12 Outubro 2009
Manuel Torres Calderón é jornalista do jornal de opinião El Inventario. Vivendo em Honduras, Calderón nos relata a situação atual a partir do conflito que vive o país. Ele também fala sobre a presença de Zelaya na Embaixada brasileira e do papel que Obama pode ter nesse contexto. “Este é um conflito em uma área de influência geopolítica dominante dos Estados Unidos. Seu papel é decisivo, e se o golpe não for revertido é porque não tentaram a fundo”, apontou Calderón, que acha importante diferenciar os princípios de Obama para a política exterior dos EUA do que chama de “velhos” princípios “de outros poderes em Washington”.
Calderón acredita que seja provável que, com esta situação colocada pelo golpismo, milhares de hondurenhos migrem para o “norte” do continente, pois, o “impacto é forte na área econômica e social, permitindo antecipar que a repressão política trará a repressão econômica”, afirmou.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como cidadão, como você se sente em relação à situação em Honduras?
Manuel Torres Calderón – É uma mistura de sentimentos. De um lado, a rebeldia mostrada por amplos setores da sociedade civil dá esperanças de mudança, de resistência e luta frente ao autoritarismo e às injustiças, mas, ao mesmo tempo, o comportamento repressivo dos grupos políticos, empresariais e militares de poder, sua cegueira ante as demandas de equidade e justiça confirmam que é possível reverter o golpe de Estado a curto ou médio prazo, mas reverter o “golpismo” – cuja essência é o modelo neoliberal – custará muitos sacrifícios mais.
IHU On-Line – Há uma pressão internacional sobre Micheletti. Que influencias esta pressão pode ter sobre o resultado deste conflito?
Manuel Torres Calderón – Acredito que a principal conquista é ter limitado a repressão do Golpe. A repressão existe, mas, de alguma maneira, é monitorada. Assim, a gestão da comunidade internacional intimida os golpistas para que não cometam maiores violações aos direitos humanos.
IHU On-Line – Micheletti pode vir a invadir a Embaixada do Brasil? Como o povo reagirá, caso isso aconteça?
Manuel Torres Calderón – Não duvido que houve intenções do governo atual de entrar na Embaixada, mas, rapidamente, deram-se conta de que seria um erro que lhes custaria muito caro. Em todo caso, a agressão à Embaixada e aos seus moradores existe uma vez que há o cerco policial que empregou medidas muito repressivas, como a arma sônica que experimentaram.
IHU On-Line – A intervenção dos Estados Unidos é necessária?
Manuel Torres Calderón – Este é um conflito em uma área de influência geopolítica dominante dos Estados Unidos. Seu papel é decisivo, e se o golpe não for revertido é porque não tentaram a fundo. É necessário distinguir, possivelmente, entre os “novos” princípios que Obama tem exposto para sua política exterior e os “velhos” princípios – claramente vigentes – de outros poderes em Washington.
IHU On-Line – E qual é sua opinião para o que chamam de “silêncio de Obama”?
Manuel Torres Calderón – Creio, dando seguimento à resposta anterior, que Obama não percebe que o conflito hondurenho é uma prova imposta pela América Latina, e não pelos “chavistas”, como quer fazer acreditar a direita, assim como os poderes mais conservadores do continente. Se o golpe hondurenho triunfa, trará maior instabilidade à região, começando pela área da América Central.
IHU On-Line – Como Honduras está sentindo o impacto do isolamento?
Manuel Torres Calderón – O impacto é forte na área econômica e social, permitindo antecipar que a repressão política trará a repressão econômica. O eventual êxodo de milhares de hondurenhos para o “norte” é uma circunstância muito provável. Assim ocorreu em 1999 após o impacto do furacão Mitch e o fracasso de converter aquela tragédia em uma oportunidade para a transformação nacional.
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Honduras: O papel dos EUA é decisivo. Entrevista especial com Manuel Torres Calderón - Instituto Humanitas Unisinos - IHU