29 Março 2024
"Todas as cidades litorâneas, especialmente a cidade do Rio de Janeiro, seriam afetadas por este processo. Se o aquecimento global não for interrompido e se o consequente aumento do nível dos oceanos não for abrandado, então pode ser o começo do fim da viabilidade econômica da Barra da Tijuca e outras praias do Brasil", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em Demografia, em artigo publicado por Ecodebate, 27-03-2024.
O nível médio global do mar subiu impressionante 0,76 cm entre 2022 e 2023. Esse salto significativo é decorrência do aquecimento global e do fenômeno El Niño.
A análise da agência espacial dos Estados Unidos (NASA) se baseia em 30 anos de observações por satélite, iniciadas em 1993.
O gráfico abaixo mostra que o nível dos oceanos aumentou 9,4 cm entre 1993 e 2023, com um aumento médio de 0,3 cm ao ano, sendo que na última década o aumento estava em 0,42 cm. Com as taxas atuais de aceleração estima-se que outros 20 cm serão acrescentados ao nível médio global do mar até 2050.
Reprodução: EcoDebate
O relatório “Estado do Clima Global 2023”, da Organização Meteorológica Mundial (OMM), divulgado em março de 2024, mostra que 2023 foi o ano mais quente da história e muitos outros recordes foram quebrados: níveis sem precedentes de gases com efeito de estufa, temperaturas recordes da superfície da terra, acidificação dos oceanos, queda da cobertura de gelo marinho na Antártida, no Ártico e na Groenlândia e um aumento surpreendente do nível do mar.
O gráfico abaixo, do relatório da OMM, mostra que no decênio entre janeiro de 1993 e dezembro de 2002 o nível médio do mar subiu 2,13 mm por ano. No decênio seguinte, entre janeiro de 2023 a dezembro de 2012 o nível do mar subiu 3,33 mm por ano e entre janeiro de 2014 e dezembro de 2023 o nível do mar subiu em média 4,77 mm por ano, mais de duas vezes o que ocorria na última década do século XX. Neste cenário, fica evidente que a subida de 0,76 cm entre 2022 e 2023 é um valor sem precedentes e que agrava o quadro de inundação das áreas costeiras.
Reprodução: EcoDebate
Como escrevi no artigo “O fim da Barra da Tijuca?” (Alves, 5/10/2016), as praias do Rio de Janeiro e da maioria das cidades do planeta correm o risco de serem varridas do mapa. Este processo pode ser socialmente grave na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que é a maior e mais complexa aglomeração urbana da zona costeira brasileira, com mais de 12 milhões de habitantes. De todas as zonas ameaçadas, a Barra da Tijuca e arredores é, entre os grandes bairros da Cidade Maravilhosa, uma área muito vulnerável ao avanço do nível do mar e às inundações provocadas por ressacas, chuvas e tempestades.
Todas as cidades litorâneas, especialmente a cidade do Rio de Janeiro, seriam afetadas por este processo. Se o aquecimento global não for interrompido e se o consequente aumento do nível dos oceanos não for abrandado, então pode ser o começo do fim da viabilidade econômica da Barra da Tijuca e outras praias do Brasil.
O mundo está ficando mais quente e com as águas salgadas ocupando as areias das praias cercadas pela urbanização.
ALVES, JED. O fim da Barra da Tijuca? Ecodebate, 5/10/2016
https://www.ecodebate.com.br/2016/10/05/o-fim-da-barra-da-tijuca-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
NASA Analysis Sees Spike in 2023 Global Sea Level Due to El Niño, March 21, 2024
https://www.jpl.nasa.gov/news/nasa-analysis-sees-spike-in-2023-global-sea-level-due-to-el-nino
WMO. State of the Global Climate 2023, WMO-No. 1347, March 2024
https://library.wmo.int/idurl/4/68835
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Aumento do nível do mar bate recorde em 2023: mundo mais quente e sem praias. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU