13 Dezembro 2025
As mulheres foram sistematicamente esquecidas na interpretação bíblica durante séculos. Essa é a conclusão do importante projeto internacional de pesquisa "A Bíblia e as Mulheres", concluído após 16 anos. A série de 21 volumes reconstrói, pela primeira vez, a interpretação de textos bíblicos por mulheres, desde o judaísmo primitivo até o século XXI. Mais de 300 pesquisadoras de 30 países colaboraram no projeto, coordenado a partir de Graz. O projeto preenche uma lacuna crucial, afirmou a biblista Irmtraud Fischer, radicada em Graz. "Durante séculos, só tivemos metade da história", disse a idealizadora do projeto. Mulheres que interpretaram as tradições bíblicas de forma independente foram apagadas da memória cultural. "Esse apagamento foi e é sistemático." Os homens foram estabelecidos como a norma, enquanto as mulheres aparecem como um "segundo sexo".
A informação é publicada por Katholisch, 12-12-2025.
A apresentação geral demonstra que a teologia cristã tem sido consistentemente moldada por uma norma masculina. As vozes femininas foram desvalorizadas, integradas a interpretações masculinas ou excluídas como heréticas. Como resultado, muitas exegetas, místicas e pensadoras permaneceram invisíveis. Fischer inclui entre elas Christine de Pizan, cuja Cidade das Mulheres só foi redescoberta muito mais tarde, bem como as místicas Marta Fiascaris e Domenica da Paradiso, cujas interpretações nunca foram incorporadas ao cânone oficial da tradição. Ao trazer essas mulheres à luz novamente, o projeto revela como muitas delas argumentaram contra interpretações misóginas e como suas vozes foram consistentemente marginalizadas.
Pouca resposta na igreja
Apesar da extensa documentação, Fischer observa pouco impacto até o momento na Igreja e na teologia. A exegese feminista ainda é considerada uma disciplina marginal. "Será que realmente conquistamos algo na Igreja? Não sei", disse ela. Sobre o apelo do Papa Francisco por uma "nova teologia das mulheres", a teóloga afirma: "Não precisamos de uma nova teologia. As bibliotecas já estão repletas de vozes femininas e publicações de pesquisadoras. Basta lê-las."
A teóloga expressou preocupação com a crescente influência de círculos conservadores e de direita na interpretação bíblica. Ela observou que modelos tradicionais, que confinam as mulheres a um papel doméstico ou submisso, estão ganhando força, particularmente nas redes sociais. Influenciadoras, como as "Tradwives", fazem referência a citações bíblicas e "mulheres bíblicas", disseminando interpretações simplificadas e seletivas. "Estamos testemunhando um ressurgimento da interpretação da Bíblia pela nova direita, como já acontecia no século XIX", afirmou Fischer. Tais modelos frequentemente se baseiam em textos como Provérbios 31, o "Elogio da mulher virtuosa", ignorando as descobertas de décadas de pesquisa. "A Bíblia está sendo usada contra a liberdade das mulheres", enfatizou a teóloga.
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