19 Fevereiro 2015
O papa presidiu a anual cerimônia no Aventino, em Roma, para o início da Quaresma, na Quarta-Feira de Cinzas, afirmando que faz bem "a todos, mas especialmente a nós, sacerdotes", pedir o "dom das lágrimas", para que a oração e o caminho de conversão sejam "cada vez mais autênticos e sem hipocrisia", e destacando que, embora "os hipócritas não saibam chorar, esqueceram-se de como se chora, não pedem o dom das lágrimas", é justo se perguntar: "Eu choro? O papa chora? Os cardeais choram? Os bispos choram? Os consagrados choram? Os sacerdotes choram? O pranto está nas nossas orações?".
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada no sítio Vatican Insider, 18-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Tendo chegado à colina romana com uma pequena antecedência, Jorge Mario Bergoglio participou da tradicional procissão que, pouco antes das 16h30, partiu, com cardeais, arcebispos, bispos, monges beneditinos, padres dominicanos e alguns fiéis, da Basílica de Santo Anselmo (dos beneditinos) à de Santa Sabina (dos dominicanos). Aqui, o papa presidiu a missa, que terminou com o rito da bênção e da imposição das cinzas.
O profeta Joel "detém-se em particular sobre a oração dos sacerdotes, observando que ela deve ser acompanhada pelas lágrimas", disse o papa. "Fará bem a todos nós, mas especialmente a nós, sacerdotes, pedir, no início desta Quaresma, o dom das lágrimas, de modo a tornar a nossa oração e o nosso caminho de conversão cada vez mais autênticos e sem hipocrisia. Fará bem a nós – continuou, de improviso – nos fazer a pergunta: eu choro? O papa chora? Os cardeais choram? Os bispos choram? Os consagrados choram? Os sacerdotes choram? O pranto está nas nossas orações? E justamente essa – continuou o papa – é a mensagem do Evangelho de hoje".
"No trecho de Mateus – continuou –, Jesus relê as três obras de piedade previstas pela lei mosaica: a esmola, a oração e o jejum. Ao longo do tempo, essas prescrições tinham sido corroídas pela ferrugem do formalismo externo ou até mesmo tinham sido mudadas em um sinal de superioridade social. Jesus evidencia uma tentação comum nessas três obras", a diferença entre a sua atitude interior e exterior, "que pode ser resumida justamente na hipocrisia, a nomeação por nada menos do que três vezes: 'Cuidado para não praticar a justiça de vocês diante dos homens, para serem admirados por eles... Quando fizer a esmola, não toque a trombeta diante de você, como fazem os hipócritas... Quando rezar, não seja como os hipócritas, que (…) gostam de rezar de pé, para serem visto pelas pessoas... E quando jejuar, não se torne melancólico como os hipócritas.' Saibam, irmãos, que os hipócritas não sabem chorar, esqueceram-se de como se chora, não pedem o dom das lágrimas. Quando se faz algo de bom, quase instintivamente nasce em nós o desejo de sermos estimados e admirados por essa boa ação, para obter disso uma satisfação. Jesus nos convida a fazer essas obras sem nenhuma ostentação e a confiar unicamente na recompensa do Pai 'que vê em segredo',"
Voltar ao Senhor "com todo o coração", destacou o papa, "significa tomar o caminho de uma conversão não superficial e transitória, mas um itinerário espiritual que diz respeito ao lugar mais íntimo da nossa pessoa. O coração, de fato, é a sede dos nossos sentimentos, o centro em que amadurecem as nossas escolhas, as nossas atitudes".
E Deus "não se cansa nunca de ter misericórdia de nós e quer nos oferecer mais uma vez o seu perdão. Todos nós precisamos dele, convidando-nos a voltar para Ele com um coração novo, purificado do mal, purificado pelas lágrimas, para participar da Sua alegria".
N'Ele, mediante o sacrifício de Jesus, "nós podemos nos tornar justos, n'Ele podemos mudar, se acolhermos a graça de Deus e não deixarmos passar em vão o momento favorável. Por favor – insistiu o papa – paremos um pouco e deixemo-nos reconciliar com Deus. Com essa consciência, iniciamos confiantes e alegres o itinerário quaresmal. Maria, mãe imaculada sem pecado, sustente o nosso combate espiritual contra o pecado, acompanhe-nos neste momento favorável, para que possamos chegar a cantar juntos a exultação da vitória no dia da Páscoa. E, como sinal de querer nos deixar reconciliar com Deus, exceto as lágrimas, que serão em segredo, em público, faremos o gesto da imposição das cinzas sobre a cabeça".
O pontífice, como é habitual, foi o primeiro a receber, do cardeal esloveno Jozef Tomko, as cinzas sobre a cabeça.
Entre as subsequentes "orações dos fiéis", a assembleia invocou a Deus para que ilumine "as mentes dos governantes", torne "clarividentes os legisladores" e dê "coragem para aqueles que se opõem à injustiça", assim como dissipe "as trevas dos semeadores de ódio".
Foto: ©AFP
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Papa no início da Quaresma: ''Peçamos o dom das lágrimas. Os hipócritas não sabem chorar'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU