27 Julho 2015
A pesquisa astrobiológica – com as perguntas e o fascínio que desperta nos cientistas e na opinião pública – abre um caminho de fronteira, rumo às periferias, existenciais e físicas, mais distantes e mais profundas.
A opinião é do astrônomo jesuíta argentino José Gabriel Funes, diretor do Observatório do Vaticano, em artigo publicado no jornal L'Osservatore Romano, 26-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Kepler 452b é o primeiro planeta descoberto de dimensões semelhantes à nossa Terra: está situado na zona de habitabilidade – a região do espaço em torno de uma estrela onde a água líquida pode existir na superfície do planeta – de uma estrela semelhante ao nosso Sol.
A descoberta do novo planeta Kepler 452b reaviva a ideia de que o contato e, porque não?, o encontro com seres extraterrestres inteligentes de uma civilização extraterrestre poderia acontecer em um futuro próximo. Pessoalmente, sou muito cético sobre a possibilidade de que esse evento cósmico realmente aconteça.
A pergunta sobre se estamos sozinhos no universo continua fascinando a opinião pública e os cientistas. Até mesmo o Papa Francisco, falando do Espírito Santo que leva a Igreja sempre para além dos limites, se fazia essa interrogação, no dia 12 de maio de 2014, na homilia da missa em Santa Marta: "Se amanhã viesse uma expedição de marcianos, por exemplo, e alguns deles viessem até nós... marcianos, não? Verdes, com aquele nariz comprido e as orelhas grandes, como são retratados pelas crianças (...). E um deles dissesse: 'Eu quero o batismo!'. O que aconteceria?".
A questão sobre a vida extraterrestre é uma constante na história do pensamento filosófico e religioso. No século XIII, Alberto Magno comentava: "A partir do momento que uma das questões mais maravilhosas e nobres na natureza é se existe um mundo ou muitos (…) parece oportuno indagá-la".
Entre os filósofos gregos, o debate sobre a pluralidade dos mundos foi mais intenso entre os epicuristas (em favor da pluralidade) e os aristotélicos (em favor da unicidade).
Nicolau de Cusa havia defendido a ideia de outros mundos habitados, especulando sobre a natureza dos alienígenas. Giordano Bruno adotou o heliocentrismo de Nicolau Copérnico, transformando-o em uma visão do universo infinito e eterno com estrelas, como o Sol, com mundos circundantes e habitados.
Bruno criticou Copérnico, porque tinha se detido na matemática, não enfrentando os problemas filosóficos da nova visão de mundo. Assim, para Bruno, a Terra é um planeta semelhante a outros, que podem ser chamados de "outras Terras". Menos conhecido é o caso do astrônomo jesuíta Angelo Secchi, um dos fundadores da moderna astrofísica, diretor do Observatório do Colégio Romano. Secchi, no século XIX, se ocupou da existência de outros mundos habitados, da qual estava convencido.
A nossa galáxia contém mais de 100 bilhões de estrelas. Considerando o número de planetas extrassolares descobertos, parece que a grande maioria das estrelas da nossa galáxia, ao menos potencialmente, é capaz de ter planetas em que a vida poderia se desenvolver. Embora não saibamos com certeza se o fenômeno "Terra" é raro ou comum.
Como assinala Sara Seager, especialista mundial no campo dos planetas extrassolares, "quando e se descobrirmos que as outras terras são comuns e vermos que algumas delas têm sinais de vida, finalmente completaremos a revolução copernicana, um deslocamento final e conceitual da Terra e da humanidade, para longe do centro do universo. A detecção e a caracterização de mundos habitáveis são a promessa e a esperança da pesquisa dos planetas extrassolares".
Algumas semanas atrás, fui convidado pelo Nasa Ames Research Center para dar uma conferência sobre o futuro do universo. Durante a visita, tive o privilégio de encontrar a equipe da missão Kepler. Senti-me muito honrado por William Borucki, principal pesquisador do telescópio espacial Kepler, que muito gentilmente me fez uma apresentação da missão.
Pude aprender em primeira mão não só a importância dos resultados científicos, mas também de todo o esforço que tal empreendimento implica. Com essa descoberta e com aquelas imagens que chegaram do distante Plutão nos últimos dias, tivemos a oportunidade de constatar que a ciência é levada adiante por uma equipe, e não por indivíduos.
Além disso, pudemos observar que, para chegar a resultados científicos importantes, é preciso paciência e tempo. Foram necessários quase 10 anos para chegar a Plutão e 20 anos desde a descoberta do primeiro planeta extrassolar para detectar a existência de outra Terra. A colaboração e a paciência são algumas das virtudes que podemos aprender com os cientistas e que podem inspirar as jovens gerações.
A pesquisa astrobiológica – com as perguntas e o fascínio que desperta nos cientistas e na opinião pública – abre um caminho de fronteira, rumo às periferias, existenciais e físicas, mais distantes e mais profundas.
Enquanto isso, tudo o que podemos fazer é esperar com paciência pelas surpresas de Deus: "Viu tudo o que havia feito, e tudo era muito bom" (Gênesis 1, 31). Sabendo que Ele é a primeira e a última palavra, a definitiva.
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Depois da descoberta do novo planeta: estamos sozinhos no universo? Artigo de José Gabriel Funes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU