10 Mai 2010
Quem faz parte da classe média brasileira? Essa é uma das perguntas que o professor Amaury de Souza responde, na entrevista a seguir, que ele concedeu, por e-mail, à IHU On-Line. Para Souza, existem duas classes médias no país: uma mais tradicional e outra emergente. As mudanças ocorridas nesse grupo, nos últimos anos, geraram transformações nas classes ditas mais baixas também. Segundo o pesquisador, hoje “as classes D e E também se aproximaram muito mais da classe média (A/B) em termos de consumo de bens e serviços”.
O professor faz uma análise das mudanças que “as classes” brasileiras têm vivido nos últimos anos e traça um breve perfil dessa nova classe média. “Com a redução da desigualdade de renda, generalizam-se os padrões de consumo da classe média tradicional para praticamente toda a população. Generalizam-se também valores de classe média, como a dedicação ao trabalho, a ambição de ascender socialmente, a aspiração a uma escolaridade mais alta e o respeito ao mérito e ao desempenho individual”, apontou.
Amaury de Souza é cientista político e pesquisador do Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo e doutor em Ciência Política pelo Massachusetts Institute (EUA). É autor de A classe média brasileira (São Paulo, Ed. Campus, 2010).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Quem faz parte da classe média brasileira?
Amaury Souza – São reconhecidas duas classes médias no Brasil. A primeira é a classe média tradicional que é composta pelas classes A e B, com renda mensal superior a R$4.800. A outra é a classe média emergente, também chamada de classe média baixa, que corresponde à classe C e recebe entre R$1.160 e R$4.800 por mês. No entanto, dependendo do que se quer saber, é importante utilizar-se também critério como educação e nível ocupacional ou até mesmo a autoidentificação de classe (isto é, se a pessoa considera ser de classe média ou não).
IHU On-Line – Quais as principais mudanças que as classes D e E viveram nos últimos anos?
Amaury Souza – A principal mudança foi o seu encolhimento em virtude da ascensão social de seus integrantes para classes de renda mais alta, como a C. As classes D e E também se aproximaram muito mais da classe média (A/B) em termos de consumo de bens e serviços.
IHU On-Line – O que isso muda na vida do brasileiro em geral?
Amaury Souza – Com a redução da desigualdade de renda, generalizam-se os padrões de consumo da classe média tradicional para praticamente toda a população. Generalizam-se também valores de classe média, como a dedicação ao trabalho, a ambição de ascender socialmente, a aspiração a uma escolaridade mais alta e o respeito ao mérito e ao desempenho individual.
IHU On-Line – Em que sentido se dá a desconfiança das classes mais baixas nas organizações sociais?
Amaury Souza – Nas classes mais baixas, a confiança está restrita aos familiares e alguns poucos vizinhos ou colegas de trabalho. Essa desconfiança em relação a tudo que se encontra fora do âmbito da família e da vizinhança contamina as atitudes das pessoas mais pobres em relação a organizações sociais ou de outra natureza.
IHU On-Line – Qual a representatividade da igreja na vida da classe média brasileira?
Amaury Souza – A Igreja Católica é a principal referência religiosa na vida da classe média tradicional, acompanhada pelos espíritas e protestantes. Da classe média baixa (C) até os mais pobres (E), aumenta significativamente o número de evangélicos. É também grande o número de pessoas que declaram não ter religião ou não acreditar em Deus.
IHU On-Line – Qual o nível de confiança nas mídias?
Amaury Souza – Via de regra, ainda é alto o nível de confiança na mídia, especialmente na televisão.
IHU On-Line – Como a violência mudou a vida da classe média?
Amaury Souza – A violência mudou a vida de praticamente todos os brasileiros, e não apenas da classe média. De fato, a vitimização é muito maior nas classes de renda mais baixas do que na classe média. As reações à violência também não variam muito entre as classes: as pessoas saem menos à noite, concentram o lazer em shopping centers e tentam proteger o domicílio com maior iluminação, alarmes, redes elétricas ou, dependendo do nível de renda, com a contratação de segurança privada.
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As classes médias do Brasil. Entrevista especial com Amaury de Souza - Instituto Humanitas Unisinos - IHU