29 Julho 2007
A polêmica em torno da construção das usinas do Rio Madeira continua. O presidente da Ong Amigos da Terra, Roberto Smeraldi, disse que “o IBAMA nunca recusa uma licença, o que confirma a escassa credibilidade do processo e resulta em sua constante judiciarização. Licenças como esta, com estudos sobre parcela insignificante da área de impacto, aumentam a incerteza, com projetos sem data para acabar e sem orçamento certo. Foi assim em todas as grandes obras da Amazônia, sem exceção, mas ainda se assume que o contribuinte vai pagar a conta. Quando em 2015 se esperará pela energia do Madeira, alguém vai dizer que a culpa é do ‘meio ambiente’”.
A IHU On-Line entrevistou Smeraldi, por e-mail. Nela, Smeraldi fala das discussões feitas no encontro que reuniu entidades que lutam contra a instalação das usinas do Rio Madeira em Guajará-Mirim (RO). Ele relata, ainda, os impactos das usinas para o Rio, para população ribeirinha e para a Bolívia, país vizinho por onde o Madeira também passa. Para ele, por detrás dessa aprovação da construção das usinas do Rio Madeira, há “Muito dinheiro do contribuinte...”.
Roberto Smeraldi é jornalista e diretor da entidade Amigos da Terra – Amazônia Brasileira. Ele coordena também o site www.amazonia.org.br e assessora instituições brasileiras e internacionais, como o Banco Mundial, a agências das Nações Unidas e o Ministério do Meio Ambiente.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Quais são as principais estratégias de ação frente à decisão do governo de liberar a construção das Usinas do Rio Madeira que devem ser discutidas no evento que acontece em Guarajá-Mirim?
Roberto Smeraldi – As ações previstas são todas aquelas que puderem gerar transparência no debate em relação a essa decisão do governo. O fato de o governo ter dado a licença, apesar de ser questionável legalmente, está ajudando a discutir os verdadeiros problemas do projeto, que são de cunho econômico e que até recentemente não se discutiam por conta do foco no tema das licenças.
IHU On-Line - A licença do governo prevê a construção das usinas na parte brasileira do Rio Madeira. Quais são os principais impactos que o rio sofrerá aqui e na Bolívia?
Roberto Smeraldi – Os principais impactos são decorrentes mais das eclusas do que das usinas em si. Esses impactos dizem respeito à expansão da fronteira do desmatamento em toda a região de abrangência. Isso diz respeito ao Brasil e à Bolívia. Depois, há outros inúmeros impactos, mas este é o principal. Já no caso do Peru, os problemas irão acontecer apenas mais no futuro, quando se realizarem outras barragens complementares para navegar também no Rio Madre de Dios.
IHU On-Line - O que o senhor acredita realmente estar em jogo em relação à construção dessas usinas?
Roberto Smeraldi – Muito dinheiro do contribuinte...
IHU On-Line - Há quem diga que as Usinas do Rio Madeira são uma alternativa muito melhor do que trazer a energia nuclear para o Brasil. Como o senhor vê essas questões?
Roberto Smeraldi – Elas gerariam uma energia um pouco mais barata que a energia do nuclear, que é ainda mais cara. Mas ambas as opções são muito mais caras em relação às alternativas que já possuímos. Podemos ter uma energia bem mais barata e rápida a partir de aproveitamento do bagaço, do repotenciamento das usinas existentes e da redução de perdas na distribuição. Só essas três coisas podem nos dar 15 mil mw, equivalentes a três complexos do Rio Madeira, mais baratos e ainda antes de o Madeira funcionar.
IHU On-Line - Qual seria a melhor forma de distribuir energia para todos sem que isso "mexesse" com nosso meio ambiente?
Roberto Smeraldi – Todos os tipos de energia mexem com o meio ambiente... A maneira mais inteligente de reduzir impactos é investir em eficiência energética para ter o mesmo produto com três ou até seis vezes menos geração de energia.
IHU On-Line – Qual é sua análise do PAC no que diz respeito à liberação da construção dessas usinas?
Roberto Smeraldi – O PAC é o que a Ministra Dilma Roussef disse: “uma injeção de dinheiro público na veia”. Só que ela não disse na veia de quem. E esse “quem” são as empreiteiras, pouco tendo a ver com desenvolvimento do País.
IHU On-Line - Quais são as principais implicações sociopolíticas que essas usinas ocasionarão à região?
Roberto Smeraldi – Socialmente, a necessidade de atender mais de cem mil pessoas e dar saúde, educação, segurança, justiça etc. a elas. Politicamente, mais gente votando em Rondônia e em uns novos municípios a serem sustentados. A mesma coisa que aconteceu com Tucuruí, Breu Branco e nos novos repartimentos nos entornos de Tucuruí... Lá temos mais de 200 mil pessoas...
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"Por trás do projeto das usinas do Rio Madeira há muito dinheiro do contribuinte". Entrevista especial com Roberto Smeraldi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU