30 Janeiro 2015
A história não é sempre imparcial em escolher seus heróis. Witold Pilecki não se transformou em herói porque ninguém quis acreditar nele. No entanto, o herói tinha qualidades e méritos. Se tivesse sido dado um pouco mais de atenção a ele quando era hora, mesmo que apenas um oficial britânico dentre aqueles que se depararam com os seus trabalhos o houvesse dado crédito, hoje os livros de história teria elencado o nome deste oficial polonês desconhecido por todos. Dele restam algumas imagens em preto e branco.
A reportagem é de Eva Morletto, publicada por Famiglia Cristiana, 26-01-2015. A tradução é de Ivan Pedro Lazzarotto.
Apesar de uma existência incrível, marcada pela participação em duas guerras mundiais, nas suas raras fotos Pilecki tem um olhar sereno de quem sabe ficar do lado certo. Em alguns clichês endossa a divisão da cavalaria do exército polonês, com honrarias pelos atos heroicos executados durante a guerra 15-18, em outros, o jovem oficial usa o lúgubre uniforme dos prisioneiros dos campos de extermínio.
Witold Pilecki foi a única pessoa que já existiu a se internar voluntariamente em Auschwitz. O objetivo? Organizar a resistência no interior, informar as autoridades polonesas e s aliados do que estava acontecendo no campo de extermínio. Se deixou capturar durante uma das retaliações ordenadas pelos alemães nas estradas de Varsóvia. Foi torturado por alguns dias nos locais da Wehrmacht e depois expedido à Auschwitz. Com coragem e determinação sem limites, Pilecki consegue se infiltrar no interior do campo na ZOW (unidade de informações) para recolher dados a serem transmitidos (por intermédio de civis que trabalhavam com os prisioneiros) à resistência polonesa, que a por sua vez deveriam repassar ao governo inglês. Já em 1941 o “relatório Pilecki” termina em cima das mesas dos oficiais da Sua Majestade britância. E ali permanecem.
O infiltrado falava das câmaras de gás, do zyklon B, dos milhões de mortos, das torturas atrozes e métodos nada humanos. “Exagerado, inacreditável”, foi a sentença. Qualquer pessoa lembra que no ano sucessivo fforam os aviadores da RAF a sobrevoar Auschwitz e outros campos de concentração e a enviar a Londres fotos aéreas dos locais. Mas essas imagens também não foram levadas na devida consideração dos altos comandos dos aliados. Se Pilecki, ouos pilotos da RAF, tivessem tido crédito, a Europa teria evitado milhares de mortes.
No interior do campo, o oficial infiltrado coloca em prática alguns planos inacreditáveis: com outros prisioneiros cúmplices, recuperou várias partes metálicas e consegue construir e colocar em funcionamento um radio transmissor, o qual é escondido no local onde os SS se recusavam ir: no hospital, lotado de prisioneiros portadores de doenças contagiosas. O rádio transmite por um tempo, em horários distintos, até que é descoberto. Exatamente no hospital, Pilecki e os seus se recuperam das pulgas dos corpos dos doentes de tifo e encontram o modo de fazê-las voar nos limites dos SS. Para muitas guardas alemãs isso foi fatal. Mas aquilo que de mais espetacular o oficial polonês consegue organizar foi a própria fuga da prisão. Trabalhando na padaria do campo, ele e quatro dos seus amigos fizeram um molde das chaves com farinha de pão, limaram as peças de metal para obter as mesmas formas e fugiram durante a noite.
Alguns vestiam roupas civis sob os uniformes de prisioneiros, um deles, inacreditavelmente, pintou listras vermelhas nas próprias vestes civis com tinta a base de água e passou sem ser percebido. Uma vez fora do campo, o prisioneiro limpou a cor vermelha nas águas do Vístula. Era 27 de abril de 1943. Uma vez fora da prisão, Pilecki confirmou que os britânicos ignoraram suas informações e que, para a resistência polonesa, atacar Auschwitz-Birkenau era uma ação suicida. O seu imenso sacrifício não serviu para nada.
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Pilecki, a Luz que penetrou Auschwitz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU