18 Julho 2025
Motoristas relatam cenas de terror durante ações de criminosos
A reportagem é de Gustavo Kaye, publicada por Agenda do Poder, 16-07-2025.
A escalada da violência armada no Rio de Janeiro tem impactado diretamente o transporte público da cidade. De acordo com dados divulgados pelo sindicato Rio Ônibus, o número de rotas de ônibus desviadas por causa de confrontos cresceu 349% em 2025. Até 15 de julho, 355 linhas foram obrigadas a alterar seus trajetos para evitar regiões sob tiroteio ou controle de facções criminosas. No mesmo período de 2024, esse número havia sido de 79.
Além dos desvios de rota, outro dado alarmante expõe o grau de vulnerabilidade do transporte coletivo: 83 ônibus já foram tomados por criminosos desde o início do ano, muitos usados como barricadas em meio a confrontos com as forças de segurança. O número representa um aumento de 6,5% em relação a 2024, quando foram registrados 78 casos. Em 2023, houve 93 ocorrências do tipo.
Os motoristas das linhas afetadas têm relatado situações de extremo risco. Em uma das ações mais recentes, na comunidade da Serrinha, na Zona Norte, criminosos atravessaram caçambas de lixo nas ruas e atearam fogo em barricadas improvisadas. Um grupo chegou a lançar pedras contra policiais, que reagiram com bombas de efeito moral.
A comunidade é dominada por Wallace Brito Trindade, conhecido como “Lacoste”, apontado como líder do tráfico local. Durante o conflito, ônibus foram parados e os motoristas coagidos por homens encapuzados.
“Foi um momento de tensão. Veio um pessoal encapuzado tocando o terror. Mandaram eu atravessar o carro na pista, sabe? Todo mundo correndo, os passageiros descendo, tudo apavorado. Aí atravessaram os carros na pista”, relatou um dos motoristas, sob condição de anonimato.
Outro profissional descreveu o momento em que teve o veículo tomado: “Tiraram a gente do volante, quebraram a chave na ignição. Tanto que o ônibus não conseguia mais ligar. Só sei que foi uma cena de terror, parecia que eu estava numa guerra”.
Os sucessivos desvios e interrupções não apenas colocam em risco os trabalhadores do transporte coletivo, mas também afetam milhares de passageiros que dependem diariamente dos ônibus para circular pela cidade. Regiões inteiras têm enfrentado paralisações ou alterações repentinas nas rotas, especialmente em áreas onde o controle territorial de milícias ou facções se intensificou.
Para o Rio Ônibus, o cenário é crítico e exige ações coordenadas entre as autoridades de segurança pública e o poder municipal. O sindicato reforça que, em muitos casos, os desvios são medidas preventivas adotadas para proteger vidas — tanto dos passageiros quanto dos funcionários das empresas.