Por: Jonas | 09 Julho 2015
O vice-ministro de Coordenação com os Movimentos Sociais, Alfredo Rada, informou no último sábado, dia 4 de julho, que o papa Francisco escolheu a Bolívia como sede do II Encontro Mundial de Movimentos Sociais e Populares (1) porque no país há uma participação democrática dos movimentos sociais.
A reportagem é de Cristiano Morsolin, publicada por Rebelión, 08-07-2015. A tradução é do Cepat.
Tal evento, que contará com a participação de 900 organizações sociais de diversos continentes, foi inaugurado hoje, no coliseu Municipal de Santa Cruz, pelo presidente do Conselho Pontifício para a Justiça e Paz do Vaticano, o cardeal ganês Peter Turkson.
“Escolheu-se a Bolívia porque aqui há participação democrática dos movimentos sociais e a formação de um Governo que é dos movimentos sociais, então essa é a diferença entre os outros países. No Equador há um processo de mudança, mas tem outra característica”, ressaltou a autoridade, em uma entrevista aos meios de comunicação estatais.
Explicou que na Bolívia foi onde mais se avançou na participação política dos movimentos sociais. “Acredito que essa foi uma razão que explica por que o papa Francisco decidiu participar de um encontro com movimentos sociais neste país”. Rada disse que “o evento mundial terminará na quinta-feira. Serão três dias de trabalho intenso, que contarão com delegações de cerca de 30 países que já confirmaram participação. Por meio de seus 900 delegados é que estaremos trabalhando em Santa Cruz”.
Também disse que Francisco dará uma mensagem para encerrar o Encontro Mundial de Movimentos Sociais e Populares, que também contará com a participação do presidente Evo Morales.
“Encerra Francisco (o encontro), tomando a palavra certamente por meia hora, talvez um pouco mais, depende dele, oferecendo uma mensagem aos movimentos sociais aí reunidos”, concluiu Rada (2).
Comentários diretos de Santa Cruz
O Observatório sobre a América Latina - SELVAS - está documentando este importante encontro mundial.
Francisco Estigarribia, da Coordenação de Meninos(as) e Adolescentes Trabalhadores do Paraguai - CONNATs - , destaca que “o Papa terá a oportunidade de escutar os Movimentos Sociais, conversará com os mais pobres, os indígenas, os camponeses, as mulheres e os Meninos, Meninas e Adolescentes Trabalhadores na Bolívia, não fará o mesmo no Paraguai, não poderá agir assim porque o cercaram, blindaram-lhe, mas o povo sempre encontra a forma de se fazer escutar!!!”.
Alberto Croce, diretor da SES Buenos Aires, Latindadd e Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação, ressalta que “na televisão boliviana falam muito do encontro que amanhã começamos. Ontem, estivemos jantando no hotel com o cardeal Turkson, um nigeriano simpático. Há uma delegação de 30 pessoas convidadas pelo Vaticano (um deles sou eu e continuo sem saber o por quê...). No encontro haverá cerca de 1000 delegados. Os temas: Moradia, Terra, Trabalho, Violência e Integração. Estou com muita expectativa”.
Na inauguração do II Encontro Mundial de Movimentos Sociais e Populares, no Coliseu Municipal de Santa Rosita, o argentino Juan Grabois, membro do Comitê Organizador do Encontro, destaca que “Viemos falar com respeito, mas também com coragem. A paz se constrói com o respeito e o diálogo de todas as vozes”. “Terra, teto e trabalho são os três eixos deste Encontro. E viemos reafirmar que a América Latina é uma região de paz”.
O cardeal Turkson, procedente de Gana, ressaltou, na coletiva de imprensa de ontem, que os cinco temas - moradia, trabalho, violência, terra e meio ambiente - são considerados chaves em razão dos crescentes desafios. “A Igreja pretende assumir as necessidades e aspirações dos movimentos sociais como próprias e assim se unir por meio de diferentes iniciativas. O objetivo é gerar mudanças sociais necessárias para um mundo mais justo”. Além disso, acrescentou que é necessário ouvir “o grito dos pobres e da terra” de maneira conjunta, pois considerou que os problemas sociais e do meio ambiente requerem uma solução integral.
“Na Igreja e na sociedade devemos aprender a incluir os excluídos e para isso devemos chegar até aqueles que se encontram na periferia. É necessário receber os marginalizados como membros absolutos de nossa comunidade, economia e sociedade”, ressaltou Turkson, membro do Conselho Pontifício de Justiça e Paz do Vaticano (3).
A contribuição do Vaticano
O assessor do Escritório do Pontifício Conselho de Justiça e Paz do Vaticano, Michael Czerny, afirmou, na terça-feira, que o II Encontro Mundial de Movimentos Populares, que acontecerá entre os dias 7 e 9 de julho, em Santa Cruz, permitirá identificar os desafios e buscar políticas para trabalhar em defesa da Mãe Terra.
“Este é um grande encontro para se conhecer, para apreciar os desafios, identificar e caminhar juntos e poder trabalhar com alegria, já que os desafios são grandes para defender a Mãe Terra, mas devemos enfrentá-los com muita unidade, porque é um desafio muito grande”, disse. Disse que é preciso manter a unidade para assumir a responsabilidade do cuidado e preservação da Mãe Terra. Também disse que viajou ao menos 18 horas, que valeram a pena, para participar do encontro de organizações sociais, que qualificou como “histórico”. Czerny visitará cada uma das cinco mesas de trabalho que farão parte desse encontro mundial, cujas conclusões serão entregues ao Papa Francisco, na próxima quinta-feira, 9 de julho.
O Santo Padre chegará à Bolívia no dia 8 de julho, após sua visita ao Equador. Visitará as cidades de El Alto e La Paz, onde se reunirá com o presidente Evo Morales, entre outras atividades, e à noite viajará para a cidade de Santa Cruz para descansar. No dia 9 de julho, o Sumo Pontífice presidirá a eucaristia no Cristo Redentor e depois participará da Cúpula Internacional de Movimentos Sociais e Populares. No dia 10 de julho, visitará a prisão de Palmasola e participará de um encontro com os bispos da Bolívia. Em seguida, seguirá para o Aeroporto de Viru Viru para viajar a Assunção, Paraguai.
Francisco é o primeiro Papa sul-americano na história da Igreja Católica e o segundo Pontífice que vem a Bolívia após João Paulo II, que visitou o país em 1988, há 27 anos (4).
“A luta pela Mãe Terra”
O primeiro painel “A luta pela Mãe Terra e a contribuição da Laudato Si” contou com a exposição de quatro representantes da resistência campesina. Por trás de uma mesa ornamentada com alimentos produzidos pelos povos da América, João Pedro Stélide, da coordenação da Via Campesina, recordou como a organização do agronegócio compromete a soberania alimentar e a saúde de todos. “Nós temos que ter nosso plano, o plano do povo. Já não basta apenas “terra para quem nela trabalha”, como reivindicava Zapata. Mudou o paradigma. É necessário pensar uma mudança no campo que interesse a todos, que garanta a produção de alimentos sadios e sem venenos. Que respeite a biodiversidade, que resgate a agroecologia. Esse plano de agricultura interessa a todo o povo”, destacou.
Silvia Ribeiro, do Grupo ETC, do México, criticou a concentração das empresas que atuam no campo, em todo o mundo. Ela citou o caso das sementes, no qual apenas dez empresas controlam 80% do mercado. Além disso, as mesmas que produzem os venenos produzem os transgênicos que dependem deles. “Os transgênicos produzem muito menos, não podem ser recultiváveis, usam muito veneno, causam diversos malefícios à saúde, como o aumento dos casos de câncer, além de ser mais caros”, destacou.
Rodolfo Machaca, da Confederação Sindical Única de Trabalhadores Camponeses da Bolívia, destacou o método que será usado durante o encontro: denunciar, levantar demandas e assumir compromissos. “Os governos neoliberais têm culpa porque permitem saquear nossas terras. Por isso, a unidade internacional é fundamental, porque necessitamos nos unir para expulsar as multinacionais”, exortou.
O bispo da Diocese de Aysén, do Chile, Luis Intanti della Moura, também criticou o imperialismo, recordando que todos somos chamados a lutar por um mundo melhor. “O Papa nos chama a tomar consciência para romper e derrubar as estruturas que nos escravizam cada vez mais”.
“Não é neutra, mas, sim, escrita a partir do mundo empobrecido, a partir do Sul”, afirma Luis Infanti
Este histórico encontro do Papa Francisco com os movimentos sociais, reunidos em Santa Cruz, está relacionado com a nova encíclica do Papa Francisco: “Ar fresco para a paz e a vida”, intitula-se a reflexão feita pelo Bispo de Aysén (Chile), Luis Infanti.
Dom Luis Infanti qualifica a carta do Sumo Pontífice como contundente, profética e desafiadora, revelando que “não é neutra, mas, sim, escrita a partir do mundo empobrecido, a partir do Sul, que desafia fraternalmente o Norte, para lançar uma mudança decidida e corajosa. Os tempos, a nova época, não deixam dúvidas: não se pode continuar como estamos agora”, sentencia o religioso.
Acrescenta que a partir do mundo empobrecido e permeado pela injustiça humana e ambiental, o Papa Francisco chama à consciência dos povos, crentes e não crentes, para exigir (a justiça não se pede, exige-se, porque é um direito dos marginalizados) uma mudança de rota dos poderosos dos poder econômico, político, científico e tecnológico mundial. Age assim não a partir de uma religião, mas da ética e da espiritualidade mais profunda da sensibilidade humana, destaca um recente artigo de Morsolin sobre a Encíclica papal (5).
Notas
1. http://movimientospopulares.org/
2. http://www.cambio.bo/?q=el-papa-eligi%C3%B3-bolivia-sede-de-cita-mundial
5. http://www.alainet.org/es/articulo/170863
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Inicia-se o II Encontro de Movimentos Sociais e Populares, promovido pelo Papa Francisco e Evo Morales - Instituto Humanitas Unisinos - IHU