adição de carismas pessoais, mas na alegria da vocação comum. Buscamos ser um sinal de reconciliação pelo fato de que os irmãos vivem sob o mesmo teto, mesmo sendo de confissões diferentes, de cerca de 30 países e de origens culturais diferentes, assim como são diferentes os rostos da humanidade. O que é bonito é ser irmãos uns para os outros, aceitando a alteridade e alegrando-se com a diversidade.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
''As mulheres e os homens de hoje não precisam de cristãos mornos.'' Entrevista com Alois de Taizé - Instituto Humanitas Unisinos - IHU