02 Março 2015
"Hoje é uma regra não digo normal, mas muito frequentemente se vê: 'Você está procurando trabalho? Venha, venha a esta empresa...' Dez, 11 horas de trabalho, 600 euros. 'Você gosta? Não? Vá embora para casa.' O que fazer neste mundo que funciona assim? Porque há filas de pessoas à procura de trabalho: se você não gosta, aquele outro vai gostar. É a fome: a fome nos faz aceitar aquilo que damos, o trabalho ilegal..."
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 01-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Francisco fala para sete representantes das cooperativas e retoma um tema que está no seu coração, as páginas muito duras da Evangelii gaudium contra a "economia que mata".
A ocasião, na manhã desse sábado, foi o 70º aniversário de renascimento da Confcooperative, nascida em 1919 sob a fundação da Rerum novarum de Leão XIII (da qual Bergoglio lembra o lema: "Todos proprietários e não todos proletários!"), dissolvida durante o fascismo e reconstituída em 1945.
Hoje, a confederação representa 20 empresas e 545 empregados, com mais de três milhões de sócios e um faturamento de 65,1 bilhões de euros.
Para eles, o papa recorda que "globalizar a solidariedade" significa "pensar no aumento vertiginoso dos desempregados, nas lágrimas incessantes dos pobres". A missão das cooperativas, diz, é "combater a cultura do desperdício cultivada pelos poderes que regem as políticas econômico-financeiras do mundo globalizado, onde no centro está o deus dinheiro".
Francisco critica tanto aquele "certo liberalismo que acredita que é necessário produzir primeiro riqueza, não importa como, para depois promover alguma política redistributiva por parte do Estado", quanto aquela atitude das empresas que "distribuem as migalhas da riqueza acumulada", pensando que, assim, cumprem a sua "própria chamada responsabilidade social": o risco é "iludir-se de fazer o bem, enquanto se continua só a fazer marketing".
As cooperativas, portanto, devem ser o "motor que eleva e desenvolve a parte mais fraca da sociedade". É preciso "mais colaboração entre cooperativas bancárias e empresas", é preciso "pagar salários justos" e investir, "inventar novas formas", desenvolver-se.
Também pode ser útil o "esterco do diabo", se bem utilizado: "Dizia Basílio de Cesareia que o dinheiro é o esterco do diabo. Agora, o papa também o repete: o dinheiro é o esterco do diabo! Quando o dinheiro se torna um ídolo, comanda as escolhas do homem, então arruína o homem e o condena, torna-o um servo".
Porém, acrescenta Francisco, "o dinheiro a serviço da vida pode ser gerido do modo justo pela cooperativa, se for uma cooperativa autêntica, verdadeira, onde não comanda o capital sobre os homens, mas os homens sobre o capital".
Voltam à mente os escândalos da Mafia Capitale [organização mafiosa que agia na capital italiana desde o ano 2000], quando o papa exorta a "contrastar e combater as falsas cooperativas que prostituem o próprio nome" até cometer "escandalosos tráficos de corrupção", uma "vergonhosa e gravíssima mentira que não se pode absolutamente aceitar".
As verdadeiras cooperativas, católicas ou não, devem colaborar: "Os valores cristãos são para compartilhar com os outros, com aqueles que não pensam como nós, mas querem as mesmas coisas que nós queremos".
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''Caras cooperativas, usem bem o esterco do diabo'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU