28 Julho 2015
Os educadores do campo reunidos no RS debateram os malefícios do uso do agrotóxico para a saúde humana e o meio ambiente.
Os malefícios do uso do agrotóxico para a saúde humana e o meio ambiente, e a necessidade de fortalecer a campanha em defesa da vida e da produção de alimentos saudáveis pautaram o segundo dia do Encontro Estadual de Educadores da Reforma Agrária do Rio Grande do Sul.
O texto foi publicado pela Página do Movimento Sem Terra - MST, 24-07-2015.
O evento, promovido MST, acontece desde a última quarta-feira (22) no Centro de Formação Sepé Tiarajú, no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão.
O MST convidou para participar do debate o presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Leonardo Melgarejo; o técnico da Cooperativa de Trabalho em Serviços Técnicos (Coptec), Edson Cadore; e o deputado estadual Edegar Pretto (PT), que alertaram os educadores sobre a importância de realizar ações construtivas junto às escolas do campo para defender a produção de alimentos sadios, sem o uso de venenos.
De acordo com Melgarejo, há uma mitologia enganosa em relação aos efeitos dos agrotóxicos, a qual apoia a expansão do agronegócio e traz ameaças concretas à saúde da população, ao meio ambiente e à soberania alimentar.“Muitas pessoas alegam que as substâncias tóxicas são rapidamente eliminadas do corpo humano e do meio ambiente. Porém, a depreciação e a eliminação podem demorar dias ou anos. O fato de o agrotóxico não ser detectado em análises clínicas não significa segurança ou ausência de dano: mesmo aqueles que são rapidamente eliminados podem causar complicações irreversíveis”, explicou Melgarejo.
Depois de abordar os principais malefícios, como o câncer, depressão e infertilidade que os agrotóxicos causam à saúde humana, Melgarejo pediu aos educadores para que discutissem sobre o tema em seus meios de convívio e atuação: nas comunidades e escolas. Também orientou para que eles estimulem vereadores e deputados de todo o Brasil a trabalharem em defesa da vida e da alimentação saudável.
“Construam diálogos com os educandos e a sociedade, pois vocês podem influenciar muitas pessoas, como vereadores, crianças e jovens que futuramente podem se tornar legisladores e contribuir para mudar essa realidade através de Projetos de Lei”, disse.
O técnico Edson Cadore também afirmou que é fundamental o apoio do Setor da Educação na luta contra o uso de venenos, incentivando o fortalecimento da campanha.
“Vocês, educadores, são as pessoas certas para pautar a questão dos agrotóxicos nas comunidades e nas instituições de ensino. Precisamos desse apoio educacional para reforçar a importância da agroecologia, da produção de alimentos saudáveis e da Reforma Agrária Popular”, argumentou.
Em defesa da vida
O deputado Edegar Pretto apresentou os três Projetos de Lei (PL), de sua autoria, que coíbem o uso de agrotóxicos no Rio Grande do Sul e tramitam na Assembleia Legislativa do estado.
Um deles é o PL 44/2015, que obriga a rotulagem das embalagens de alimentos produzidos com agrotóxicos. Outro PL é o 263/2014, que proíbe a pulverização de agrotóxicos por meio de aeronaves em todo o território gaúcho, e o terceiro é o PL 262/2014, que proíbe a fabricação, uso e comercialização do agrotóxico 2,4-D no estado.
Pretto solicitou o engajamento dos educadores por meio de ações para que os três projetos de lei sejam aprovados, a exemplo do abaixo-assinado em Defesa da Vida e da Alimentação Saudável.
“Precisamos unir forças para concretizar nossas ações e vencer essa batalha contra o inimigo”, afirmou.
Mulheres apoiadoras
Arlete Bulcão Pinto, do setor de gênero do MST, lembrou da dedicação das mulheres da Via Campesina numa intensa campanha por soberania alimentar, contra a violência e o agronegócio, iniciada em março deste ano durante a Jornada Nacional de Luta das Mulheres Camponesas.
Ela também abordou a necessidade de firmar ações que vão além de denúncia, colocando em discussão essas pautas nas escolas.
“Devemos orientar as crianças e os jovens porque é nossa missão levar adiante essa bandeira de luta. Cada um de nós pode ser agente de fiscalização e denuncia, para que as gerações futuras possam viver uma realidade diferente. A empreitada é dura, a batalha é difícil, mas temos que vencer essa guerra”, alertou.
Engajamento escolar é possível
Para a educadora Marilene Cupsinski, da Escola Estadual de Ensino Médio Antônio Conselheiro, do Assentamento Bom Será, de Santana do Livramento, o empenho solicitado aos professores vai ao encontro de medidas que já estão sendo realizadas nas escolas, tornando possível fortalecer a campanha contra o uso de agrotóxicos com a comunidade escolar.
“Podemos construir juntos muitas ações porque já temos um início de trabalho que orienta os alunos para a produção de alimentos saudáveis, e foge do modelo tradicional de agricultura. Unidos podemos construir uma nova geração capaz de mudar o futuro e para isso vamos nos empenhar e trabalhar cada vez mais”, garantiu.
Frente Parlamentar
O deputado Edegar Pretto informou que no próximo dia 7 de agosto será lançada a Frente Parlamentar Gaúcha em Defesa da Alimentação Saudável, durante audiência pública sobre “A realidade e as conseqüências do uso dos agrotóxicos no RS e no Brasil”.
A atividade será realizada na Assembleia Legislativa e contará com as presenças da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; da toxicologista coordenadora de prevenção e vigilância do Instituto Nacional do Câncer, Márcia Sarpa de Campos Mello, entre outros convidados.
Formação humana e cooperação na escola
Anterior ao ato político contra o uso de agrotóxicos, o psicanalista finlandês Perti Simula trabalhou a formação humana, com foco em motivação e cooperação na escola.
Ele apresentou maneiras de trabalhar com comportamentos considerados problemáticos em crianças e adultos, como bullying, sentimentos de frustração, falta de motivação, agressão física e verbal, assédio sexual, stress, entre outros.
O segundo dia do Encontro Estadual de Educadores da Reforma Agrária também foi marcado por socializações de práticas educativas, que envolveram as escolas Nossa Senhora da Assunção, de Taquari; Joceli Corrêa, de Jóia; Educar, de Pontão; Nova Sociedade, de Nova Santa Rita; Roseli Nunes, de Santana do Livramento; além da Coptec.
O objetivo foi compartilhar experiências de projetos e iniciativas que são desenvolvidas nas instituições.
Os educadores ainda debateram sobre o lema do 2º Encontro Nacional de Educadores da Reforma Agrária, que será realizado de 21 a 25 de setembro de 2015 em Luziânia (GO), e o Manifesto que dirá à sociedade qual é a educação que os educadores do campo querem.
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"A batalha é difícil, mas temos que vencer a guerra contra os agrotóxicos", afirma Sem Terra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU